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Quatro dias depois, polêmica em torno da abertura dos Jogos de Paris segue viva

30/07/2024 13h09

Quatro dias depois, a polêmica continua viva em torno da cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, que incluiu drag queens e foi denunciada pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan como um ataque ao cristianismo, sendo qualificada de "vergonhosa" pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A celebração da cultura LGBTQIAP+, a participação de drag queens e uma possível alusão à Última Ceia cristã mexem com os ânimos nas redes sociais, especialmente entre setores conservadores ao redor do mundo.

A longa cerimônia, que durou quase 4 horas ao longo do rio Sena em Paris, foi o centro das atenções e bateu recordes de audiência na televisão, estendendo-se pelos primeiros dias das competições olímpicas.

Embora os elogios tenham sido unânimes pelas imagens espetaculares de Paris, algumas representações cênicas geraram muito menos entusiasmo.

"Vou ligar para o papa assim que possível para compartilhar com ele a imoralidade cometida contra o mundo cristão e todos os cristãos. Os Jogos Olímpicos foram usados como uma ferramenta de perversão que corrompe a natureza humana", afirmou Erdogan durante uma reunião de seu partido conservador islâmico.

As críticas uniram inimigos declarados, como o líder supremo do Irã e o candidato presidencial republicano dos Estados Unidos.

"O respeito a Jesus Cristo (...) é um assunto indiscutível para os muçulmanos", declarou o líder iraniano, o aiatolá Ali Khamenei.

"Tenho uma mente muito aberta, mas me parece que o que fizeram foi vergonhoso", acrescentou Trump em uma entrevista televisionada.

- Sem intenção de zombar -

No centro da polêmica está a performance do cantor francês Philippe Katerine, nu exceto por um tapa-sexo, com o corpo pintado de azul e um ramo de flores na cabeça, diante de uma grande mesa que poderia lembrar a Última Ceia de Jesus Cristo e seus apóstolos.

O homem, que elogiava a nudez enquanto cantava, era uma referência ao deus Baco, uma das divindades do Olimpo grego, assegurou Philippe Katerine, que se declarou "atônito" pela polêmica e pediu desculpas "se tiver ofendido alguém".

"Que fique claro que com Thomas Jolly nunca discutimos religião, nem a ceia", afirmou o cantor ao jornal Le Monde nesta terça-feira (30).

Thomas Jolly é o diretor artístico das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, um artista que concebeu um espetáculo audacioso, com milhares de dançarinos e acrobatas, na primeira cerimônia olímpica realizada fora de um estádio esportivo.

"Nunca tive a intenção de zombar ou denegrir nada nem ninguém", enfatizou Jolly.

O objetivo da sequência "Festividade" era "realizar uma grande festa pagã", insistiu Jolly.

Mas a hierarquia eclesiástica francesa também se sentiu ofendida.

Algumas redes de televisão que transmitiam a cerimônia rapidamente cortaram estas imagens.

- Denúncia por ameaças -

A jovem que presidia a cena da ceia, com uma grande tiara dourada na cabeça, é a DJ francesa Barbara Butch, uma militante feminista e lésbica que apresentou uma denúncia por ciberbullying, ameaças de morte e injúrias públicas.

A cena também incluía uma longa sequência de um desfile de moda, com drag queens vestidas de forma extravagante.

O historiador francês Patrick Boucheron, que participou da elaboração do espetáculo, afirmou ao Le Monde que este era "um manifesto contra o medo".

"Por que devemos nos deixar intimidar por ideólogos e virtuosos na arte de odiar?", questionou.

"O que vimos não foi uma França unida, mas identidades alinhadas uma atrás da outra, de indivíduos aprisionados na prisão do presente e de seu pequeno eu, de sua identidade de sexo, gênero", replicou a ensaísta Bérénice Levet ao jornal Le Figaro.

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© Agence France-Presse

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