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OPINIÃO

Lilia: Apagar Rebeca de propaganda é mais do que um erro e exige reparação

do UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/08/2024 14h59

A retirada da imagem da ginasta Rebeca Andrade de uma propaganda do Ministério das Comunicações é "mais do que um erro" e, muito além de pedir desculpas, o governo federal precisa fazer reparações, afirmou a antropóloga Lilia Schwarcz, no UOL News desta quarta-feira (7).

A fotografia original mostrava a reverência de Simone Biles e Jordan Chiles para Rebeca Andrade no primeiro pódio da história composto apenas por ginastas negras, mas a conta do ministério do Instagram trocou a imagem da brasileira por um computador, com o logo de um programa de inclusão.

Eu penso que tem que ser [considerado] bem mais do que um erro. Eu acredito muito em políticas de reparação. O Brasil é um país que tem muita dificuldade de falar de reparação (...), fico pensando em política de reparação da história mesmo, da memória.

No caso da questão racial, não se passa impunemente, por termos sido o último país abolir a escravidão mercantil, e por termos sido o último país que mais recebeu população africana escravizada. Essas são marcas da nossa sociabilidade e um governo precisa fazer mais do que pedir desculpas. É preciso fazer reparações.

Ou seja: cometi esse engano, o que eu vou colocar no lugar? O que eu vou oferecer no lugar? Como é que eu vou mostrar pra população que há um ensinamento para tirar do erro? Não basta só [dizer] 'errei'. Ou seja, o que ofereço daqui para frente? Acho que foi um grande engano essa propaganda, imenso, mais do que um erro. Lilia Schwarcz

A fotografia original registrou um pódio histórico nas olimpíadas, que reuniu três ginastas negras, e nossa atleta, Rebeca, recebeu reverência de Simone Biles e Jordan Chiles. No post, a conta do Instagram do Ministério fez a alteração na imagem para divulgar a distribuição de computadores para inclusão.

A Rebeca é retirada para entrar um computador. Inclusão digital é boa, mas o que é esse nosso complexo de 'Zé Carioca',em que nós mantemos as duas atletas norte-americanas que estavam reverenciando a atleta brasileira, e retiramos a Rebeca?

Eu leio imagens, eu leio pelos detalhes. Eu acho que nós vivemos um racismo estrutural, porque ele estrutura nossas percepções. Lilia Schwarcz

Lilia: racismo estrutura percepções, branquitude precisa sair da neutralidade

Lilia também enfatizou a importância de as pessoas brancas deixarem de se enxergar como neutras na questão racial, um dos temas abordados em seu novo livro "Imagens da branquitude: a presença da ausência".

A ideia é sensibilizar um público mais amplo para um tema que é nosso porque se engana quem pensa que a questão racial é só uma questão que envolve as as pessoas negras. Claro que envolve mais, mas nós só teremos, como diz a Coalizão por Direitos, nós só teremos uma democracia se formos menos racistas.


Eu sou uma pessoa branca --portanto é desse lugar que eu falo. Durante muito tempo, pessoas brancas criaram pacificações, e criaram normas para os outros. É como se as pessoas brancas não tivessem raça. É por isso que o livro chama 'a presença da ausência'. É preciso que pessoas brancas como eu, passemos por letramento racial. Nós temos cor e sempre usamos a nossa cor.

Todo mundo tem lugar de fala, no entanto, as pessoas brancas sempre tiveram lugar de fala, não precisam lutar por ele. As pessoas negras, as pessoas indígenas, não tanto. É bem importante que a gente [branca] saia dessa transparência, dessa suposta neutralidade. Lilia Schwarcz

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