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Brasil comunica fim de foco da doença de Newcastle e aguarda fim do embargo

Granja onde aves foram infectadas pela doença de Newcastle, em Anta Gorda, RS - Diego Vara/Reuters
Granja onde aves foram infectadas pela doença de Newcastle, em Anta Gorda, RS Imagem: Diego Vara/Reuters
do UOL

Danielle Castro

Colaboração para o UOL, de Ribeirão Preto

02/08/2024 12h00

Após seis dias de suspensão preventiva das exportações de frango e ovos do Rio Grande do Sul por conta de focos da Doença de Newcastle, o governo federal publicou ofício autorizando no último dia 24 a normalização das transações internacionais do Estado.

O setor aguarda agora a suspensão de restrições ainda ativas em quatro países parceiros: China, Argentina, México e Macedônia do Norte. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), entretanto, a produção da avicultura segue sem prejuízo, com abastecimento nacional assegurado e exportação ativa para outros 150 países.

O país promoveu uma ação intensiva de busca e desinfecção, em trabalho que a Seapi (Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação) gaúcha classificou como "esforço de guerra."

Preparados para enfrentar crises sanitárias

Segundo Ricardo Santin, presidente da ABPA, a ocorrência de doença de Newcastle causou surpresa entre os produtores. "Especialmente pelo fato de o Brasil manter um dos mais elevados níveis de biosseguridade de produção do mundo, o que permitiu [inclusive] ao país seguir livre de enfermidades severas que impactam outros países", afirmou Santin.

A situação, assim, é vista como prova de que o setor, juntamente com o governo federal, tem se mantido preparado para o enfrentamento de crises sanitárias, caso ocorram. "Temos plano de contingência no âmbito das empresas, mas toda a diretriz é dada pelo Plano de Contingência do Ministério da Agricultura. Isso permitiu ao Brasil reagir rapidamente à situação com a realização da contenção e monitoramento dos focos", disse o presidente da ABPA.

Linha do tempo, ações de contenção e enchentes

Como parte dos acordos sanitários mantidos com cada país, o Brasil determinou no dia 19 de julho uma "autossuspensão" das exportações dos produtos oriundos do Rio Grande do Sul. Após inspeção da Seapi, o governo gaúcho estabeleceu um perímetro de ocorrência da doença de Newcastle, na região de Anta Gorda, e promoveu ações de vigilância ativa e barreiras sanitárias em cerca de 200 propriedades.

Equipe multidisciplinar vistoriaram municípios. Fiscais estaduais agropecuários, técnicos agrícolas, veterinários e outros profissionais da área formaram as equipes que visitaram cinco municípios com avícolas nas áreas de perifoco (a três quilômetros do foco) e de vigilância (a dez quilômetros do foco).

Margem de segurança. Em comunicado público, o diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi, Francisco Lopes, declarou que a auditoria de biosseguridade de todas as granjas comerciais e de subsistência no raio de dez quilômetros "é um adicional" ao Plano de Contingência, feito como forma de reforçar a certeza de que a desinfecção estava de fato concluída.

Inundações impactaram trabalho de segurança. A nota reforça "as fortes enchentes de maio" prejudicaram a região e o trabalho de vigilância, que teve de enfrentar pontes e bueiros caídos e fazer desvios para chegar às propriedades, muitas em área de desmoronamentos de terra e com estradas destruídas.

No dia 24, finalizado processo, o governo federal pode publicar o ofício de retomada das exportações. No dia seguinte, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) encaminhou à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) o relatório comunicando o encerramento do foco de doença de Newcastle no Rio Grande do Sul. As oito barreiras sanitárias construídas tinham previsão de serem mantidas até quinta-feira (1º).

Tecnologia sanitária

Plataforma auxilia o processo. Além da ação humana, o protocolo no Rio Grande do Sul contou ainda com a utilização de ferramenta de geoanálise foi testada durante o controle de foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, a H5N1, pelo qual o estado passou em fevereiro deste ano.

O módulo de gestão de emergências sanitárias na Plataforma de Defesa Sanitária Animal (PDSA-RS), desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com recursos do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa).

Riscos baixos da doença de Newcastle

Não oferece risco a saúde humana. Santin lembra ainda que "a doença de Newcastle é uma enfermidade das aves e não há qualquer risco em termos de consumo". De todo modo, a ABPA reforça que "os animais enfermos seguiram destinação devida, com sacrifício sanitário" e envio "a aterro controlado pelos órgãos ambientais."

O presidente da ABPA afirma que a biosseguridade é a forma de controle efetiva para preservar a saúde animal. "Isso significa controle total no acesso às granjas, que devem contar com estruturas adequadas, incluindo vedação total sobre a área externa (com telamento e outros itens), controle de qualidade de água (que não podem ser de fontes expostas), vestimentas adequadas para o acesso (como sapatos específicos para uso dentro da granja), entre outros pontos", aponta.

Perspectivas

Setor deve se recuperar em breve. Embora as exportações de produtos avícolas do Rio Grande do Sul sigam com restrições parciais ou totais para alguns países, conforme especificado na circular do Mapa que liberou a retomada da exportação de ovos e aves no Brasil, a Asgav (Associação Gaúcha de Avicultura) considera que haverá uma rápida normalização do setor.

Só um caso no Brasil. A entidade informou em suas redes sociais que apenas um caso de doença de Newcastle, registrado no município de Anta Gordo, foi de fato identificado no Brasil, limitando a emergência zoosanitária a uma área muito reduzida.

Com a retirada da suspensão total de exportações de produtos avícolas do estado, o fluxo comercial está sendo retomado e o setor com as autoridades governamentais sanitárias está empenhado na solução total da situação, preservando todas as ações técnicas e legais.
Nota assinada por Asgav e ABPA.

A confiabilidade do sistema brasileiro e a rapidez na tomada de ações e nos esclarecimentos aos mercados permitiu avanços rápidos na renegociação das reaberturas dos mercados suspensos.
Ricardo Santin, presidente da ABPA

Santin reforça ainda que a produção do Brasil não parou, que diminuiu o dano financeiro e de abastecimento. "O impacto foi localizado em uma região. Não se espera impactos na oferta nacional de produtos. No internacional, houve redirecionamento do fluxo dos países que mantiveram a suspensão total (China, México, Argentina e Macedônia do Norte) para outros dos 150 mercados importadores de carne de frango do Brasil", aponta o presidente.

O estado gaúcho é o terceiro maior exportador de carne de frango do Brasil. No pior cenário, a suspensão afetaria 60 mil toneladas das 430 mil toneladas das proteínas oriundas de aves embarcadas mensalmente pelo Brasil, ou o equivalente a 15% das exportações, o que foi contido a tempo.

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