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Filha relata 'dor' ao saber que pai convidou 50 estranhos para estuprar a mãe

Caroline (à esq.) é filha de Gisèle Pélicot (centro), vítima de uma série de estupros entre 2011 e 2020 - Christophe Simon/AFP
Caroline (à esq.) é filha de Gisèle Pélicot (centro), vítima de uma série de estupros entre 2011 e 2020 Imagem: Christophe Simon/AFP

06/09/2024 10h11

O meu pai é "sem dúvida um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos", disse nesta sexta-feira (6) a filha de Dominique Pélicot, um homem julgado no sul de França por drogar a sua mulher e chamar dezenas de outros homens para estuprá-la, na residência familiar. A filha do casal, Caroline Darian, de 45 anos, depôs ao tribunal de Avignon nesta manhã.

O meu pai é, sem dúvida, "um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos", disse nesta sexta-feira (6) a filha de Dominique Pélicot, um homem julgado na França por drogar sua mulher e chamar dezenas de outros homens para estuprá-la dentro da própria casa. A filha do casal, Caroline Darian, de 45 anos, depôs ao tribunal de Avignon nesta manhã.

"Como nos reconstruímos quando ficamos sabendo disso?", perguntou. Em seu depoimento, Caroline contou como foi o dia em que soube dos crimes que agora chocam a França.

"Naquele dia 2 de novembro de 2020, às 20h35, minha vida virou de cabeça para baixo", explicou ela, ao lembrar do momento em que a mãe ligou para ela para informar sobre o que a polícia de Carpentras acabara de descobrir sobre o seu pai.

"Minha mãe me disse: 'Passei boa parte do dia na delegacia. Seu pai estava me drogando para me estuprar com estranhos'. Tive que ver fotos'", relatou.

Caroline publicou um livro, "E eu parei de te chamar de pai", sob um pseudônimo que adotou como nome. O lançamento aconteceu em meio ao escândalo que transformou sua vida e a descoberta de que o pai recrutava dezenas de homens pela internet para violentar sua mãe, adormecida pelo efeito de calmantes.

'Dor que não desejo a ninguém'

A filha foi ouvida durante cerca de 20 minutos pelo Tribunal Criminal de Vaucluse, onde o seu pai e outros 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos, são julgados desde segunda-feira. Dezoito deles estão detidos e os demais comparecem em liberdade ao julgamento, que deve durar quatro meses.

É o que chamamos de ponto de inflexão, o início de uma lenta descida ao inferno, e você não tem ideia de quão fundo vai chegar. Ligo para meus irmãos, estamos desamparados, choramos, não entendemos o que está acontecendo com a gente. Sentimos dor, uma dor que eu não desejaria a ninguém.
Caroline Darian, emocionada, durante depoimento em Avignon

No dia seguinte, 3 de novembro de 2020, os três filhos se encontram em Carpentras, diante da polícia. "Sempre lembrarei de David, branco, pálido, e meu irmãozinho Florian afundando [em si]", descreveu a filha, ao contar o momento em que um policial disse-lhes que o número de agressores de sua mãe era estimado "entre 30 e 50".

22 estupradores não foram identificados

No final da investigação, 72 homens foram identificados — de 92 estupros registrados em vídeos — como autores de abusos da mulher de Gisèle Pélicot, hoje com 71 anos. Destes, apenas 50 foram formalmente reconhecidos e respondem à Justiça. Gisèle foi drogada com ansiolíticos pelo seu marido entre julho de 2011 e outubro de 2020.

Os perfis dos agressores eram variados: operário, bombeiro, enfermeiro, empresário ou jornalista, solteiro, casado ou divorciado, muitas vezes pais. Todos podem ser condenados a penas de até 20 anos de prisão.

Naquele dia 3 de novembro de 2020, a polícia mostrou a Caroline duas fotos de uma mulher nua, aparentemente dormindo: "Vemos as nádegas dela, de perto. Ela está dormindo em posição fetal. Não a reconheço", recorda-se a filha do casal Pélicot.

O investigador pede para ela olhar melhor: "Senhora, não é você que tem uma mancha na bochecha direita?".

"Descobri que meu pai me fotografou, sem meu conhecimento, nua. Por quê?", pergunta a filha, agora convencida de que o pai também a drogou.

No passado, Dominique Pélicot já tinha sido indiciado por homicídio acompanhado de estupro em Paris, em 1991, crime que sempre negou, e por tentativa de estupro em Seine-et-Marne, em 1999 — uma acusação que ele reconheceu depois que o seu DNA foi identificado, durante as investigações.

(Com AFP)

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