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Série 'El Portal' retrata exploração sexual de migrantes no México

02/09/2024 16h19

Brenda se perguntava quem seria a próxima vítima após uma série de assassinatos de migrantes recrutadas por uma rede de exploração sexual no México. Seu depoimento e o de outras mulheres fazem parte de um documentário que estreia nesta semana na plataforma Netflix.

De nacionalidade argentina, Brenda é uma das centenas de mulheres que chegaram ao México nos últimos anos, especialmente da América do Sul, atraídas por falsas ofertas de emprego como modelos e sem documentos de residência.

Mas, uma vez em território mexicano, elas acabavam escravizadas por uma quadrilha que confiscava seus passaportes e oferecia seus serviços como "scorts" ou acompanhantes na Cidade do México, através do site Zona Divas, de acordo com os depoimentos coletados para a série documental "El Portal".

O drama dessas mulheres se intensificou após o assassinato de quatro venezuelanas e de uma argentina que apareciam na plataforma entre os meses de fevereiro de 2017 e 2018.

A série, que tem quatro capítulos, será lançada globalmente na quinta-feira pela Netflix em parceria com a produtora mexicana Mezcla.

"Queremos que as pessoas vejam as histórias dessas mulheres, o que as levou a isso. Todas vêm de contextos extremamente precários (...) e emigraram para o México em busca de um futuro melhor", disse à AFP Laura Woldenberg, produtora executiva.

Woldenberg esclarece que a série não busca culpados, mas quer evitar que os abusos se repitam e gerar uma reflexão entre os usuários deste tipo de serviço.

Fugindo da pobreza e da violência, centenas de milhares de migrantes atravessam o México a cada ano para chegar aos Estados Unidos. Muitos permanecem temporariamente no território mexicano juntando dinheiro para custear a viagem, incluindo o pagamento aos "coyotes" (traficantes de pessoas).

- Duplamente vulneráveis -

As diretoras da produção, Astrid Rondero e Fernanda Valadez, viajaram para Argentina, Venezuela e Estados Unidos para entrevistar mulheres que escaparam da rede, bem como familiares das jovens assassinadas.

"Por ser uma minoria, ninguém se importa. Como se [dissessem] 'ah, morreu mais uma garota!'", lamenta Brenda no documentário.

As vítimas dessa quadrilha eram em sua maioria sul-americanas em situação irregular e viviam praticamente em cativeiro.

"O que as tornava duplamente vulneráveis como migrantes era também o trabalho sexual. E, claro, há a desconfiança em relação às autoridades mexicanas", aponta Rondero.

Segundo a imprensa local, uma dúzia de pessoas foram investigadas ou detidas por sua relação com o site Zona Divas, que esteve ativo entre 2001 e 2018.

Ignacio Santoyo Cervantes, apelidado de "El Sony", foi detido em 2007 acusado de lenocínio e operações com recursos ilícitos, mas acabou liberado por falta de provas e, segundo a imprensa e organizações civis, estaria em Cuba.

De acordo com essas mesmas fontes a rede estaria ligada a grupos criminosos que controlam o tráfico de drogas na Cidade do México.

Segundo o mais recente relatório da ONU sobre tráfico de pessoas, cerca de uma em cada 100 mil pessoas no mundo era vítima deste crime em 2019, e mais da metade delas de exploração sexual, embora a tendência tenha diminuído com a pandemia.

Na América do Norte, 64% das vítimas de tráfico sexual são mulheres e 27% são meninas, de acordo com este documento, divulgado em 2023.

sem/axm/nn/jb/am

© Agence France-Presse

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