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Hamas anuncia acordo de 'unidade nacional' com seus rivais palestinos

23/07/2024 07h56

O Hamas anunciou, nesta terça-feira (23), ter assinado em Pequim um acordo com outras organizações palestinas, entre elas seu rival Fatah, em um pacto que, segundo a China, contempla um governo de unidade nacional em Gaza quando terminar a guerra com Israel. 

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que representantes de 14 grupos palestinos acordaram a formação de "um governo interino de reconciliação nacional" para a Faixa de Gaza uma vez que termine a guerra iniciada em outubro. 

Wang recebeu, em Pequim, Musa Abu Marzuk, autoridade do Hamas, e o enviado do Fatah, Mahmud al Alul, e emissários de outros 12 grupos palestinos. 

"Hoje assinamos um acordo de unidade nacional, e afirmamos que o caminho para completar este percurso é a unidade nacional. Estamos comprometidos com essa unidade nacional e fazemos um apelo para alcançá-la", disse Abu Marzuk. 

O acordo é o "ponto de maior destaque" da chamada "declaração de Pequim", destacou Wang, que detalhou que, na reunião dessa terça-feira, também estiveram presentes representantes de Rússia, Egito - mediador habitual entre Hamas e Israel - e Argélia. 

Pequim quer "desempenhar um papel construtivo para garantir a paz e a estabilidade no Oriente Médio", enfatizou o chanceler chinês. 

Mahmud al Alul, do Fatah, agradeceu à China o seu apoio à causa palestina. "Vocês têm o carinho e a amizade de todo o povo palestino", disse Al Alul, que não se pronunciou sobre o acordo. 

O Hamas governa a Faixa de Gaza, enquanto o Fatah é a espinha dorsal da Autoridade Palestina, que é presidida por Mahmud Abbas e exerce controle parcial sobre a Cisjordânia ocupada. 

A rivalidade entre ambos os movimentos é aberta desde que o Hamas expulsou, mediante o uso da força, o Fatah da Faixa de Gaza em 2007.

Israel não demorou a criticar o acordo, e, em particular, o movimento de Mahmud Abbas. 

"Hamas e Fatah assinaram um acordo na China com vistas a um controle conjunto de Gaza depois da guerra. Em vez de rejeitar o terrorismo, Mahmud Abbas abraça os assassinos e estupradores do Hamas, e mostra assim sua verdadeira face", escreveu no X o chanceler israelense, Israel Katz.

"Isso não ocorrerá, porque o poder do Hamas será esmagado, e Abbas observará Gaza de longe", enfatizou o ministro. 

Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, deu boas-vindas ao acordo, que considerou "um passo importante para fortalecer a unidade palestina", disse seu porta-voz Stéphane Dujarric.

- Voluntarismo diplomático -

O acordo ocorre mais de nove meses depois do início da guerra em Gaza, com o ataque surpresa de comandos do Hamas em solo israelense em 7 de outubro de 2023. 

O ataque resultou na morte de 1.197 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP feito com base em fontes israelenses. Os islamistas também sequestraram 251 pessoas, das quais 116 seguem em Gaza, incluindo 44 que o Exército dá por falecidas. 

A resposta israelense causou a morte de mais de 39.000 palestinos em Gaza até agora, também civis na maior parte, e uma situação humanitária dramática, segundo dados do Ministério da Saúde desse território governado pelo Hamas. 

A China tem tentado exercer um papel de mediador no conflito de Gaza, que também conta com a rivalidade entre Hamas e Fatah. 

Israel prometeu continuar com a guerra até destruir o Hamas, e, assim como os Estados Unidos, já divulgou que não quer que o território continue sendo governado pelo Hamas, uma vez terminado o conflito.

Historicamente, a China mostra simpatia à causa palestina e defende a criação de um Estado palestino, ao mesmo tempo que mantém boas relações com Israel. 

Pequim quer se posicionar como um ator mais neutro que Washington, um aliado próximo de Israel.

Há anos a China mostra um forte desejo de exercer um papel relevante no Oriente Médio. No ano passado, surpreendeu ao conseguir uma aproximação entre Arábia Saudita e Irã, as duas grandes potências rivais da região.

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© Agence France-Presse

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