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Análise: Marçal não é fenômeno esperado para acontecer em eleição municipal

do UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/08/2024 05h30

O candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB-SP) não é fenômeno esperado para acontecer em eleição municipal, onde se deve discutir temas de zeladoria urbana e que não sejam controversos nem polêmicos, explicou o professor da USP (Universidade de São Paulo) Pablo Ortellado em entrevista no UOL News 2ª Edição de quinta-feira (22).

Após cobertura na mídia e debates, Pablo Marçal ultrapassou Ricardo Nunes (MDB-SP) e lidera com folga entre eleitores de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas apostando em valores bolsonaristas para disparar entre eleitores de direita, publicou a Folha de S.Paulo. Entretanto, Bolsonaro iniciou ofensiva contra Marçal, o que também pode ajudar sua projeção nacional.

Marçal já era um fenômeno, uma pessoa muito conhecida com número grande de seguidores. Ele é uma personalidade da internet, do empreendedorismo e um pedaço do mundo evangélico. De maneira muito estratégica e bem-sucedida, pode converter essa popularidade que ele já tinha em votos. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

É uma mistura de capital que ele tinha juntado na sua vida de empreendedor e influenciador digital com a performance muito chocante: o debate da Band, foi baixa, mas foi muito eficiente. Infelizmente, é uma armadilha que a gente já viu em Bolsonaro em 2018, no Trump em 2016, que você tem uma performance muito chocante. Você ter um candidato muito anti-Estado e muito chocante gera uma espécie de armadilha na cobertura dos meios de comunicação. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

Se por um lado você ignora parece que você está sendo condescendente com um fenômeno que é virulento, baixo, vil; por outro lado, se você comenta você amplifica o alcance e é um alcance que reverbera no público em um momento de indignação, de descrédito com as instituições. É muito difícil lidar com esse fenômeno e não é esperado acontecer em eleição municipal. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

Ortellado explica o que se espera geralmente em uma eleição para eleger cargos executivos municipais e de vereança:

Eleição municipal normalmente é uma eleição que se entende que é mais voltado para o cotidiano, para a zeladoria urbana, para temas não controversos, polêmicos, polarizantes e não muito políticos. Era a explicação que a gente tinha para a performance ruim de candidatos conservadores. (...) A gente acabou de ver que em uma disputa municipal é possível ter um comportamento polarizante, combativo. E isso atrai um eleitorado grande. A estratégia dele foi muito bem-sucedida. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

O discurso antissistêmico tem uma força. O Marçal, de todos os candidatos que apareceram depois de Bolsonaro, é o mais antissistema. Ele tem uma capacidade de formular com eloquência e expressar essa raiva sistêmica melhor do que ninguém. A questão toda é: Bolsonaro vai ter o poder de matar esse fenômeno? Porque nesse momento a gente tem uma grande insubordinação do Pablo Marçal, ele atropelou um acordo que foi feito diretamente. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

O professor da USP lembra que ninguém saiu ileso de ofensivas bolsonaristas, nem mesmo o ex-juiz e senador Sergio Moro, que já foi o maior símbolo antipetista.

A valer o que tem acontecido, acho difícil o Pablo Marçal ficar de pé depois disso [embate com Bolsonaros]. Toda história os Bolsonaros mostraram depois de 2018 o controle absoluto do movimento conservador. Todo mundo que eles consideraram insubordinado eles transformaram em pó: Joyce Hasselmann, o general Cruz, a Janaína Paschoal, o Moro. O Moro era o maior símbolo do antipetismo, foi o juiz que colocou o Lula na cadeia e virou um nada depois que Bolsonaro resolveu tirar ele do jogo. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

Bolsonaro conseguiu anular ex-aliados quando ele quis de uma maneira avassaladora. Claro, pode ser que nesse caso [do Marçal] não dê certo. Mas o que o passado sugere é que ele não vai aguentar, porque o Bolsonaro demonstrou um controle muito grande, e o que a gente viu no dia de hoje foi um massacre. Todos os influenciadores bolsonaristas batendo no Pablo Marçal. Eu esperaria uma queda significativa, pelo menos dessa subida da última pesquisa Datafolha para agora, esperaria uma reversão pelo menos parcial porque ninguém até agora conseguiu desafiar os bolsonaros e sair ileso. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP

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