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Com novo CEO, Vale afasta indicação política e deve manter estratégia atual

Gustavo Pimenta, atual vice-presidente financeiro, vai assumir presidência da Vale - Vale/Divulgação
Gustavo Pimenta, atual vice-presidente financeiro, vai assumir presidência da Vale Imagem: Vale/Divulgação
do UOL

Do UOL, em São Paulo

27/08/2024 12h34

A mineradora Vale anunciou ontem que seu novo CEO será Gustavo Pimenta, atual diretor financeiro da empresa. Pimenta substituirá Eduardo Bartolomeo, atualmente no cargo. O anúncio afastou a possibilidade de interferência política no comando da empresa. Também deve significar a manutenção da rota atual da companhia. Entenda a seguir como a decisão foi recebida e o que esperar da Vale agora.

Como o novo nome foi recebido?

A decisão foi vista como positiva pelo mercado, que temia a possibilidade de indicação política para o comando da empresa. "Mais uma vez, a governança da Vale prevaleceu em meio a tentativas de interferência política (segundo relatos da mídia), o que acreditamos ser tranquilizador", disse o BTG Pactual em relatório.

Anúncio veio antes que o esperado. Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, avalia que, além de afastar a possibilidade de uma indicação política, o anúncio foi positivo, pois veio antes do previsto. A expectativa era de que o nome do novo CEO fosse anunciado apenas no final do ano. "O anúncio veio bem antes do que o mercado esperava, e elimina essa incerteza de forma antecipada", disse em nota.

Lula considerou indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o cargo. O ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, chegou a abordar acionistas da mineradora em favor de Mantega, mas o nome não foi bem recebido. O governo desistiu da indicação.

Em 2023, a remuneração anual do CEO da Vale foi de R$ 52,6 milhões. Isso equivale a um salário mensal da ordem de R$ 4,3 milhões. Em 2022 a remuneração foi maior, de R$ 59,9 milhões. Desse total, 70% é remuneração variável e está relacionada a metas de curto e longo prazo.

O que esperar da Vale agora?

Negociação sobre o desastre de Mariana deve ter solução em breve. Em relatório, o BTG Pactual disse que, com a decisão sobre o CEO, a incerteza mais relevante para a Vale no momento é a renegociação das obrigações da mineradora no desastre de Mariana. A expectativa do BTG é de que o tema tenha uma solução nas próximas semanas.

Substituição interna acelera negociações com o governo. Para o Itaú BBA, o nome de Pimenta favorece as negociações em curso. Além do acordo sobre Mariana, a mineradora também precisa de um acordo com o governo para renovar suas concessões ferroviárias, diz o banco.

Esses acordos têm potencial para atrair mais investidores para a Vale. Para o banco, a resolução desses pontos tem potencial para reduzir a diferença de valor de mercado da Vale frente a suas rivais australianas.

A estratégia da empresa deve seguir a mesma. O banco destacou que na gestão de Eduardo Bartolomeo a mineradora reforçou seus modelos de gerenciamento de risco e estabilizou seus sistemas de produção. Também distribuiu a maior parte da geração de caixa, em forma de dividendos ou recompra de ações. A avaliação do Itaú BBA é de que "uma mudança na estratégia da Vale no curto prazo é improvável".

Gestão de Bartolomeo foi marcada pelo enxugamento da Vale. Ilan Arbeitman, analista da Ativa, lembra que o atual CEO vendeu diversas participações minoritárias da empresa. Diz também que a Vale produz hoje menos do que produzia antes.

O preço do minério de ferro tem caído no mundo. Um dos fatores é o tamanho do apetite da China. com a queda da demanda vinda do país. A expectativa é que, com Pimenta, a mesma leitura do mercado se mantenha, diz.

Todos os players estão tentando entender qual vai ser o apetite da China no futuro. Hoje, o volume de produção da Vale é aquém dos cerca de 400 milhões de toneladas que ela fazia pré-Brumadinho. A leitura do mercado é que menos é mais.
Ilan Arbeitman, analista da Ativa

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