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Projeto premiado de fotografia explora fenômenos de conspirações e fake news ligados à Bolsonaro

22/08/2024 10h52

O fotógrafo paulista Rafael Roncato apresentou o livro "Tropical Misery Tour" na feira de livros dos Encontros Fotográficos de Arles, no sul da França. A primeira semana do evento, ainda no começo de julho, foi marcada por atividades profissionais, com presença de artistas expostos, mostras paralelas e debates.

O fotógrafo paulista Rafael Roncato apresentou o livro "Tropical Trauma Misery Tour" na feira de livros dos Encontros Fotográficos de Arles, no sul da França. A primeira semana do evento, ainda no começo de julho, foi marcada por atividades profissionais, com presença de artistas expostos, mostras paralelas e debates.

Patrícia Moribe, enviada especial a Arles

"Tropical Trauma Misery Tour" foi vencedor do prêmio Dummy Award em 2023, o antigo Prêmio Kassel para projetos de livros de fotografia. "O livro desenvolve minha tese de mestrado, que é sobre o governo Bolsanaro - não apenas sobre o que aconteceu no governo Bolsonaro, mas o que foi feito para que ele conseguisse chegar à presidência do país", explica Rafael Roncato.

Ao tratar de uma especificidade do Brasil - o Bolsonarismo - o livro de Roncato mostra que o fenômeno é internacional.

"Na minha pesquisa eu lido com a propaganda digital - network propaganda. E como as táticas e os métodos das milícias digitais foram muito utilizados para essa expansão da extrema direita, não só no Brasil, como no mundo", diz o fotógrafo, citando outros líderes populistas como Donald Trump, dos Estados Unidos, e Viktor Orbán, da Hungria. O objetivo foi "decifrar e decodificar como a imagem foi utilizada para, de fato, alcançar o cargo de presidente no Brasil".

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Um dos fatos explorados por Roncato é a suposta facada recebida por Bolsonaro durante a campanha em Juiz de Fora e o uso das teorias de conspiração. "Eu olho para esse evento da facada, não como tentando descobrir se é verdade ou não, mas acreditando que tudo aquilo, sim, de fato é verdade, assim como toda a performance política e do que se desvendou depois, todos os desdobramentos, usando formas de manipulação e basicamente se escondendo atrás das telas".

Cores da bandeira usurpadas

O livro de Rafael Roncato cabe no bolso, mas o conteúdo extrapola o tamanho, com mais de 300 páginas, com explosões de cores. "Eu parto muito das cores primárias da bandeira do Brasil, até porque um dos capítulos da minha tese eu comento que as cores foram roubadas do país, uma apropriação da bandeira, das cores do símbolo nacional, isso sendo de extrema direita ou de direita. E isso acaba sendo o grande mote do livro".

Baseado na Holanda, Roncato não pôde viajar para o Brasil durante a pandemia. Para dar prosseguimento ao projeto, ele optou por trabalhar em um estúdio, usando um ator com vaga semelhança com o presidente extremista e muita cor verde. "Então eu usei o estúdio meio como uma forma de espaço para poder criar sem poder estar no Brasil. Eu também lido com apropriação de notícias e de imagens", detalha. "É um material não só plural, mas esquizofrênico também".

O autor buscou também tentar passar a sensação que o brasileiro teve durante mais de quatro anos. "Um sentimento de impotência", diz, principalmente diante de cada vez mais fake news. Ele conta que as reações de estrangeiros ao livro são, a princípio, de confusão. "E foi confuso, foi absurdo!"

Roncato destaca ainda que a estratégia de usar um ator para encarnar o ex-presidente evidencia o jogo político, deixando claro que é uma atuação. "O próprio ator - um holandês - disse para mim que um governo de extrema direita ou alguém como Bolsonaro nunca chegaria ao poder na Holanda. Estamos em 2024 e o governo holandês é quase majoritariamente de extrema direita", observa.

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