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Exército israelense se retira da Cisjordânia e Jenin tenta retomar vida normal

06/09/2024 11h51

O Exército israelense retirou-se nesta sexta-feira (6) da cidade de Jenin, depois de uma vasta operação "antiterrorista" na Cisjordânia ocupada, e continua a sua ofensiva na Faixa de Gaza. A incursão militar durou nove dias na Cisjordânia, onde a violência explodiu desde 7 de outubro e o início da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas.

A operação foi lançada em 28 de agosto no norte do território ocupado por Israel desde 1967, onde os grupos armados que lutam contra a ocupação são especialmente ativos.

Os ataques, regulares na Cisjordânia, mas que raramente atingiram tal escala, concentraram-se em Jenin e arredores e foram acompanhados por uma destruição significativa, segundo testemunhas e jornalistas da AFP.

De acordo com os residentes, os soldados retiraram-se da cidade e do seu campo de refugiados durante a noite. "Até agora, 14 terroristas foram eliminados e mais de 30 suspeitos foram detidos" em Jenin, afirmou o Exército israelense, em um comunicado nesta sexta-feira -  sem anunciar o fim da operação.

De acordo com o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina, um total de 36 palestinos com idades entre 13 e 82 anos foram mortos pelo Exército israelense no norte da Cisjordânia desde 28 de agosto. O Exército anunciou, por sua vez, que um dos seus soldados havia perdido a vida, em 31 de agosto.

Onda de destruição

Em meio aos escombros, os moradores de Jenin tentavam retomar as suas vidas na manhã desta sexta-feira. Um pesado silêncio pairava sobre o campo de refugiados da cidade, antes que as pessoas que fugiram dos combates dos últimos dias começassem a voltar.

Os jornalistas da AFP conseguiram chegar ao campo, uma verdadeira cidade, sem serem bloqueados por militares. No local, escavadeiras militares destruíram o asfalto das ruas e fachadas de prédios.

Enquanto alguns moradores se sentavam em cadeiras de plástico em frente às suas casas danificadas, escavadoras trabalhavam para limpar os escombros e as brincadeiras das crianças recomeçavam nas ruas.

Centenas de residentes dos campos de refugiados assistiram aos funerais dos mortos durante a operação, transportando os corpos em procissões marcadas por cantos e tiros.

O ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir (extrema direita), indicou, em uma mensagem na rede social X, ter pedido ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que "outras organizações terroristas" na Cisjordânia também sejam um dos objetivos da guerra em Gaza.

Desde o início do conflito, a violência entre os palestinos, de um lado, e o Exército israelense e os colonos, de outro, intensificaram-se na Cisjordânia. Pelo menos 661 palestinos e 23 israelenses foram mortos na região, segundo o Ministério da Saúde palestino e dados oficiais israelenses.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, disse que o líder supremo do Irã, o aiatolá Khamenei, queria "armar a Judéia e a Samaria (Cisjordânia) como Gaza".

Ao mesmo tempo, o Exército israelense continua a sua ofensiva na Faixa de Gaza, onde a Defesa Civil reportou feridos no bombardeio de uma casa em Bureij, no centro do território.

Acordo de cessar-fogo

Nesta quinta-feira, os Estados Unidos pediram para Israel e o Hamas finalizarem um acordo de cessar-fogo em Gaza, enquanto ambos os lados se acusavam mutuamente de atrapalhar as negociações. Ao lado do Catar e do Egito, os Estados Unidos, principais aliados de Israel, têm mediado há meses um acordo entre os dois lados.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, confirmou que 90% do texto está pronto. Por sua vez, Khalil al-Haya, membro do gabinete político do Hamas com sede no Catar, disse que se os Estados Unidos "realmente" quisessem alcançar uma trégua, deveriam "abandonar o seu preconceito cego pela ocupação sionista e exercer pressão real em Netanyahu".

Durante uma visita a Israel, a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, também apelou por um "cessar-fogo agora", dizendo que a "abordagem puramente militar" não oferecia uma solução para a guerra.

As operações israelenses, que provocaram uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza, deixaram 40.878 mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que não detalha o número de civis e combatentes mortos. Segundo a ONU, a maioria dos mortos são mulheres e crianças.

Descoberta de corpos de reféns acentuou pressão

Desde o anúncio, no domingo, da descoberta em Gaza dos corpos de seis reféns israelenses, mortos "à queima-roupa" pelo Hamas, segundo o Exército israelense, Netanyahu tem estado sob forte pressão para chegar a um acordo que permita a libertação dos reféns que permanecem detidos pelo Hamas.

Mas o primeiro-ministro continua inflexível e mantém a promessa de aniquilar o grupo armado palestino, que tomou o poder em Gaza em 2007 e é considerado um movimento terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia.

Entre os pontos críticos para um acordo, está o desejo de Netanyahu de manter o controle israelense sobre o Corredor de Filadélfia, uma zona tampão ao longo da fronteira entre Gaza e o Egito, para evitar que o Hamas traga armas para o território palestino ou retire reféns ou alguns de seus seus combatentes para o Egito, através de túneis.

"Nenhum acordo está sendo negociado", declarou Netanyahu ao canal americano Fox News.

Já o Hamas insiste na aplicação, tal como está, de um plano anunciado em 31 de maio pelo presidente americano Joe Biden, que prevê uma trégua de seis semanas acompanhada de uma retirada parcial de Israel e a libertação de reféns e, em última análise, uma retirada total de Israel do território.

Com informações da AFP

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