Topo
Notícias

Mulheres na Expointer: liderança feminina dinamiza o cooperativismo no agro

Mulher à frente das cooperativas na Expointer - Murilo Matias
Mulher à frente das cooperativas na Expointer Imagem: Murilo Matias
do UOL

Murilo Matias

Colaboração para o UOL, de Esteio (RS)

29/08/2024 14h55

Abertura de novos mercados, resultados financeiros positivos, melhora na comunicação, acesso à tecnologia e atenção a padrões de sustentabilidade. Os impactos advindos da crescente presença e liderança de mulheres em cooperativas do agro têm se refletido em maior dinamismo para o setor, ainda que a disparidade em relação aos homens seja acentuada, sobretudo em cargos diretivos.

Mulheres à frente do agro

Roseli Canzarolli quebrou esse tabu presidindo a Cooperativa dos Agricultores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Coperav) de 2015 a 2021. "Naquele momento existiam somente duas mulheres presidindo cooperativas mistas. Dentro do quadro social conseguimos trabalhar bem no conjunto, mas a presença da mulher ainda é vista com uma certa diminuição de capacidade em relação ao homem, sentia isso em reuniões maiores, envolvendo entidades e outras organizações. Tem-se avançado bastante nesse debate na sociedade, mas ainda temos uma luta grande pela frente", avalia.

A agricultora e médica veterinária ressalta a gestão participativa como um dos trunfos de seus mandatos. A consequência foi o aumento da produtividade e da renda dos cooperados, aliado a boas práticas ambientais, fundamentais para superar situações crises a exemplo da pandemia, quando as operações foram paralisadas. "O diálogo com o coletivo para tomada de decisões permitiu que o projeto crescesse com maior envolvimento das famílias. Moramos em uma área livre de agrotóxicos, aqui é proibido por lei plantar com qualquer tipo de veneno ou adubos químicos. A cooperativa não tem fundo acumulativo, ela é uma ferramenta para comercializar a produção dos sócios", acrescenta.

Ação estratégica. Antes de aumentar o volume de vendas, Janete Schewede precisou quitar dívidas e redefinir estrategicamente a atuação da Cooperativa da Produção dos Agricultores Familiares de Sarandi e Região (Coopafs), que tem uma cesta de produtos que inclui alimentos diversos, grãos, embutidos, sucos, lácteos.

A cooperativa estava quase fechando quando me tornei presidente em 2019. Em quatro anos, pagamos todos os débitos e conseguimos ter capacidade de investimento, renovando a nossa frota, por exemplo. Fiz um balanço para saber onde havia mais segurança e rentabilidade e assim passamos a focar em programas institucionais de compra de alimentos, especialmente o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e participação em feiras para garantir melhor margem para os cooperados.
Janete Schewede, da Coopafs

Com 88 associados, atualmente a organização destaca as vendas já alcançadas nesta edição da Expointer. "Viemos com certo receio diante da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, mas os estoques de muitos membros já terminaram e estamos otimistas com esta retomada".

Novas rotas

Novas frentes de trabalho no agronegócio. Além da inserção em segmentos tradicionais, mulheres estão abrindo frente em modelos de negócio que estão surgindo no agro, o turismo é um deles. É o que conta Iveliza Toledo, presidente da Cooperativa de Turismo de Itati, Três Forquilhas e Terra de Areia (Cootitta). Com um ano e meio de fundação, a cooperativa tem prestado capacitação a agricultores de cidades pequenas do interior na região do Vale do Rio Forquilha a fim de preparar as propriedades para receber visitantes, contando já com 36 associados.

Temos uma paridade de gênero fantástica na diretiva e entre os membros. Há uma janela de oportunidades diante do crescente interesse das pessoas sobre os temas agroecológicos. Já recebemos visitantes de outros estados e países e queremos desenvolver cada vez mais esse turismo de base comunitária.
Iveliza Toledo, presidente da Cootitta

Preparo para receber os turistas. Além de cursos que auxiliam os agricultores na recepção dos convidados e atenção ao paisagismo, são elaborados roteiros de passeios sempre associados à característica do local e a sua produção, com amplo destaque para a experiência gastronômica. "Temos uma plataforma digital e aproveitamos momentos como a Expointer para tornar mais conhecido nosso trabalho. Temos uma longa caminhada pela frente", diz Iveliza citando a presença no Pavilhão da Agricultura Familiar.

Mulheres na Expointer

Mulheres são a maioria. O local, que registra recorde de expositores este ano, tem maioria de mulheres à frente dos negócios, 217 entre os 413 expositores, segundo levantamento da Emater. Além disso, durante a feira algumas pautas destacam o protagonismo feminino no agro, entre as quais o lançamento do livro As mulheres na agroindústria familiar do RS, sublinhando a vertente do empreendedorismo rural em sua segunda edição.

A Organização de Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (OCERGS), presente com amplo escritório, também preparou programação especial com palestras temáticas. "Criamos um comitê para capacitar e aprimorar a liderança e governança das mulheres dentro do cooperativismo. Nossos dados apontam que a incidência feminina em cargos executivos ainda é um desafio para nós", pontua Rafaeli Minuzzi, coordenadora da OCERGS.

O impacto das cooperativas no RS. No estado existem 95 cooperativas agropecuárias, reunindo 270 mil associados e gerando 39 mil empregos, com faturamento superior a R$ 48 bilhões, aproximadamente 8% do Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul.

Notícias