Topo
Notícias

"Não tem alegria maior do que subir no pódio e representar meu país", diz Rebeca Andrade após a prata no salto em Paris

03/08/2024 15h00

Se o Brasil é conhecido como o país do futebol, os Jogos Olímpicos são uma oportunidade de vibrar com outros ídolos. E uma pequena "gigante" mostrou em Paris que é uma das maiores atletas brasileiras, conquistando a sua quinta medalha olímpica. Do alto de seu 1,55m de altura, Rebeca Andrade galgou mais um degrau em direção à glória do esporte, alcançando, neste sábado (3), a terceira medalha nos Jogos Olimpicos de Paris 2024 na ginástica artística.     

Maria Paula Carvalho,da RFI em Paris

Com dois saltos perfeitos e elegantes, de grande complexidade, a brasileira garantiu a prata no salto sobre a mesa. Simone Biles, que apresentou uma técnica impecável, desafiando a gravidade, segundo os comentaristas esportivos, levou o ouro, e outra americana, Jade Carey, ficou com o bronze.

"Isso representa a valorização do nosso trabalho e mostra que os nossos esforços estão valendo a pena", disse Rebeca Andrade após a conquista. "É muito difícil chegar a uma Olimpíada, a uma final. A gente esta fazendo história e fazendo as pessoas acreditarem que realmente é possível seguir os seus sonhos", acrescentou a ginasta.

Ela lembrou que "o esporte é muito difícil, mas quando você sobe no pódio não tem alegria maior de mostrar essa medalha e o orgulho de representar todos vocês e o país", disse. "Nem quando eu me machuco eu vejo como algo negativo, todos os processos pelos quais eu passei me trouxeram até aqui", acrescentou. "Olha a minha história, a gente tem que batalhar", completa.

Duelo de titãs

O publico lotou a Arena Bercy, em Paris, para presenciar um duelo entre as "rainhas" da ginástica: a norte-americana Simone Biles e a brasileira Rebeca Andrade. Em um esporte como a ginástica, que mistura força, flexibilidade e técnica, a torcida esperava um espetáculo.

"Vai ser um dos melhores espetáculos das olimpiadas, tenho sorte de ter o ingresso", disse à reportagem da RFI o analista de marketing Rodrigo Pinto Coelho, pouco antes da competição.

As disputas entre elas são sempre muito aguardadas, especialmente no salto sobre a mesa, principal aparelho na carreira de Rebeca, em que elas rivalizam ponto a ponto, a cada competição.

No individual geral em Paris, Biles levou a melhor, ficando com o ouro, enquanto Rebeca repetiu a prata de Tóquio 2020. "As duas estão fazendo um excelente campeonato", avalia Roberto Santos, securitário. "A Simone Biles é fora da curva, ela é um ET, então, entre os humanos, a gente costuma brincar que a Rebeca é ouro", diz Peter de Souza, representante comercial.   

"O que a gente está esperando: que a Simone fique em primeiro e a Rebeca em segundo, o que eu quero que aconteça? Que a Simone caia", brincou João Metzner, produtor de televisão, antes do início da competição.

No salto, Rebeca, que treina no Flamengo do Rio de Janeiro, queria repetir o feito de Tóquio, onde subiu no lugar mais alto do pódio. Alem da medalha de ouro no salto, ela também levou a prata no individual geral no Japão.

A competição

Oito atletas disputavam a final no salto sobre a mesa na tarde deste sábado, representando a Bulgária, Coreia do Norte, Canada, Estados Unidos, Coreia do Sul e Brasil.  

Depois da apresentação da búlgara Valentina Georgieva, que obteve uma nota 13.983, foi a vez da norte-coreana An Chang exibir uma performance sem erros, alcançando uma nota média de14. 216.

A canadense Shalon Olsen fez um desequilíbrio na aterrissagem do primeiro salto e caiu ao fim do segundo, ficando com média, 13.366 em sua terceira participação nas olimpiadas.

Simone Biles foi a quarta atleta a se apresentar diante do júri. Ela fez um primeiro salto de alta complexidade, o Biles II, o mais difícil da competição, alcançando 15.700, acima dos 15.300 da etapa de classificação. O segundo salto, um Cheng igualmente bem executado, lhe rendeu uma nota 14.900, o que lhe deu uma final 15.300, assumindo a liderança do placar.

A próxima adversária, a segunda representante do Canadá, Elizabeth Black, fez um salto limpo e com aterrissagem perfeita na primeira tentativa. No segundo, a execução não foi tão boa e ela ficou com média de 13.393  

Rebeca foi a sexta ginasta a competir usando um collant branco com pedras azuis. Ela fez um primeiro salto Cheng impecável e cravado, que lhe rendeu nota 15.100, acima dos 14.683 obtidos por ela na classificação.

Em sua segunda passagem, optou por um salto Amanar excepcional pela primeira vez nesta edição dos Jogos, obtendo uma nota 14.833. A média final da atleta brasileira foi de 14.966. A prata estava quase garantida.

Rebeca precisava aguardar ainda a representante da Coreia do Sul, Seojeong Yeo, que fez média de 13.416. A última a se apresentar foi a americana Jade Carey, com um ótimo primeiro salto e nota de 14.733, ameaçando o lugar de Rebeca. Mas na soma dos dois saltos, a americana ficou com 14.466 pontos e o bronze da competição.

Paixão entre os americanos

Do lado americano, a torcida também marcou presença para apoiar Simone Biles. "Ela voltou de um tempo parada, após problemas de saúde mental, e estamos muito felizes de vê-la saudável, feliz e forte, liderando o time americano", diz a médica Rebeca Kampton, de Chicago, à RFI.

"Ela é um modelo de inspiração para adultos e para meninas que querem ser como ela", completa. "Ela é uma ídola nos Estados Unidos, muitas amigas minhas fazem ginástica e dizem que ela é muito legal," diz Fiona, de 11 anos.    

Biles, 1,42m, já somava nove medalhas Olímpicas, sendo seis ouros (dois em Paris 2024 e quatro no Rio 2016), uma prata e dois bronzes. A jovem de Ohio que estourou no cenário internacional como um fenômeno da ginástica artística aos 16 anos, passou de estrela júnior nos EUA a melhor do mundo em um piscar de olhos.  

Rivalidade respeitosa

Ambas Rebeca e Simone se garantiram nas decisões do individual geral, salto, solo e trave, ficando de fora somente da final das barras assimétricas. 

Entre as duas atletas, existe respeito e amizade, como declarou a brasileira, em entrevista à RFI Brasil. "A forma como a gente se ajuda é: quanto melhor uma for, a outra tem que ser também e é assim, a gente vai brigando para fazer o nosso melhor", revela. "Eu vibrei muito pela Simone, acredito que ela tenha vibrado muito por mim também", disse na quarta-feira (31), após dividirem o pódio pela segunda vez em Paris.

Aos 25 anos, Rebeca carrega uma expectativa tão grande quanto o seu talento. Com mais esta medalha, ela se iguala aos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael no panteão brasileiros de heróis olímpicos. Mas pode ir mais longe. "Ainda tem trave e solo e pretendo focar ainda mais para que eu consiga fazer um bom trabalho", promete. "Eu peguei cinco finais gente, isso é demais", conclui.

Em Paris, a brasileira já tinha o bronze por equipe e a prata no individual geral. Ela mostrou mais uma vez porque reina no topo do olimpo brasileiro. 

"Ela nos diz para não desistir dos nossos sonhos, e que mesmo quando a sociedade ou o mundo vai contra a gente temos que seguir o nosso caminho, sem querer o que pertence ao outro", reagiu Mariana Goldfarb, entrevistada pela RFI na Arena Bercy. A nutricionista e influencer era uma entre os muitos brasileiros que "empurraram" a ginasta para o pódio, aos gritos de: Rebeca, Rebeca!  

Notícias