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Escritor suíço apaixonado pelo Brasil lança livro sobre tio-avô que explorou o mundo no século 20

04/09/2024 13h48

O escritor e jornalista Patrick Straumann lançou o livro "L'Homme en mouvement" ("O homem em movimento", em tradução livre, mas sem versão para o português), no qual o autor relata as andanças da vida do tio-avô Paul (1905-1995), personagem que se aventurou por todos os continentes no século passado. A partir dos relatos de família, que mais pareciam lendas sobre o parente viajante, Patrick decidiu pesquisar a fundo e confirmar os eventos da vida do irmão de seu avô. 

Suíço de nascimento, francês por escolha e brasileiro de coração, Patrick Straumann é poliglota, mas confessa que a Língua Portuguesa é uma das que considera mais bonitas e que o Brasil é a sua escolha preferida para passeios em família desde 1992, quando visitou pela primeira vez o país de sua esposa e de seu filho, nascido em Paris. 

O escritor se considera um amante de viagens, mas não ousa se comparar ao tio-avô Paul (nascido com sobrenome Reichstein, mais tarde transformado em Ritchie), cuja vida conduz a obra biográfica que acaba de publicar pela editora Compagnie, na França. "Uma amiga descobriu o livro e me escreveu 'eu senti um laço de família'. Eu fiquei muito feliz, mas não, a minha vida é totalmente diferente da dele, apesar de eu gostar muito de viajar sobretudo no Brasil", conta Patrick.

Straumann destaca que mesmo com as possibilidades de conhecer outros países na América do Sul ou outros continentes, acaba sempre por escolher alguma cidade brasileira para desbravar ou repetir a experiência. "O tempo que eu passo no Brasil todos os anos é muito importante", diz. 

As cartas do tio-avô viajante 

O personagem do livro também passou pelo país de eleição do autor. Segundo Patrick, as particularidades da visita do tio-avô ao Brasil foram descobertas através de uma carta emocionante na qual Paul relatou ao seu irmão mais velho os momentos de um reencontro com um amigo de infância suíço em São Paulo.

"Depois ele fez uma viagem e atravessou o Mato Grosso a cavalo. Eu adorei essa história porque tem esse contraste entre a liberdade total dele de pegar um cavalo e conhecer essa região imensa e, do outro lado, o irmão, que tem uma boa vida, uma boa carreira, mas que fica preso em um escritório na Suíça", compara. 

Em uma crítica sobre o livro, o jornal francês Le Monde traz uma curiosidade: o irmão mais velho e apoiador inabalável de Paul, o "Tadzik" da Basileia, Tadeusz Reichstein (1897-1996) foi ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia de 1950 por seu trabalho sobre cortisona e vitamina C. Os irmãos eram de família polonesa-judaica estabelecida na Suíça.  

Os detalhes minuciosos de cada página, que fazem o leitor viajar o mundo com Paul através da percepção de seu sobrinho-neto, quase 30 anos depois de sua morte, só foram possíveis graças às correspondências e cartões postais que Paul enviava aos familiares com frequência. Além de pesquisas de arquivos e registros documentais que Patrick Straumann conseguiu levantar junto aos órgãos que tinham informações sobre Paul.

"As cartas me deram os detalhes da vida dele, que dão o sabor e a veracidade ao texto (...) Dá para sentir como esse homem viveu no século passado, dá para fazer entender como a vida era no século 20. Era muito importante para mim poder dar os detalhes da vida dele para o leitor poder se projetar nessa vida que era tão diferente da nossa", explica o jornalista. 

A lenda se torna realidade

"Ele (Paul) era um mito na minha família. Tirando meu avô, para os outros, como ele passou quase a vida inteira em outros continentes fora da Europa, ele não era muito conhecido. A família projetava muitas coisas em cima da vida dele, o que aumentou a fama dele. Quando eu comecei a conhecer mais a vida dele através das cartas, eu vi que quase tudo era verdade, era verídico. As viagens de navio, a família que ele tinha na Rússia. Eu descobri muita coisa também através de arquivos da Cruz Vermelha. Eu fiz muita pesquisa da vida dele justamente porque tinha esse mito na família, mas eu não queria contar um mito, queria me basear na realidade. Eu fiquei aliviado de ver que o mito tinha base real", releva Patrick. 

Além das aventuras na América do Sul, na Oceania e de ter servido nos Estados Unidos, Paul chegou casar e ter um filho na Rússia durante o governo comunista de Josef Stalin e foi até banido do território da antiga URSS, ficando mais de duas décadas sem ver a família que construiu quando trabalhou em uma fábrica na região da Sibéria.

A contradição da vida do homem em movimento

Apesar de ser sempre um homem em movimento, o jornalista acredita que Paul manteve suas raízes e o contato com suas origens. E foi justamente esta "contradição" da vida do tio-avô que o instigou ainda mais a contar a história biográfica. "De um lado, ele ficou completamente ligado à família, sobretudo à casa familiar que ficava em Zurique. Do outro lado, ele fez tudo para fugir da Suíça". 

Paul relatava quase tudo nas cartas que enviava aos parentes e até pedidos de ajuda financeira para conseguir viajar ou sair de alguma situação complicada e tinha apoio da família em suas aventuras "sobretudo do irmão mais velho", destaca Patrick.

O autor acredita que apesar de não expressar muito, percebeu ao reler as cartas que seu tio-avô buscou ter uma vida familiar "normal". "A partir de 1945 e nos anos 1960 ele sempre tentou restabelecer um contato e eu acho que a vida inteira ele ficou nesse desejo de ter uma vida de família, mas sabendo que isso não era possível", analisa.

O livro de Patrick Straumann será apresentado ao público na livraria Compagnie localizada no 5° distrito de Paris, na sexta-feira, dia 6 de setembro, às 19h locais, e o jornalista também realizará uma apresentação sobre seu lançamento no dia 17 de outubro na Casa da América Latina.

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