Utilização de capacidade instalada da indústria química atinge 63% no 1º semestre, diz Abiquim
A indústria química brasileira atingiu 63% de utilização de capacidade instalada no primeiro semestre de 2024, três pontos porcentuais abaixo da média registrada em igual período do ano anterior, número considerado abaixo da média do setor, conforme mostra a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
A situação mais crítica em termos de utilização de capacidade instalada encontra-se no grupo de intermediários para fertilizantes, que atingiu 58% no primeiro semestre de 2024, nove pontos porcentuais abaixo ante os 67% apurados em igual período do ano anterior. O impacto no indicador foi decorrente da hibernação das plantas de fertilizantes da Unigel.
De acordo com a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, o cenário atual da indústria química tem sido agravado pelo surto de importações vindo de países asiáticos.
A executiva aponta que a competitividade desses países é sustentada de forma artificial por meio do suprimento de insumos de origem russa, como o gás natural, energia e outras matérias-primas, que possuem preços mais baixos em razão da guerra. "Hoje, a China é o principal destino de exportações de óleo e gás da Rússia", acrescentou Fátima.
Neste contexto, o volume importado de produtos químicos cresceu 21% (excluindo os intermediários para fertilizantes). As maiores altas foram identificadas no grupo de resinas termoplásticas (+48,2%), intermediários para resinas termofixas (+42,4%), solventes industriais (+39,9%) e resinas termofixas (+31%), segundo a amostra do relatório de acompanhamento conjuntural (RAC), da Abiquim.
Na mesma amostra, os preços do produto estrangeiro recuaram na ordem de 9% em média. As principais quedas foram identificadas em resinas termofixas (-16,1%), intermediários para resinas termofixas (-16%) e resinas termoplásticas (-8,6%).
Ao mesmo tempo em que ocorre aumento nas importações e a taxa de penetração dos produtos importados alcança 45% da demanda brasileira, a indústria local também enfrenta dificuldades para exportar os seus produtos, mostra a Abiquim, destacando em nota que o volume de exportações no primeiro semestre de 2024 foi 27,5% menor em relação ao mesmo período do ano anterior.
Consumo
O consumo aparente de produtos químicos no primeiro semestre de 2024 cresceu 0,4% na comparação com igual período do ano anterior. No mesmo intervalo, as vendas internas avançaram 4,39%, informou a Abiquim. A entidade reiterou o posicionamento de que setor químico vive um momento crítico, portanto, a ligeira melhora nos indicadores não traduz fielmente o cenário enfrentado pelo segmento.
Os preços dos produtos químicos no mercado doméstico aumentaram. O acumulado de janeiro a junho de 2024 mostra uma alta nominal de 4,94%, segundo o IGP Abiquim-Fipe.
Em termos "reais", o IGP Abiquim-Fipe, deflacionado pelo IPA-Indústria de Transformação, acumulou crescimento de 4,8% entre janeiro e junho deste ano. A Abiquim aponta que o aumento dos preços de matérias-primas e energia contribuíram para uma maior pressão de custos no mercado nacional.
Gás
Um dos maiores problemas que a indústria química brasileira enfrenta atualmente está relacionado ao alto nível de preços do gás natural. O insumo é estratégico para a produção do setor, visto que desempenha duplo papel, sendo uma importante matéria-prima ao mesmo tempo em que também é fonte de energia.
Segundo a Abiquim, a indústria química nacional paga US$ 12,4 por milhão de BTUs (MMBTU). O mesmo produto é vendido por US$ 1,5/MMBTU nos Estados Unidos. Na Europa o valor é de US$ 8,6/MMBTU, e na fronteira da Bolívia com o Brasil o insumo é comercializado a US$ 6,2/MMBTU.
A busca por soluções para aumentar o suprimento de gás no mercado nacional e reduzir os preços do insumo tem sido uma das principais frentes de atuação da Abiquim. Em abril, a entidade firmou uma parceria com a Petrobras para avançar na compra do insumo no mercado livre, além da busca por alternativas para elevar a oferta do produto.
Em julho, o setor também acompanhou o governo em visita à Bolívia e contribuiu nas negociações para sensibilizar o país vizinho a fortalecer o suprimento de gás ao Brasil por meio do Gasbol (Gasoduto Brasil-Bolívia), em conjunto com a utilização de gás da Argentina.
De forma emergencial, a entidade defende a elevação do imposto de importação para 63 produtos químicos, como um instrumento para compensar o desequilíbrio das condições de produção no Brasil ante os concorrentes do setor na Ásia.