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Brasil garante bronze no futebol para cegos nos Jogos Paralímpicos de Paris: "o sonho do hexa só foi adiado"

07/09/2024 15h22

Neste sábado (7) chuvoso em Paris, o estádio da torre Eiffel ficou lotado para assistir à disputa da medalha de bronze no futebol para cegos dos Jogos Paralímpicos de 2024. O Brasil entrou em campo de verde, contra a Colômbia de amarelo, para tentar um lugar no pódio, após a derrota para a Argentina, nas semifinais, na quinta-feira (5).

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris 

Os brasileiros, que já foram pentacampeões, não sabiam o que era perder desde que essa modalidade entrou nos Jogos Paralímpicos. Recuperados do trauma, garantiram o bronze por 1 a 0.  Neste esporte exclusivo para cegos ou deficientes visuais, que faz parte do calendário Paralímpico desde Atenas 2004, as partidas acontecem em uma quadra de futsal adaptada.

Cada esquipe tem cinco jogadores, que usam uma venda nos olhos que não pode ser tocada, sob risco de falta. Somente o goleiro tem visão total e pode ter participado de jogos da FIFA nos últimos cinco anos.  

O Brasil começou atacando e pressionando o gol colombiano. Aos 4 minutos, um escanteio adversário não trouxe risco para o goleiro Luan Gonçalves. "Temos muita responsabilidade e é incrível para a gente poder ser os olhos dos atletas dentro de quadra", disse à RFI o goleiro brasileiro.

Além dele, o time do técnico Fabio Vasconcelos, que iniciou a partida, era composto de Tiago Silva, Raimundo Nonato Alves Mendes, Ricardo Steinmetz Alves e Cassio dos Reis Lopes.   

No futebol para cegos, bandas laterais impedem que a bola saia de quadra. As partidas, em dois tempos de 15 minutos, são silenciosas, já que os jogadores precisam ouvir os guizos internos da bola para se orientar em campo.

Um guia (chamador) fica atrás do gol adversário e pode orientar os atletas do seu time para onde chutar.  "A gente segue o barulho da bola e a orientação dos nossos companheiros que enxergam", explica Raimundo Nonato, em entrevista à RFI. "E vamos nos comunicando dentro de campo, pedindo bola", completa. "Foi um jogo muito duro, a gente teve que se desdobrar na marcação porque o time deles é muito forte", avalia.  

As duas equipes tiveram chances de gol, mas não conseguiram marcar. A primeira substituição no time brasileiro aconteceu aos 10 minutos de jogo, com a entrada de Jardel Vieira e de Jeferson Conceição. Houve um pedido de tempo, faltando 3 minutos para o fim da primeira etapa. As duas equipes continuaram com dificuldade de finalização e o primeiro tempo terminou sem gols.  

A torcida só pode se manifestar nos intervalos e na hora do gol, que desta vez demorou. O segundo tempo continuou com os dois times se revezando no ataque. O Brasil teve uma boa chance de marcar aos 3 minutos. Na sequência, foi a vez da Colômbia desafiar o goleiro brasileiro, num dos lances mais arriscados para o Brasil. A chuva deu uma trégua, quando o placar seguia em 0 a 0.  

"A gente não podia voltar sem uma medalha" 

O primeiro gol do Brasil saiu quando faltavam 6min40 de jogo e foi marcado num tiro certeiro de Jeferson Gonçalves Conceição. "Fico feliz por ter feito o gol, feliz pelo resultado. A gente veio para conseguir este bronze hoje, foi um pouco frustrante o resultado da quinta-feira, mas conseguimos esquecer e focar na partida", disse o atacante em entrevista à RFI Brasil.

"A gente não podia voltar para o Brasil sem uma medalha", completa. "Esse favoritismo fica fora de quadra, sabemos da nossa capacidade, mas reconhecemos a evolução dos adversários e a sabíamos que seria uma competição difícil. Estamos com a consciência tranquila", conclui, já pensando no novo ciclo paralímpico para Los Angeles 2028.  

O Brasil teve ainda uma segunda chance de gol, dois minutos depois. O técnico Fabio Vasconcelos fez uma substituição, com a volta de Ricardo Steinmetz Alves. Raimundo Nonato mandou uma bola na trave, pouco antes do fim da partida, encerrada com placar final de 1 a 0 para o Brasil.  

Os brasileiros haviam estreado bem na competição, vencendo a Turquia por 3 a 0 e os donos da casa, a França, pelo mesmo placar. O Brasil ainda empatou em 0 a 0 contra a China, antes de parar diante dos argentinos, por 4 a 3 nos pênaltis.  

Pela primeira vez na história das Paralimpíadas, o Brasil não ficará com o ouro do futebol de cegos, que será disputado entre França e Argentina. O Brasil havia vencido as edições de Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020. 

"A gente trabalhou muito pelo ouro, mas o esporte é assim. A gente entrou com garra, deixou o coração dentro de quadra para conquistar esta medalha para o Brasi", avaliou Jardiel Vieira. "Empenho não faltou, treino não faltou, dedicação não faltou, mas a gente sabia que uma hora isso ia acontecer, é muito difícil ganhar tudo. Mas o importante é que o futebol e cegos está se profissionalizando, o sonho do hexa só foi adiado", conclui o atleta.  

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