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Brasil precisa cortar emissões em 92% até 2035, diz Observatório do Clima

17.ago.2016 - Área de queimada e pasto em Rondônia, próxima à capital Porto Velho - Rogério Assis/Greenpeace
17.ago.2016 - Área de queimada e pasto em Rondônia, próxima à capital Porto Velho Imagem: Rogério Assis/Greenpeace
do UOL

de Ecoa, com informações da Agência Brasil

27/08/2024 13h57

Um estudo da rede Observatório do Clima aponta que o Brasil precisa reduzir em 92% as emissões de gases do efeito estufa até 2035 para contribuir de forma justa com a proposta de limitar em 1,5ºC o aquecimento global. O valor se baseia nas emissões de 2005, que foram de 2,44 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente.

Na prática, a proposta é limitar a emissão a 200 milhões de toneladas líquidas.

O estudo considerou qual a carga de gases do efeito estufa que a atmosfera ainda suporta para manter o aumento da temperatura global em 1,5ºC e a participação do país nas emissões globais considerando a mudança no uso da terra promovida em seu território.

"É um cálculo para a necessidade do que o planeta precisa. É um cálculo feito entre o que seria justo, contando o histórico do Brasil de colocar [metas] em uma NDC, e também o que é possível a gente fazer olhando para o que nós precisamos de esforço para manter 1,5ºC", explica Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

O percentual foi apresentado nesta segunda-feira (26) pela entidade na terceira contribuição para a proposta de meta climática que será apresentada pelo país durante a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), em Belém, em 2025. O Observatório do Clima foi a primeira iniciativa da sociedade civil a contribuir, em 2015, com estudos para subsidiar as ambições climáticas brasileiras, tendo contribuído novamente em 2020.

Como parte do Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, será necessário apresentar até fevereiro de 2025, a NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada, na sigla em inglês). A proposta deverá avançar em relação ao Balanço Global (Global Stocktake, GST) que reuniu informações sobre a resposta do mundo à crise climática e foi apresentado na COP28, em Dubai, no ano passado.

O Brasil é o sexto maior emissor de gases do efeito estufa e, em 2023, apresentou uma NDC que estipulava teto para emissão de 1,3 bilhão de toneladas líquidas, em 2025, com redução de 48,4% em comparação com 2005. E, em 2030, limita as emissões a 1,2 bilhão de toneladas líquidas, avançando a 53,1% do que era emitido em 2005.

A soma das metas apresentadas por todos os países signatários do Acordo de Paris ainda não garante a ambição global de manter a elevação climática nos patamares atuais e levaria o planeta a um aquecimento de 3ºC acima da temperatura do período pré-industrial.

"Nós estamos fazendo uma NDC para as pessoas que perderam as suas casas na enchente do Rio Grande do Sul, para as pessoas que estão sofrendo com as queimadas agora no Brasil, para as pessoas que estão mais vulneráveis a ondas de calor. Nós estamos mostrando que há um caminho para o país de fazer uma entrega que seja compatível com a gente frear o aumento desses extremos climáticos", afirmou Astrini.

Para atingir a meta proposta pelo Observatório do Clima, os pesquisadores que contribuíram com o estudo apontam para a necessidade de o país alcançar outras ambições como o desmatamento zero até 2030, a recuperação de 21 milhões de hectares de vegetação nativa, o combate à degradação e aumento da proteção de seus biomas, as transições energéticas e à prática de agropecuária de baixa emissão, além de uma gestão adequada dos resíduos no país.

De acordo com Astrini, o objetivo é levar o estudo aos locais onde o debate é desenvolvido de maneira técnica e de modo a pressionar gestores públicos. "Dentro e fora do governo a gente vai levar esses números para provar que é possível ter mais ambição", conclui.

Origem das emissões

Todas as atividades do ser humano emitem gases do efeito estufa na atmosfera. Globalmente, 73% das emissões vêm da queima de combustíveis fósseis. No Brasil, o agro é responsável por 75% das emissões, explica Alexandre Araújo Costa, cientista do Clima, professor titular do mestrado em climatologia da Uece (Universidade Estadual do Ceará).

A maior parte disso vem da modificação do uso do solo, ou seja, do desmatamento de biomas florestais para substituição por pastos e plantações. A derrubada das matas altera as emissões porque as árvores e plantas nativas são capazes de capturar e acumular gases.

Outra parte importante vem da liberação de metano através dos rebanhos de animais ruminantes, principalmente do gado bovino, durante a fermentação entérica, processo digestivo popularmente conhecido como o "arroto do boi". Com 234,4 milhões de cabeças de gado no país, isso corresponde a cerca de 398 milhões de toneladas de CO2-equivalente provenientes da fermentação entérica.

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