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Tabata vê ditadura na Venezuela e provoca Boulos: 'Discursinho democrático'

Tabata Amaral, candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSB - Mateus Silva
Tabata Amaral, candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSB Imagem: Mateus Silva
do UOL

Do UOL, em São Paulo

02/08/2024 22h21

A candidata à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB), provocou Guilherme Boulos (PSOL) nesta sexta-feira (2) sobre a situação na Venezuela após as eleições de domingo (28) e a proclamação do ditador Nicolás Maduro como presidente reeleito.

O que aconteceu

Tabata afirmou que não adianta ter "discursinho democrático" quando se quer democracia apenas se o "partido tem uma cor parecida com a nossa". A candidata falou em fraude eleitoral e disse que o país vizinho vive uma ditadura. Ela ainda frisou que o PSB, seu partido, condena "veementemente" regimes autoritários. "Eu e meu partido temos um compromisso inegociável com a democracia. Não importa se a cor é de esquerda, é de direita, é amarela ou azul", declarou.

Nesta quinta (1º), Boulos disse que a situação na Venezuela é "extremamente preocupante". O candidato a prefeito de São Paulo defendeu transparência no resultado das eleições e a divulgação das atas de votação. No início da semana, o candidato havia dito que esperaria a "posição da diplomacia brasileira". Boulos tem sido instado por adversários a falar sobre o assunto devido ao histórico de alinhamento com o regime chavista.

Ricardo Nunes (MDB) cobrou que Boulos se posicionasse. O psolista se pronunciou por meio de nota da sua assessoria, mas não em seus perfis nas redes sociais como os demais candidatos. "O povo de São Paulo está vendo os valores que cada candidato defende", escreveu o prefeito na quarta-feira (31). O emedebista é o principal adversário de Boulos na disputa.

Questionado pela imprensa nesta quinta, o candidato do PSOL citou nota conjunta do Itamaraty com os governos do México e da Colômbia. No comunicado, os países pediram a divulgação dos dados por mesa de votação.

Em comunicado nesta sexta, o PSOL manifestou apoio à posição dos três países. O partido escreveu que "diante das incertezas que rondam o processo eleitoral venezuelano, é justa a cobrança por mais transparência endereçada às instituições eleitorais daquele País".

Mesmo citando o governo federal, a fala de Boulos difere um pouco da declaração dada pelo presidente Lula (PT) sobre o tema. Na terça-feira (30), o petista disse que não houve "nada de grave" ou de "assustador" nas eleições venezuelanas.

Distante da polarização

Falas sobre Venezuela reforçam fama de "isentona" que Tabata ganhou na esquerda. Apesar de se dizer progressista, a candidata acumula embates com a esquerda por votar contra pautas desse campo na Câmara dos Deputados.

Tabata foi a favor da reforma da Previdência de Bolsonaro em 2019. O voto destoou da decisão do PDT, seu então partido, e ela acabou sendo suspensa do mandato. O episódio, além dos embates com o então aliado Ciro Gomes (PDT-CE), culminaram na entrada de Tabata no PSB.

Candidata rejeita polarização entre Lula e Bolsonaro na eleição em São Paulo. Em sabatina do Livres nesta sexta, ela afirmou que "eles não são candidatos". A fala é uma crítica à estratégia de Boulos e de Ricardo Nunes, que tentam reproduzir a disputa de 2022 - o candidato do PSOL tem apoio de Lula, e o atual prefeito, de Bolsonaro. Tabata disse ainda que vai governar com apoio do presidente e do governador Tarcísio de Freitas, adversários políticos, se eleita.

É possível se posicionar contra Lula e Bolsonaro no Brasil?

Para especialistas, em grandes municípios brasileiros não é possível se eleger sem apoio de Lula ou Bolsonaro. Apesar de uma parcela significativa do eleitorado brasileiro aparecer nas pesquisas como insatisfeita com a polarização, a tensão deve demorar para deixar de se reproduzir nas eleições, principalmente nas grandes metrópoles.

Existe um eleitor que busca essa perspectiva, além de votos bem específicos que devem ser buscados, como de mulheres e jovens - e isso a Tabata faz muito bem. Se é uma boa estratégia? Em capitais enormes como São Paulo a polarização é reproduzida e vai se manter nos resultados das eleições.
Júlia Almeida, especialista em democracia, militarização e autoritarismo pela USP

Com adversários apadrinhados, resta para Tabata ser contra a polarização. "É o único espaço possível para ela", explica Almeida. "O Lula já tem a sua candidatura, que é a chapa Guilherme Boulos e Marta. Bolsonaro não seria uma alternativa dela."

Ela é uma candidata de centro e as suas posições oscilam bastante entre esses pólos - a localização dela de se posicionar entre a esquerda e direita é compatível com as posições políticas dela. É o que ela pode fazer, já que não tem apoio das principais figuras políticas.
Júlia Almeida, especialista em democracia

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