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Relatório preliminar mostrará histórico de avião da Voepass que caiu em agosto

05/09/2024 17h37

Por Luciana Magalhaes e Allison Lampert e Gabriel Araujo

SÃO PAULO (Reuters) - Novos detalhes dos últimos minutos do avião da companhia aérea Voepass que caiu em agosto serão revelados na sexta-feira em um relatório preliminar, quando investigadores analisarão possíveis fatores que contribuíram para o acidente, como formação de gelo e manutenção da aeronave.

O relatório do Centro de Investigação de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) deve mostrar o histórico do voo do ATR 72-500 que, em 9 de agosto, matou 62 pessoas ao cair em Vinhedo (SP), disseram especialistas da indústria.

O relatório final da investigação sobre as causas da tragédia pode ser divulgado um ano após a queda do avião, que saiu do Paraná e tinha Guarulhos (SP) como destino.

Especialistas citaram formação de gelo sobre as asas da aeronave como um fator que pode ter contribuído para a queda do avião. Alertas de gelo foram emitidos naquele dia na região entre Paraná e São Paulo. Uma inspeção no equipamento de degelo da aeronave, realizada em 8 de agosto e à qual a Reuters teve acesso, não mostrou problemas no dispositivo.

O Aviation Herald, um meio de comunicação especializado em segurança aérea, informou que o avião turboélice tinha voltado a voar um mês antes do acidente após sofrer danos na cauda — um evento denominado “tail strike” — em março.

O ATR-72 tem um histórico de casos nos quais os pilotos perderam o controle da aeronave por causa da formação de gelo, incluindo um avião que entrou em “estol” (perda de sustentação), em 2016, na Noruega. Nesse caso, o piloto conseguiu retomar o controle do avião. Em 2010, gelo e erro dos pilotos causaram a queda do voo 883 da Aero Caribbean, resultando na morte de 68 pessoas em Cuba.

O gravador de dados do voo pode indicar se o sistema de degelo do avião estava ligado, afirmou Greg Feith, ex-investigador do órgão norte-americano National Transportation Safety Board que participou da investigação sobre a queda de um ATR-72 no Estado norte-americano de Indiana, em 1994.

O gravador também pode indicar a presença de alertas ligados à formação de gelo e à velocidade que pode provocar estol, disse Eder Luiz Oliveira, que ensina manutenção de aeronaves na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

INVESTIGANDO CANCELAMENTOS  

De acordo com dados da FlightAware, apenas dois dos 190 voos de ATR 72 no Brasil em 9 de agosto foram cancelados, ambos pela Voepass, a quarta maior companhia aérea do país. Pelo menos 13 diferentes modelos da aeronave decolaram e pousaram na mesma região onde ocorreu o acidente.

Apesar do alerta de gelo, um piloto de ATR da companhia aérea Azul afirmou que os comandantes não foram avisados para evitar a região em 9 de agosto, mas tomaram precauções por conta própria.    

Os modelos ATR geralmente possuem alças infláveis de borracha para quebrar o gelo acumulado sobre as asas.

As condições do tempo e do gelo devem ser discutidas em uma audiência em comissão do Congresso Nacional. Estão convidados para ela executivos de importantes companhias aéreas, investigadores e representantes da fabricante ATR, uma joint venture entre a europeia Airbus e a italiana Leonardo.  

“Numa consulta investigativa da Câmara dos Deputados nós já estamos vendo que o congelamento é um problema para essa aeronave. Vamos investigar também quantos aviões passaram naquela rota e em quanto tempo”, afirmou o deputado federal Nelsinho Padovani (União-PR), um dos principais membros da comissão.

A Voepass disse, em comunicado, que os sistemas do ATR 72-500 estavam totalmente operacionais, e também que a empresa segue todas as regulações do setor.

O Cenipa se negou a comentar sobre o caso antes da apresentação do relatório preliminar.

A queda do ATR em agosto chamou a atenção do mundo após os últimos momentos da aeronave — que segundo imagens publicadas em redes sociais caiu praticamente na vertical em parafuso.

Três policiais que trabalharam na identificação dos corpos das vítimas deram informações sobre o que possivelmente ocorreu nos últimos momentos do voo. Os passageiros estavam abraçados em suas pernas, como se estivessem se preparando para uma emergência. Uma mãe abraçava o seu filho.

O avião despencou do céu sem nenhum movimento para a frente, danificando levemente uma casa no condomínio onde caiu, afirmou à Reuters Mauricio Freire, chefe do instituto de identificação de São Paulo.

“Foi a primeira vez que eu vi um avião cair assim. Ele não deslizou, caiu ali, naquele lugar”, disse.

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