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Trinta anos da perigosa rota para as Ilhas Canárias que já levou milhares de migrantes à Europa

27/08/2024 14h51

Em 28 de agosto de 1994, dois saharauis foram os primeiros imigrantes irregulares registrados a desembarcar nas Canárias vindos da África. Desde então, mais de 200.000 chegaram à Espanha por esta perigosa rota, navegando centenas de quilômetros em embarcações precárias.

O trigésimo aniversário da abertura da chamada rota canária coincide com uma visita do presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, à Mauritânia, Gâmbia e Senegal, países de onde partem muitos dos imigrantes.

Sánchez tentará fazer com que esses países contenham as saídas, após um aumento expressivo no número de chegadas às Canárias, um arquipélago atlântico situado em frente à costa noroeste do continente africano, que atingiu um recorde histórico de 39.910 migrantes em 2023.

Mas o número pode ser superado já neste ano: mais de 22.000 migrantes já haviam chegado às ilhas até meados de agosto, mais do que o dobro do mesmo período de 2023.

A visita de Sánchez ocorre em um momento em que a Mauritânia abriga cerca de 200.000 refugiados vítimas da instabilidade no Sahel, incluindo muitos malineses, potenciais candidatos a sair em direção às Canárias, segundo uma fonte espanhola.

- A crise dos cayucos -

De acordo com dados fornecidos pelo Ministério do Interior à AFP, desde 2006 chegaram às Canárias 186.811 imigrantes, mas segundo relatórios anteriores desse ministério, pelo menos mais 30.000 chegaram entre 1994 e 2006, totalizando, portanto, mais de 200.000.

Tudo começou em 28 de agosto de 1994, quando dois saharauis chegaram em uma pequena embarcação de madeira à ilha de Fuerteventura para solicitar asilo político.

Desde então, a rota foi se tornando cada vez mais usada até 2006, ano da chamada crise dos cayucos devido à explosão de chegadas de africanos subsaarianos em tais embarcações. Foram registradas 31.678 entradas em 2024, um recorde superado apenas por 2023.

Ao "embarcar" em um cayuco, o primeiro sentimento é "o medo de morrer", lembrou à AFP o senegalês Younousse Diop, que desembarcou nas Canárias durante a crise de 2006.

A viagem de onze dias "foi um grande inferno", com "dias e noites difíceis", disse Diop, que fez a travessia com apenas 13 anos.

Acordos entre a Espanha e países como Senegal e Mauritânia para deportar seus cidadãos e o desembolso de ajudas em troca de deter as saídas fizeram com que a rota canária diminuísse, até o final da década de 2010 e, principalmente, início de 2020, quando voltou a ganhar destaque diante do endurecimento dos controles no Mediterrâneo.

- Uma rota mortal - 

A rota canária, que envolve longos trajetos em embarcações instáveis desde Marrocos ou o Saara Ocidental, a cerca de 100 km, mas também desde Mauritânia, Senegal ou até Gâmbia, a cerca de 1.000 km, é muito mortal.

Durante a travessia, os cayucos ficam à mercê das fortes correntes, que provocam naufrágios ou fazem com que alguns sigam sem alcançar as Canárias e acabem no Brasil ou na República Dominicana, com todos os ocupantes mortos, como ocorreu em meses recentes.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), pelo menos 4.857 pessoas morreram ou desapareceram na rota canária desde 2014.

Um número que a Caminando Fronteras, uma ONG espanhola que auxilia embarcações em perigo, eleva para 18.680 pessoas desde janeiro de 2018.

O aumento das chegadas sobrecarregou as autoridades das Canárias, especialmente com relação a menores não acompanhados, que, ao contrário dos adultos, são de responsabilidade exclusiva das regiões.

O presidente regional canário, Fernando Clavijo, pediu diretamente à União Europeia que cumpra com suas responsabilidades, considerando que parte dos imigrantes não fica na Espanha, mas segue para outros países europeus.

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© Agence France-Presse

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