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Venezuela: Espanha concede asilo a opositor em meio a tensões entre Caracas e Brasília

08/09/2024 03h57

O opositor venezuelano, Edmundo Gonzalez Urrutia, processado após contestar a reeleição do chefe de Estado Nicolás Maduro em 28 de julho, quando também foi candidato, embarcou na noite de sábado (7) para a Espanha, país que lhe concedeu asilo. A partida do opositor acontece em meio às tensões entre Brasília e Caracas sobre a embaixada da Argentina. No sábado (7), o governo venezuelano revogou a autorização dada ao Brasil para representar o país.

"A seu pedido, Edmundo Gonzalez voa para Espanha em um avião da Força Aérea Espanhola. O governo espanhol está empenhado em respeitar os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos", disse o ministro Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, nas redes sociais.

Gonzales Urrutia, que vivia na clandestinidade há mais de um mês, estava sujeito a um mandado de detenção desde 3 de setembro por não ter comparecido a três citações do Ministério Público por "desobediência às leis", "conspiração, "usurpação de funções" e "sabotagem". A oposição e observadores internacionais questionam a independência da justiça.

O país latino-americano mergulhou numa crise política desde as eleições que reelegeram Nicolás Maduro para um terceiro mandato de seis anos, uma vitória contestada pela oposição.

As autoridades venezuelanas anunciaram no sábado (7) que emitiram um salvo-conduto ao opositor "no interesse da paz" no país.

"Depois de se refugiar voluntariamente na Embaixada da Espanha em Caracas, há alguns dias, ele solicitou asilo político ao governo espanhol", escreveu a vice-presidente Delcy Rodriguez nas redes sociais. "A Venezuela concedeu o salvo-conduto necessário no interesse da paz e da tranquilidade política no país", disse ela.

O advogado de Gonzalez Urrutia, José Vicente Haro, confirmou sua partida para a Espanha. Segundo fonte próxima à oposição, ele deixou a Venezuela com sua esposa, Mercedes.

O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, anunciou que fará "declarações importantes", na manhã de domingo.

Tensão com o Brasil

A saída de Gonzalez Urrutia acontece em meio ao impasse de sábado entre Caracas e Brasília em torno da residência da embaixada argentina, onde seis executivos da oposição se refugiaram desde março.

Caracas revogou "imediatamente" a autorização dada ao Brasil para representar a Argentina no país e, em particular, para gerir a residência da embaixada.

As autoridades venezuelanas garantem ter "provas" da "utilização da missão para o planejamento de ações terroristas" e de tentativas de assassinato do Presidente Maduro por parte dos seis opositores.

Brasília respondeu rapidamente afirmando que o país continuará a defender os interesses argentinos até que outro estado seja nomeado para fazê-lo. O Itamaraty lembrou imediatamente a Caracas "a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina". Se as autoridades venezuelanas entrassem na residência da embaixada argentina, seria uma violação do tratado de Viena. Um precedente já ocorreu em Quito em abril passado, quando a polícia equatoriana forçou a entrada na embaixada mexicana.

Em 29 de julho, a Venezuela rompeu relações diplomáticas com sete países latino-americanos, incluindo a Argentina, que não reconheceu a contestada reeleição de Maduro.

A oposição venezuelana denunciou na manhã deste sábado o "cerco" à residência, onde, segundo ela, a eletricidade foi cortada. Desde sexta-feira (6) à noite, o local está cercado pelas forças de segurança.

Vitória contestada e crise

Nicolás Maduro, cuja vitória foi validada pelo Supremo Tribunal no dia 22 de agosto, foi proclamado vencedor com 52% dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não tornou públicas as atas das assembleias de voto, alegando ter sido vítima de pirataria informática.

Mas o ataque informático é considerado pouco provável pela oposição e por muitos observadores, que o veem como uma manobra do governo para evitar a divulgação da contagem exata. Segundo a oposição, que publicou as atas fornecidas por seus mesários, Gonzalez Urrutia obteve mais de 60% dos votos.

Os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos não reconhecem a reeleição de Maduro. Uma grande parte da comunidade internacional já não tinha reconhecido a sua reeleição em 2018, após uma votação boicotada pela oposição que acusou fraude.

Após o anúncio de sua reeleição, em 28 de julho, manifestações espontâneas eclodiram em todo o país. A repressão aos protestos deixou 27 mortos e 192 feridos, enquanto cerca de 2.400 pessoas foram presas, segundo fontes oficiais.

(RFI e AFP)

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