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Bolsa e dólar fecham em baixa após novo leilão do BC

do UOL

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/09/2024 10h09Atualizada em 02/09/2024 17h11

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou esta segunda-feira (2), em baixa, com o Ibovespa caindo 0,81%, a 134.906 pontos. Em dia de feriado nos EUA, os investidores repercutiram o novo leilão de dólares do Banco Central, dados da China e a possibilidade de mais inflação no Brasil causada pela seca histórica.

O dólar comercial terminou o dia caindo 0,33%, indo a R$ 5,614. O dólar turismo estava cotado a R$ 5,840 (venda).

O que aconteceu

Assim como na sexta-feira (30), o BC realizou hoje novo leilão de dólares. O montante foi de até US$ 735 milhões, o valor que restou da venda de sexta, quando foram ofertados US$ 1,5 bilhão. Mas a operação não conseguiu dar força ao real, que, depois de avançar ligeiramente frente ao dólar na abertura, passou cair. No cenário externo, o dólar se manteve estável. A maioria dos investidores espera dados de emprego dos EUA, que serão divulgados na sexta-feira (6).

Por que o BC fez isso?

O BC não divulgou a causa, mas especula-se que o objetivo é mitigar a saída de cerca de US$ 1 bilhão do país. A partir de hoje, ações de algumas companhias brasileiras listadas em Bolsas estrangeiras passam a fazer parte do índice MSCI Brazil, sigla para Morgan Stanley Capital International. Dentre elas estão Nubank, Stone, PagBank e XP. O índice é uma das principais referências para investidores que aplicam em Bolsas de Valores internacionais.

O leilão conteve uma desvalorização do real que poderia ter sido ainda maior. "Na sexta, por exemplo, o dólar estava se valorizando rapidamente em relação a muitas outras moedas", explica André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

Hoje, a moeda americana variou muito pouco frente a outras divisas e isso ajudou o real a subir. "A ideia do leilão não é jogar para baixo o câmbio, mas minimizar a volatilidade (uma subida muito alta) por conta de alguma excepcionalidade", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se à saída de dinheiro que o fundo MSCI poderia provocar.

Feriado nos EUA

Os mercados não abriram em Nova York nesta segunda. Foi feriado do Dia do Trabalho. Com isso, o volume de negociação na Bolsa caiu bastante. Enquanto na sexta ele disparou para R$ 45,8 bilhões, nesta segunda ficou em R$ 12,5 bilhões.

Seca e inflação

Aqui, o temor de alta na inflação afastou os poucos investidores não estavam de folga da Bolsa. O relatório Focus do Banco Central elevou novamente as projeções da inflação e PIB para 2024. A mediana para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 subiu pela sétima semana consecutiva, de 4,25% para 4,26%. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a previsão subiu de 2,43% para 2,46%. Há um mês era de 2,20%.

Esses números podem piorar por conta da seca. O Brasil enfrenta a maior estiagem já vista na sua história recente, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).

Por isso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que voltará com a bandeira vermelha. Ela está sendo acionada pela primeira vez em mais de três anos, e prevê acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Isso vai gerar impacto na inflação, segundo Leonardo Costa, economista da instituição financeira ASA (Alberto Safra). "Esperávamos bandeira amarela no mês, com impacto líquido de mais 35 pontos base na inflação. Mas o impacto será de 46 pontos base. Ainda, há risco de revisão da bandeira (para vermelha 1) por conta de metodologia", diz ele.

A inflação é ruim para Bolsa e para todo mundo. Além da população perder poder de compra, as empresas vendem menos e o faturamento cai. Os juros podem subir mais para tentar conter o preço e as companhias que precisam de financiamento para crescer, pagam mais caro pelo dinheiro emprestado.

China mais lenta

Do oriente, vieram notícias ruins. A atividade industrial da China voltou a encolher. O índice oficial de gerentes de compras (PMI, em inglês) caiu para o menor nível em seis meses, para 49,1. Em julho, o índice ficou em 49,4. "As preocupações com a economia chinesa — que ainda mostra sinais de enfraquecimento — e o feriado nos EUA, reduziram as negociações com o dólar mundialmente", diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresa de ouro e câmbio.

Na Bolsa, o reflexo disso aconteceu com as ações da Vale (VALE3), que tiveram baixa. Conforme dados preliminares, elas fecharam em queda de 1,61%, indo a R$ 58,55, uma vez que a China é o maior cliente da mineradora.

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