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Apesar do PIB, Bolsa fecha em queda e dólar sobe com dados dos EUA

do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/09/2024 10h22Atualizada em 03/09/2024 17h11

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou nesta terça-feira (3) em baixa, com o Ibovespa caindo 0,41%, a 134.354 pontos. O dólar começou o dia em queda, mas virou o sinal e terminou o dia em alta de 0,48%, indo a R$ 5,641. O dólar turismo fechou a R$ 5,852 (venda).

Dados ruins sobre a economia americana e a queda no preço do minério de ferro na China acabaram puxando para baixo as ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3 e PETR4). A queda só não foi maior por conta da notícia do crescimento do PIB, que segurou o índice.

O que aconteceu

As Bolsas nos EUA foram para o negativo depois que duas leituras da produção industrial no país mostraram sinais de fraqueza. O S&P Global mostrou um declínio de julho a agosto, enquanto o índice do "Institute for Supply Management" ficou abaixo do nível previsto pelos economistas. Isso reacendeu preocupações em torno da desaceleração do crescimento na economia americana — e derrubou os ganhos nas bolsas por lá e aqui também.

O primeiro índice, o de gerentes de compras industrial dos Estados Unidos, da S&P Global, caiu de 49,6 em julho para 47,9 em agosto. Analistas esperavam 48. O segundo, o Índice de Gerentes de Compras do "Institute for Supply Management" teve uma leve alta em agosto, atingindo 47,2 pontos. Mas o resultado ficou abaixo das expectativas do mercado, que previa elevação para 47,5 pontos. Além disso, os investimentos em construção no país mostraram um desempenho negativo em julho, com uma queda de 0,3% em relação ao mês anterior, contrariando as previsões.

Isso afastou os investidores da Bolsa aqui e aumentou a procura pela moeda americana. "Os investidores acabaram indo para ativos de menor risco, ou seja, dólar e ouro", diz Ariane Benedito, economista especialista em mercados de capitais. O Projeto de Lei Orçamentária Anual, detalhado ontem, também desanimou os investidores, segundo ela, pois prevê mais gastos do governo.

Ferro na China

Outra notícia que fez o Ibovespa cair foi a queda do preço do minério de ferro, que teve nesta terça-feira sua maior baixa diária em quase dois anos. Na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), na China, o minério encerrou as negociações do dia com perda de 4,74%, a 703,5 yuans (US$ 98,87) a tonelada, registrando sua maior queda desde 31 de outubro de 2022.

Tudo porque a atividade industrial da China caiu para o menor patamar em seis meses, de acordo com uma pesquisa oficial. E os preços de novos imóveis no país subiram em ritmo mais lento em agosto, já que o setor imobiliário ainda não mostra recuperação após uma série de políticas de apoio.

Mesmo assim, houve um pico nos volumes de embarque de minério de ferro brasileiro para o país. A quantidade saltou 39% em relação à semana anterior, marcando seu maior embarque semanal desde 2019. Com muita oferta de ferro e pouca demanda, os valores desabaram.

E as ações da Vale (VALE3) refletiram isso. "Como ela é uma 'blue chip', acabou pressionando o Ibovespa para baixo", explica Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos. A ação, que tem peso de 11,32% no índice, caiu 3,76%, indo a R$ 56,53, conforme dados preliminares.

E essa patinada da economia chinesa contaminou também os preços do petróleo. O temor de menor demanda pelo país que é um dos maiores consumidores globais do óleo, fez o preço do barril cair — e com eles, baixaram as ações da Petrobras. PETR3 foi para R$ 42,13, com baixa de 1,47% e PETR4 teve desvalorização de 1,05%, atingindo R$ 38,51, conforme dados preliminares. Juntas, as duas ações respondem por 11,86% do Ibovespa.

Crescimento do PIB

Do lado das boas notícias, a economia brasileira cresceu no segundo trimestre de 2024 e isso conteve uma queda maior do Ibovespa. A alta foi de 3,3% em comparação com o mesmo período do ano passado, conforme divulgou nesta terça-feira (3) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em relação aos primeiros três meses deste ano, o PIB nacional avançou 1,4%. Os dois resultados superam as expectativas do mercado financeiro.

O crescimento foi sustentado por investimentos, diversificação industrial e um mercado consumidor robusto. A análise é de Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas) e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, concorda. "A qualidade do PIB mudou. Há um ano ele era puxado pelo agro e commodities (produtos básicos)", diz ele. O agronegócio caiu impactado pelas cheias no Rio Grande do Sul.

Os dados, segundo ele, também mostram um bom crescimento da indústria e de serviços, o que ajuda o país a crescer mais a longo prazo. Também há um impacto positivo na arrecadação, o que diminui um pouco o risco fiscal. Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, destaca como positivo o avanço da construção civil, com crescimento de 14,9%, contra o trimestre anterior. "Vale comentar o avanço das concessões de financiamento imobiliário, como o Minha Casa Minha Vida", diz ela.

Mas porque o PIB não fez o Ibovespa subir?

A atividade econômica em expansão traz temores sobre uma alta da inflação. "O PIB deixa uma dúvida sobre como o Banco Central vai reagir sobre as pressões inflacionárias. E Isso reforça a possibilidade de aumento da Selic, a taxa básica da economia brasileira", diz Álvaro Bandeira, coordenador da Comissão de Economia da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec Brasil). No fim das contas, hoje, os investidores preferiram ativos de maior segurança.

Com informações da Reuters

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