Pegadinha da revisão: veja como fugir do 'empurrômetro' na concessionária

Muitos proprietários de carros se veem em um dilema ao serem confrontados com lista extensa de serviços adicionais durante as revisões. A prática, conhecida popularmente como 'empurrômetro', consiste na oferta de serviços que nem sempre são necessários, mas que podem ser apresentados como 'essenciais'.

As montadoras, ao venderem um carro, frequentemente oferecem pacotes de revisão programada que incluem a extensão da garantia e um plano de manutenção com preços fixos até a quinta ou sexta revisão. Essa previsibilidade é vantajosa, pois permite ao proprietário do veículo planejar seus gastos com manutenção. Contudo, é nesse ponto que as 'pegadinhas' podem surgir.

Serviços adicionais como limpeza de bico injetor, troca de filtros, velas, pastilhas, fluidos, suspensão e discos de freio são frequentemente oferecidos como complementos às revisões padrão. Embora alguns deles sejam necessários em determinadas situações, muitos são propostos de forma generalizada, sem considerar as condições específicas de cada veículo.

Essencial ou desnecessária

A revisão automotiva deve ser encarada com um olhar crítico, discernindo entre o que é essencial ou supérfluo. A informação é a melhor ferramenta para os proprietários de veículos se protegerem contra gastos desnecessários e garantirem que seus carros recebam apenas os cuidados necessários para sua preservação e desempenho ótimo.

A revisão mecânica, por exemplo, deve ser realizada conforme a quilometragem e o uso do carro, e não como um pacote de serviços padronizado. A troca de óleo do motor e filtros são procedimentos padrão, mas a substituição de peças como velas e pastilhas de freio deve ser avaliada caso a caso.

A limpeza dos bicos injetores, por sua vez, é um serviço que pode ser necessário apenas em situações de mau funcionamento ou perda de eficiência do motor, e não como uma manutenção preventiva regular.

Segundo Cleber Willian Gomes, professor de Engenharia Mecânica da FEI, o conceito de garantia estendida é uma opção muito interessante para evitar altos gastos com troca e manutenção corretiva de sistemas complexos e caros dos veículos. Em função dos sistemas (motor, transmissão, sistema de pós tratamento dos gases poluentes) se tornarem ao longo dos anos mais complexos o custo de reparo acompanha essa tendência e desta forma é interessante avaliar a opção da garantia estendida.

"A recomendação é seguir o plano de manutenção do fabricante do veículo e evitar ofertas que prometem soluções sem embasamento técnico e na dúvida procure um técnico automotivo de confiança. Soluções que os fabricantes não praticam e não recomendam tendem a não ser uma opção", avalia.

Fuja do empurrômetro

No contexto atual, onde a transparência nas relações de consumo é cada vez mais valorizada, algumas montadoras têm se posicionado contra o 'empurrômetro'. Iniciativas como revisões com preço fechado e a garantia de que a não realização de serviços adicionais não resultará na perda da garantia do veículo são exemplos de práticas que beneficiam o consumidor.

Identificar serviços desnecessários durante a revisão automotiva pode ser desafiador, especialmente para aqueles que não possuem conhecimento técnico aprofundado. No entanto, existem sinais claros que podem ajudar os proprietários de veículos a discernir entre manutenções essenciais e aquelas que são meramente adicionais.

Um dos primeiros indicadores é a falta de explicação adequada sobre a necessidade do serviço. Se o prestador de serviço não consegue justificar claramente por que um procedimento é necessário, baseando-se no manual do veículo ou nas condições específicas de uso do carro, isso pode ser um sinal de alerta.

Outro sinal é a pressão para aceitar serviços adicionais que não estavam previstos inicialmente. Se durante a revisão programada surgem recomendações de serviços que não constam no cronograma de manutenção do fabricante, é prudente questionar e buscar uma segunda opinião. Além disso, serviços como a descarbonização do motor e a cristalização da pintura são muitas vezes sugeridos sem que haja uma real necessidade, baseando-se apenas na rotina de manutenção preventiva.

A higienização do interior do carro, por exemplo, pode ser desnecessária se o veículo não passou por situações específicas, como derramamento de líquidos ou transporte frequente de animais de estimação. Da mesma forma, a limpeza preventiva dos bicos injetores é muitas vezes recomendada sem que haja sintomas de falhas ou perda de eficiência do motor.

É importante também estar atento à qualidade dos produtos oferecidos. Em alguns casos, óleos lubrificantes mais caros são sugeridos sem que haja uma justificativa técnica para a escolha, além do preço elevado. Serviços como balanceamento e alinhamento devem ser realizados apenas quando há sintomas claros de que algo está errado, como trepidações ou desalinhamento evidente durante a condução.

Segundo Marco Moretta, diretor geral da Point S, rede de centros automotivos, a revisão programada pode ser vantajosa, "pois permite ao proprietário planejar melhor os gastos com a manutenção do veículo. No entanto, é preciso ficar atento às pegadinhas que muitas concessionárias embutem nesses pacotes, adicionando serviços que nem sempre são necessários".

Uma prática recomendada, segundo Moretta, é consultar o manual do proprietário, que geralmente contém um cronograma detalhado de manutenção recomendado pela montadora.

"Faça apenas o que o manual recomenda e você terá seu carro em perfeitas condições por muitos anos. Nos manuais há em geral uma tabela com a quilometragem e as manutenções programadas e o que se faz em cada uma delas e você não precisará de mais nada, nem de garantia estendida", afirma.

Quando estiver na oficina ou concessionária, não se sinta pressionado a tomar decisões imediatas. Se necessário, peça um tempo para pensar sobre os serviços recomendados e use esse intervalo para fazer sua pesquisa ou consultar outras fontes.

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