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Peru decreta três dias de luto por morte de Fujimori; ex-presidente passou seus últimos anos na prisão

12/09/2024 06h46

O Peru decretou nesta quinta-feira (12) três dias de luto nacional após a morte de seu ex-presidente, Alberto Fujimori, que governou o país com mão de ferro entre 1990 e 2000 e passou os últimos anos de sua vida na prisão por corrupção e crimes contra a humanidade. Ele será enterrado no sábado (14).

Um funeral de Estado será reservado ao ex-líder, que morreu quarta-feira (11) em Lima, aos 86 anos. Fujimori receberá as "honras fúnebres correspondentes a um presidente em exercício", de acordo com um decreto assinado pela Chefe de Estado Dina Boluarte.

"Depois de uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de sair ao encontro do Senhor. Pedimos aos que o amaram que nos acompanhem em oração pelo descanso eterno de sua alma. Obrigado por tudo pai!", anunciou seus filhos Keiko, Hiro, Sachie e Kenji Fujimori.

A filha mais velha de Fujimori, Keiko, anunciou mais tarde que um velório seria realizado a partir de quinta-feira no Museu Nacional de Lima, dizendo que o enterro de seu pai aconteceria no sábado.

"Receberemos todos que quiserem se despedir pessoalmente", disse ela no X.

 A Presidência da República confirmou "a triste notícia", apresentando as "sinceras condolências à família". "Descanse em paz", concluiu a declaração presidencial.

"Vamos coordenar com a família para saber a sua vontade em relação ao funeral do ex-presidente", disse o chefe da Casa Civil do Peru.

Libertado por "razões humanitárias"

Fujimori passou os últimos anos 16 anos de sua vida entre hospitais e a prisão de Barbadillo, nos subúrbios de Lima.

O prédio com jardim foi construído para ele em um terreno pertencente à polícia peruana. Desde 2009, cumpria pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e oito anos por corrupção.

Ele poderia ter acabado sua vida em detenção, se não tivesse sido libertado em dezembro de 2023 por ordem do Tribunal Constitucional, "por razões humanitárias", antes de ter cumprido toda a pena e contra a avaliação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que considerou a decisão como um símbolo de impunidade.

Os crimes contra a humanidade pelos quais foi preso, diziam respeito principalmente a dois massacres de civis cometidos por um esquadrão do exército como parte da luta contra as guerrilhas maoistas do Sendeiro Luminoso no início da década de 1990.

Filho de imigrantes tornou-se presidente

Filho de modestos imigrantes japoneses, Alberto Fujimori surpreendeu ao vencer as eleições presidenciais de 1990 contra o famoso escritor peruano e ganhador do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa.

Em plena hiperinflação e crise econômica, apresentou-se como o "presidente dos pobres e dos excluídos". Rapidamente implementou uma série de medidas econômicas ultraliberais: o "Fujichoque", marcado por uma grande onda de privatizações.

Pouco menos de dois anos após a sua eleição, Alberto Fujimori dissolveu o Congresso e assumiu um rumo autoritário. Ele iniciou uma política de repressão aos guerrilheiros do Sendero Luminoso, que levou à derrota da organização terrorista de extrema esquerda.

A repressão conduzida pelo governo Fujimori foi bem vista, inicialmente, por alguns peruanos. Mas a ação contra os membros das guerrilhas foi acompanhada por numerosas execuções sumárias, esterilizações forçadas e corrupção generalizada.

O conflito interno resultou em quase 70 mil mortos e desaparecidos. Além disso, mais de 270 mil mulheres e 25 mil homens, muitas vezes pobres, analfabetos e oriundos de povos indígenas da Amazônia e dos Andes, foram esterilizados à força entre 1996 e 2000.

Alberto Fujimori seria posteriormente considerado culpado de ter ordenado o assassinato de 25 pessoas durante massacres realizados no início da década de 1990 pelo grupo Colina, um esquadrão da morte do Exército peruano.

A fuga

No entanto, não foram as violações dos direitos humanos, mas sim um caso de suborno que acabou por provocar a queda de Alberto Fujimori. Ele fugiu para o Japão em 2000 e foi preso cinco anos depois no Chile, de onde esperava tentar retornar à política. Extraditado para o Peru, foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção.

No final de 2017, o presidente Pedro Pablo Kuczynski, atolado no escândalo de corrupção da Odebrecht, concedeu-lhe o indulto presidencial por motivos "humanitários" e acabou renunciando poucos meses depois, para evitar o impeachment. O indulto concedido a Fujimori foi cancelado pelos tribunais peruanos, apesar dos recursos interpostos por ele e sua família, depois restabelecido em 2023. Esta última reviravolta permitiu ao ex-presidente sair da prisão antes do final da sua pena.

O ex-presidente apelidado de "El Chino" (o chinês), que dividiu profundamente o país, foi diagnosticado em maio com um tumor maligno na língua. Em 2018, Fujimori tornou público o diagnóstico de um tumor pulmonar.Seu estado de saúde se deteriorou rapidamente nos últimos dias.

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