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Colisão de barco com tubarão-elefante é filmada e põe cientistas em alerta

Exemplar de tubarão-elefante, uma das espécies em extinção - Reprodução / Wikimedia Commons / Greg Skomal / NOAA Fisheries Service, Public domain
Exemplar de tubarão-elefante, uma das espécies em extinção Imagem: Reprodução / Wikimedia Commons / Greg Skomal / NOAA Fisheries Service, Public domain
do UOL

Giovanna Arruda

Colaboração para o UOL

26/07/2024 04h00

Um tubarão-elefante de sete metros de comprimento estava se alimentando na superfície quando colidiu com uma embarcação, na Irlanda. O acidente, ocorrido em abril, foi registrado por uma câmera acoplada ao animal por pesquisadores. O comportamento do tubarão após o choque chamou a atenção dos especialistas, que alertam para o aumento no número de acidentes do tipo.

O que aconteceu

Pesquisadores acoplaram uma câmera a um tubarão-elefante (Cetorhinus maximus). O dispositivo foi colocado no animal em abril como parte de um estudo que buscava entender o risco e o impacto das colisões no comportamento de animais da megafauna (formada por animais de grande porte). De acordo com os especialistas, o encontro acidental entre embarcações e animais marinhos vem aumentando e é "uma preocupação global".

O estudo foi publicado esta semana na revista especializada Frontiers in Marine Science. A pesquisa foi realizada por especialistas da Universidade Estadual do Oregon, Universidade Stanford (ambas dos Estados Unidos), do Grupo Irlandês de Baleias e Golfinhos, do Grupo Irlandês de Tubarão-elefante e da Escola de Ciências Naturais, também da Irlanda.

Um tubarão-elefante fêmea recebeu a câmera na carcaça. De acordo com os pesquisadores, a câmera foi implantada enquanto o animal se alimentava perto da superfície na região do Condado de Kerry, na Irlanda. A câmera foi programada para ser liberada do corpo do tubarão depois de 12 horas de gravação.

Comportamento foi comum antes da colisão. Os pesquisadores descreveram as atividades do tubarão-elefante assim que a câmera foi implantada. "Imediatamente após a marcação, o tubarão mergulhou para aproximadamente 40 metros de profundidade por sete minutos e depois retornou para a superfície e começou a se alimentar ativamente." Nas seis horas seguintes, o animal manteve o comportamento de se manter na superfície para se alimentar, mergulhando ocasionalmente.

Colisão e tubarão ferido - Divulgação/Big Fish Lab, OSU - Divulgação/Big Fish Lab, OSU
Colisão e tubarão ferido
Imagem: Divulgação/Big Fish Lab, OSU

O tubarão estava a menos de um metro de profundidade quando foi atingido pela embarcação. Segundo as gravações, o animal estava se alimentando quando "tentou fazer um movimento evasivo grande e rápido".

Em um segundo, uma grande quilha de barco cortou as costas do tubarão, logo atrás da barbatana dorsal, e o tubarão mergulhou na água.
Trecho do estudo que descreve o momento da colisão entre a embarcação e o animal

O tubarão nadou rapidamente até o fundo do oceano. Após o choque, o tubarão aumentou a frequência de seus movimentos de cauda e desceu por cerca de 30 segundos, em um "movimento energético para longe do acontecido".

Machucado e resquício de tinta. Segundo os pesquisadores, é possível notar danos imediatos à pele do tubarão, resquícios da pintura do barco e uma marca vermelha próxima à nadadeira dorsal, região atingida pelo barco. Na gravação, não há evidência de sangramento aparente ou ferida aberta.

Comportamento é alerta para especialistas

O animal passou o restante da gravação sem se alimentar. Nas horas seguintes à colisão com o barco, o tubarão permaneceu a pelo menos 10 metros de profundidade. Segundo os pesquisadores, a atividade discreta do animal foi intercalada com períodos de "movimento quase imóvel". Pelas sete horas seguintes até a liberação da câmera, o tubarão não se alimentou.

Embora o tubarão-elefante tenha reagido momentaneamente com um aumento na atividade e nadado até o fundo do mar, rapidamente reduziu a sua atividade global.

Atividade do tubarão teria sido comprometida pela colisão. O choque impactou a aceleração dinâmica geral do corpo do tubarão, sua velocidade vertical e a amplitude e os movimentos de sua cauda, indicando um grande contraste entre a atividade pré e pós-colisão.

A recuperação total do tubarão não pôde ser acompanhada pelos especialistas. Como a câmera utilizada tinha uma programação para interromper a gravação e se soltar do animal, os pesquisadores dizem não ser possível confirmar se o animal voltou aos parâmetros de comportamento que tinha antes da colisão, se houve consequências a longo prazo ou mesmo a morte do tubarão. "Mais estudos são necessários para entender as implicações a longo prazo e a recuperação [dos animais] após esses eventos", afirma o documento.

Gigante do mar ameaçado de extinção. Com até 12 metros de comprimento, a espécie é o segundo maior peixe conhecido, menor apenas que o tubarão-baleia, que pode chegar a 20 metros. O tubarão-elefante é uma das espécies em extinção de acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza. Anteriormente com ampla população ao redor do mundo, a pesca e o abate irregulares comprometeram a sobrevivência da espécie.

Proteção de animais marinhos é uma urgência. "Este trabalho fornece informações sobre a resposta de um tubarão-elefante a lesões agudas e destaca a necessidade de proteções adequadas para mitigar os riscos para a megafauna marinha", conclui o estudo.

Território irlandês é favorável para a proteção dos tubarões-elefante. A região da Irlanda é uma das únicas nas quais tubarões-elefante ainda se reúnem em grande número. A espécie foi protegida pela Lei da Vida Selvagem do país em 2022. No início de 2024, o governo irlandês anunciou o Parque Marinho Nacional, protegendo parte da terra e do mar na costa do Condado de Kerry, para onde os tubarões-elefante migram sazonalmente para alimentação e eventual acasalamento.

O recém delineado Parque Nacional Marinho no Condado de Kerry representa uma oportunidade para estabelecer uma proteção mais forte para o tubarão-elefante e outras espécies marinhas. Essas proteções justificam ainda mais um catálogo sistemático de lesões e podem mitigar as ameaças não só dessas colisões com barcos, mas também de outros riscos causados por humanos.

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