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Se depender de mim, não se muda mais a meta fiscal, diz Haddad

30/08/2024 20h42

SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira que, após calcular o resultado de suas articulações com o Congresso Nacional, não há, ao seu ver, necessidade de reajustar novamente a meta fiscal para os próximos anos e destacou a estabilidade do arcabouço fiscal.

"Quando eu revi a meta para 2025, 2026 e 2027, eu fiz uma conta do que eu perdi nas brigas com o Congresso e reestimei a curva, tanto da dívida quanto do déficit. Se depender de mim, não muda mais nada, porque já foi reestimado", disse durante evento promovido pela XP, em São Paulo. "No que depender de mim, o arcabouço fiscal está estabilizado e ele tem que ser cumprido."

Anteriormente, a meta para o próximo ano previa superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mas em abril o governo reajustou as metas para 2025, 2026 e 2027. A meta fiscal para 2025 agora visa déficit primário zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos, a mesma deste ano.

Em meio a dificuldades do governo para aprovar medidas no Congresso e ampliar receitas para fechar as contas públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a área econômica do governo, no mês passado, a realizar uma contenção orçamentária de R$15 bi para cumprir o arcabouço fiscal.

PRESIDÊNCIA DO BANCO CENTRAL

O ministro também afirmou no evento que considera seu trabalho muito mais difícil que a chefia do Banco Central e que não se sente atacado por críticas à política fiscal e ao governo.

Haddad foi questionado sobre se o governo errou nas críticas feitas ao Banco Central e ao atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que contribuíram para a volatilidade recente dos ativos brasileiros.

Em sua resposta, Haddad afirmou que falar sobre política monetária "é normal no mundo inteiro".

"Tem um certo tabu em relação à política monetária, como se a política monetária fosse uma coisa técnica e a fiscal não", comentou Haddad, acrescentando que faz parte da democracia a possibilidade de criticar o BC.

Haddad disse ainda que o importante é que haja uma harmonização entre a política monetária, a cargo do BC, e a política fiscal, de responsabilidade do governo.

"Eu acho meu emprego mais difícil que o dele (Campos Neto). Eu quase me indiquei para a Presidência do BC para trocar de cadeira, porque eu acho mais fácil lá", afirmou Haddad.

"Tanto é que tem livro sobre o desafio que é ser ministro da Fazenda, mas nunca vi ninguém reclamar de ser presidente do BC. Aguentar um pouco de crítica, eu acho que faz parte", acrescentou.

Durante sua fala, porém, Haddad reconheceu que a comunicação do governo precisa melhorar. Ele disse que, apesar dos indicadores econômicos estarem melhorando, "tem havido uma deterioração das expectativas".

"Eu entendo que uma parte (disso) acho que é a comunicação do governo, (que) às vezes peca, por detalhe", afirmou Haddad.

"Outra coisa é a transição no BC, porque queira ou não este é o primeiro governo que está passando por duas transições, do (ex-ministro Paulo) Guedes pra mim e do Roberto Campos para o Galípolo, com dois anos de intervalo e com o BC autônomo", afirmou, referindo-se ao atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, indicado para suceder Campos Neto.

Ainda assim, Haddad se disse tranquilo de que em determinado momento os fundamentos da economia "vão falar mais alto que a especulação ou a incerteza que paira no horizonte".

(Reportagem de Fabrício de Castro; reportagem adicional de Victor Borges)

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