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O que acontece no seu corpo quando você toma café com o estômago vazio

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Imagem: Arte UOL
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Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

28/08/2024 05h30

Depois da água, a bebida mais consumida pelos brasileiros é o café, que tem entre os seus componentes uma substância muito estudada pelos cientistas, a cafeína.

Além de atuar no SNC (sistema nervoso central), ela é capaz de agir nos principais sistemas do organismo, inclusive no gastrointestinal. O consumo moderado dessa substância é seguro para a maioria das pessoas, e isso também é considerado parte de um estilo de vida saudável.

Como cada pessoa reage a seu modo à cafeína, sentir desconforto após o consumo de café com o estômago vazio é uma queixa comum nos consultórios de médicos e nutricionistas. Mas os especialistas garantem: na maior parte das vezes, esse sintoma pode ser controlado.

O consumo máximo de cafeína é de 400 mg ao dia para adultos saudáveis.

Essa quantidade equivale a 450 ml de café coado fraco (6 cafezinhos); 500 ml de instantâneo (7 cafezinhos); 115 ml de café expresso (1 xícara café bem cheia).

Grávidas e lactantes devem limitar-se a um máximo 200 mg ao dia. A orientação é da ACOG (sigla em inglês para o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia).

Os efeitos no seu corpo

Os especialistas consultados explicam que tomar café, por si só, não é capaz de causar algum tipo de dano gastrointestinal.

No entanto, algumas pessoas relatam ter sintomas ao ingerir a bebida com o estômago vazio. Os principais deles são assim descritos:

Desconforto estomacal e/ou sensação de queimação

Urgência de evacuar

Estômago e o esôfago se fazem notar

Cada pessoa metaboliza a cafeína de forma diferente. Isso é determinado geneticamente. Assim, a sua absorção poderá ser mais ou menos lenta e seus efeitos poderão ser sentidos por maior ou menor tempo.

O café está associado à secreção de ácidos gástricos, biliares e pancreáticos. Todos necessários para a digestão dos alimentos.

Quando se toma café, a cafeína naturalmente aumenta a produção de ácido clorídrico e também relaxa o esfíncter inferior, aquela válvula situada na entrada do estômago que impede o refluxo.

Como ainda não está estabelecido entre os pesquisadores a relação entre o desconforto estomacal e a sensação de queimação após a ingestão de café com o estômago vazio, algumas hipóteses buscam explicar essas queixas.

Em pessoas saudáveis, elas geralmente se devam a uma maior sensibilidade do sistema digestório a diversos estímulos, como a secreção ácida provocada pelo café, o que pode se juntar à alta temperatura da bebida, além da concentração e volume de cafeína ingerida.

Como a substância é tida como um dos principais fatores associados ao aumento do ácido estomacal, entre pessoas com diagnóstico de gastrite ou refluxo gastrointestinal (que já possuem a mucosa da região inflamada), as condições já descritas podem provocar dor ou o maior avanço do ácido estomacal em direção à parte superior do esôfago.

Para esse grupo em especial, esse efeito pode ocorrer mesmo com pequenas quantidades da bebida.

Corrida inesperada ao trono

A ação da cafeína no intestino se deve à excreção de hormônios: a gastrina e a colecistoquinina, que estimulam a movimentação intestinal.

O resultado é um efeito laxativo que, quando comparado ao consumo de água é 60% maior e pode colaborar para a redução da constipação. Dados publicados na revista Nutrients.

Embora seja uma ação bastante comum, a maioria das pessoas não apresenta esse sintoma e ainda não está totalmente esclarecido se é mesma a cafeína o componente mais estimulante nesses casos ou outros componentes do café.

Por dentro de cada grão

Grãos de café - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O café torrado é composto por uma mistura complexa de mais de 1.000 componentes bioativos (polifenois, alcaloides, melanoidinas, etc.), sendo os mais importantes a cafeína, os ácidos clorogênico e cafeico, cafestol, kahweol, trigonelina, além do magnésio, potássio e vitamina B3 (niacina).

Esses componentes, juntos, parecem reduzir o estresse oxidativo, e ainda melhoram os níveis na glicose e o metabolismo das gorduras.

O estresse oxidativo surge quando os antioxidantes naturais do corpo não conseguem proteger as células dos danos causados pelos radicais livres.

Embora esses benefícios sejam bastante conhecidos, as evidências científicas hoje disponíveis não são suficientes para que a cafeína seja recomendada para prevenir doenças.

E se for com leite, melhora?

Assim como comer algum alimento junto com o café dilui o efeito da cafeína no estômago, adicionar leite à bebida pode reduzir o desconforto. Mas atenção: se você já possui algum tipo de problema no estômago ou esôfago, esse efeito é apenas momentâneo.

Como o leite pode ser rico em gordura, e também é um grande estimulador da secreção ácida local, e ainda contém proteína e cálcio, o sintoma pode voltar —especialmente entre pessoas com sensibilidade ou intolerância à lactose.

Dicas para driblar o mal-estar

Os especialistas consultados afirmam que apesar do desconforto, na maioria das vezes não é preciso abrir mão do café para evitá-lo. Basta apenas colocar em prática algumas medidas fáceis. Confira:

Evite beber café em jejum. Caso não esteja pronto para uma refeição completa pela manhã, forre o estômago com uma pequena porção de carboidrato.

Observe a quantidade de café que tem ingerido. Se tem exagerado, reconheça seus limites e reduza o consumo.

Experimente tomar café descafeinado, ou mesmo outros tipos dele que contenham menor concentração de cafeína.

Evite calor excessivo. Em vez de tomar um café escaldante, experimente temperaturas mais moderadas.

Fontes: Gustavo Duarte Pimentel, nutricionista clínico com especialização em cuidados nutricionais do paciente e do desportista (Unesp), mestre e doutor em ciências (Unifesp e Unicamp), atua em consultório em São Paulo e Barueri. É autor do livro Café na mesa (Ed. Clube de Autores); Juarez Roberto de Oliveira Vasconcelos, clínico geral e gastroenterologista, médico assistente dos Ambulatórios de Gastroenterologia Geral e Hepatologia do HC-FMRP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP, atua no setor de endoscopia no Hospital Estadual de Serrana (SP); Miguel Angelo Nobre e Souza, médico gastroenterologista, professor associado da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará), chefe da Unidade de Gastroenterologia e Cirurgia Digestiva do hospital universitário da mesma instituição, e que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão técnica: Miguel Angelo Nobre e Souza.

Referências:

Bordeaux, B. Benefits and risks of caffeine and caffeinated beverages. UpToDate 2024 Literature review. 2023. Disponível em https://www.uptodate.com/contents/benefits-and-risks-of-caffeine-and-caffeinated-beverages

Nehlig A. Effects of Coffee on the Gastro-Intestinal Tract: A Narrative Review and Literature Update. Nutrients. 2022. Disponível em https://doi.org/10.3390%2Fnu14020399

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