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Alunos dos ensinos fundamental e médio da Rússia terão aulas de como usar armas

02/09/2024 10h57

Como em muitos países do hemisfério norte, os estudantes russos voltaram às aulas nesta segunda-feira (2). Em sintonia com a guerra lançada pelo presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia, que já dura dois anos e meio, neste ano letivo, as escolas terão um novo curso: "Fundamentos de segurança e defesa da pátria", que ensina, entre outras coisas, o uso de armas a alunos entre 11 e 17 anos.

Em setembro de 2022, foram implantadas as "Conversas sobre o que é importante", aulas semanais sobre patriotismo. Neste contexto, as vozes mais críticas, especialmente nas universidades, são cada vez menos toleradas.

Professor e ex-soldado, Maxim Pyanikine encarna, até mesmo em seu percurso pessoal, o modelo de "bom cidadão" que a Rússia de Vladimir Putin espera de sua juventude. Ele lutou pelo Exército quando a guerra começou, mas voltou assim que pôde, em setembro de 2022, às aulas na cidade de Pyatniskoe, na região de Belgorod. 

Em sua sala, dedicada ao novo curso de "segurança e defesa da pátria", estão dispostos um uniforme de soldado, equipamento de primeiros socorros em zona de combate, granadas e espingardas.

"É bom para os nossos filhos, porque quando se tornarem jovens adultos, irão para o exército. Pude constatar concretamente que algumas pessoas não sabem segurar uma arma corretamente, nem sabem como abordá-la, muito menos como montá-la, o que você pode fazer com ela e o que não pode", diz o professor e ex-soldado.

"Estas lições servem para explicar comportamentos corretos, regras e restrições que devem ser rigorosamente cumpridas", explica.

Pyanikine diz que o objetivo das aulas não é apenas técnico. "Trata-se de treinar a personalidade da criança. Que ela saiba, desde cedo, que é uma defensora da sua pátria e da sua família. Que tem dentro de si o amor pelo trabalho, mas também a ideia de que, às vezes, é preciso saber fazer a escolha certa. E também ensiná-la qual é a escolha certa: que você não deve virar as costas e ir embora, mas, pelo contrário, intervir e sair vencedor de qualquer situação", diz.

Ameaças a alunos críticos

Quem não aderir poderá ver a sua vida escolar colocada em perigo, é o caso, por exemplo, de um estudante da Universidade de Belgorod. Por razões óbvias de segurança, seu depoimento é anónimo.

Ele conta que no dia 24 de fevereiro de 2022, escreveu em seu canal no Telegram, "Maldita guerra". 

"Durante dois anos nada aconteceu, mas depois eles me encontraram. Capturas de tela (com sua publicação) foram divulgadas com este comentário: 'Vejam o tipo de estudantes que existem em nossa universidade, é hora de dar umas lições de patriotismo a eles'", diz o estudante. 

"Literalmente uma hora depois, fui convocado pelo corpo docente. Fiquei apavorado. Disse aos professores que já tinha mudado de opinião. Eles não foram mais longe, mas hoje estou sob vigilância", testemunha.

Desde esta entrevista, o clima piorou consideravelmente. As regiões de Belgorod fronteiriças com a Ucrânia, Bryansk e Kursk, foram colocadas sob regime antiterrorismo desde julho e no início deste ano letivo, a maioria dos cursos será ministrada remotamente.

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