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Mortes de líderes do Hamas e do Hezbollah colocam Oriente Médio de novo à beira de conflito regional

01/08/2024 06h51

As mortes dos líderes do Hamas e do Hezbollah representam uma nova escalada de tensão no Oriente Médio e deixam o mundo em estado de alerta. O Irã e seus aliados - o grupo xiita libanês Hezbollah, os Houthis do Iêmen e o movimento islâmico palestino Hamas -, preparam represálias a Israel, apontado como responsável pelas mortes do palestino Ismail Haniyeh e do libanês Fuad Shukr.

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Ao contrário do ataque ao comandante do Hezbollah Fuad Shukr, em Beirute, Israel não reivindicou a autoria do assassinato de Ismail Haniyeh em Teerã. O líder político do Hamas estava na cidade para participar da cerimônia de posse de Masoud Pezeshkian, o novo presidente iraniano. 

Hanyieh foi morto por um míssil enquanto dormia no quarto onde estava hospedado na capital do Irã. O ataque com alta precisão é atribuído a Israel pelo movimento radical palestino e pelo governo iraniano.

O Irã promete vingança pelo assassinato do líder do Hamas, principalmente, porque a ação que provocou a morte de Haniyeh ocorreu em território iraniano. Segundo o New York Times, três fontes do país disseram que o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, já teria ordenado um ataque direto contra Israel. 

Ataques possíveis contra Israel

Apesar das ameaças, o Comando da Frente Interna, a área do exército responsável por orientar a população civil israelense, ainda não havia determinado mudanças na rotina dos israelenses. No entanto, o próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alertou, em discurso, que os cidadãos do país deveriam estar preparados para enfrentar "dias desafiadores".

A RFI apurou que os militares de Israel acreditam que já nos próximos dias o país poderá ser envolvido em combates intensos, mas limitados. Ou seja, os militares não consideram a possibilidade de uma guerra aberta. No entanto, segundo o Canal 12 israelense, Israel se prepara para cenários que poderiam incluir o disparo de foguetes e mísseis, um ataque com drones e até tentativas de invasão do norte do território. 

Shai Klapper, comandante de uma das divisões do Exército de Israel, reuniu-se com os chefes das autoridades e conselhos locais da Alta Galileia, a região mais ao norte do país e que concentra as cidades mais próximas à fronteira com o Líbano. Segundo Klapper, a avaliação israelense é que o Hezbollah deve aumentar a intensidade dos disparos de foguetes, mísseis e drones contra essas comunidades.

O exército também acredita que o grupo libanês vai buscar atingir alvos militares no interior do território israelense, aumentando as distâncias dos ataques para além dos que têm realizado quase que diariamente desde 8 de outubro do ano passado. 

Solidariedade ao Hamas

No dia seguinte ao ataque do Hamas às cidades e comunidades do sul do território israelense em 7 de outubro, o Hezbollah passou a disparar contra o norte de Israel. Segundo o grupo libanês, os ataques constantes a Israel representam uma demonstração de solidariedade ao Hamas e uma forma de pressionar os israelenses. 

Nos últimos dez meses, o confronto entre Hezbollah e Israel adquiriu características de guerra de atrito, ou seja, um conflito que se prolonga sem uma solução clara, mas que não é uma guerra total. No último sábado, no entanto, a situação pode ter começado a mudar. 

Em 27 de julho, Israel prometeu uma resposta dura ao Hezbollah. O país acusa a milícia xiita libanesa de ter atacado um campo de futebol recreativo em Majdal Shams, cidade israelense nas Colinas de Golã, onde vivem cerca 12 mil pessoas, em sua maioria drusos, que fazem parte da comunidade árabe. O disparo de um foguete atingiu em cheio o local, deixando 12 crianças mortas e provocando indignação e promessa de vingança por parte de políticos do país. 

As Colinas de Golã foram ocupadas por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e anexadas formalmente pelo país em 1981. 

Os drusos são árabes que têm uma religião própria e representam cerca de 2% da população. Em Israel, são integrados à sociedade em grande parte. Muitos deles servem ao exército, alcançando inclusive cargos de alta patente na hierarquia militar. 

O Hezbollah nega a autoria do ataque. Alguns veículos de imprensa dos países árabes, em especial do Líbano, chegaram mesmo a acusar Israel, atribuindo a tragédia a um suposto erro do sistema de defesa Domo de Ferro. Não há qualquer evidência que prove esta narrativa. 

Já Israel afirma que o disparo foi feito pelo Hezbollah. O chefe do Estado-Maior do exército, Herzi Halevi, disse que um foguete Falaq de fabricação iraniana com uma ogiva de 53 quilos pertencente à milícia xiita libanesa foi usado no ataque.

Ainda segundo Israel, o foguete foi disparado da cidade libanesa de Chebaa, a cerca de 10 quilômetros de Majdal Shams.

Resposta de Israel

A partir do ataque a Majdal Shams, havia a expectativa de uma resposta dura por parte de Israel. Os Estados Unidos tentaram contornar a situação e buscavam convencer os israelenses a dar uma resposta limitada e que não atingisse alvos civis em Beirute. 

Israel acabou por optar pelo assassinato de um alvo militar, mas em Beirute; Fuad Shukr, apontado pelos israelenses como o responsável direto pelo ataque ao campo de futebol. Shukr era também o responsável pelo projeto de mísseis de alta precisão do Hezbollah e atuava como conselheiro sênior para assuntos militares de Hassan Nasrallah, secretário-geral e líder do grupo. 

Ele também parece ter sido escolhido de forma a não incomodar os aliados em Washington; havia uma recompensa norte-americana no valor de US$ 5 milhões por informações sobre seu paradeiro. Os EUA consideravam que Fuad Shukr exerceu papel central no atentado a bomba contra os quartéis dos Marines, os fuzileiros navais norte-americanos, em Beirute, em 1983, que matou 241 militares do país. 

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