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Brasileiros esquecem quase R$ 2 bi em consórcios: como resgatar?

Casal assina contrato de empréstimo; crédito - Rob Daly/Getty Images
Casal assina contrato de empréstimo; crédito Imagem: Rob Daly/Getty Images
do UOL

Marcela Schiavon

Colaboração para o UOL, de Santo André, SP

22/07/2024 04h00

Quando o consumidor busca um consórcio, quer adquirir um bem ou serviço de forma mais econômica. Seja um carro, uma casa ou outro tipo de serviço, os mais comuns. Em geral, os consórcios são vistos como uma maneira de poupar dinheiro de forma forçada para comprar esses bens ou serviços, usando a própria renda.

No entanto, a conclusão do consórcio nem sempre acontece como o planejado pelo comprador. Durante o pagamento das parcelas, podem surgir dificuldades financeiras, como perda de renda ou patrimônio, dificultando continuar no consórcio. O resultado, conforme o Banco Central, é que o volume de RNP (Recursos Não Procurados) nas administradoras de consórcio chega a R$ 1, 93 bilhão.

O que aconteceu

Muitas vezes, quem é excluído ou solicita cancelamento do consórcio não busca as informações necessárias para resgatar os valores devidos. São valores pagos por cotistas de contrato de consórcio, que, ao final do tempo estimado em contrato sem premiação ao consumidor ou resgate, fica sobre as responsabilidades da administradora até a retirada do consumidor.

Isso resulta em valores "esquecidos" devido à falta de informação ou falhas na comunicação entre a administradora do consórcio e o comprador, que desconhece os procedimentos para o resgate. Ou seja, o cotista para de pagar as prestações do consórcio, com sua inadimplência acaba acreditando que perdeu os valores já quitados e por esse motivo não busca a administradora para realizar o resgate dos valores já pagos ao final do prazo do contrato. Há também casos em que o cotista veio a falecer e os herdeiros e sucessores não sabem ou não procuram sobre o resgate dos valores.

O UOL buscou especialistas para entender melhor sobre o assunto:

Como saber se tenho direito a resgate de dinheiro em consórcio e como retirá-lo?

Se você foi cotista de algum consórcio, deve procurar a administradora que gerenciava sua cota. Se não se lembrar, acesse o site do Banco Central e utilize o SVR (Sistema de Valores a Receber).

Caso haja dinheiro, para resgatar o valor, procure diretamente a administradora. Faça o pedido de resgate dos valores ou siga as instruções no site do Banco Central.

Por que muitos brasileiros esquecem de resgatar suas cotas de consórcio?

Há vários motivos como Informações dispersas. Muitos consumidores não compreendem completamente o funcionamento dos consórcios, incluindo os prazos e os procedimentos para resgatar suas cotas.

Prazos longos também confundem o consumidor. Os prazos de 5, 10, 20 anos de espera.

Desorganização financeira: soma de gastos e acúmulo de despesas.

Preferência por contas no papel: alguns ainda não se adequaram ao digital.

Não atualização de dados: esquecimento na mudança de endereço, por exemplo.

Quais estratégias os consumidores podem adotar para evitar esquecer de seus investimentos em consórcios?

Organização financeira: saber quais são suas receitas e despesas de curto, médio e longo prazo e o impacto disso;

Controle de gastos digital: usar uma planilha ou um aplicativo para controlar os gastos, inclusive o consórcio;

Usar calendários digitais ou aplicativos de gestão de tarefas para lembrar de datas cruciais relacionadas aos seus consórcios: revisar a carta do consórcio e acompanhar o progresso e manter seus dados atualizados;

Considerar consultora ou consultor financeiro: um consultor de patrimônio pode fazer seu controle pessoal, alertar prazos e ações que você deve tomar.

O consórcio não é um bom investimento se comparado aos demais, mas o consórcio, como um todo, para uma população como a brasileira que tem o costume de guardar e investir e planejar as finanças a longo prazo, ajuda muito. Isso porque ele ensina a pessoa a se planejar pra 'pagar aquela conta' e se obriga a guardar esse valor. Em uma poupança ele pode acabar resgatando o valor de forma mais fácil e quebrando a ideia de investir. No financiamento vai pagar, por exemplo, duas vezes, três vezes o valor do bem.
Fernando Campanholli, professor, especialista em investimentos, administrador e mestre em administração pública.

Segundo o especialista, um comparativo entre as opções seria:

Consórcio: para quem deseja adquirir bens de forma planejada e sem juros. Não geram rendimentos como outros investimentos. O valor das cotas é apenas corrigido pela inflação.

Poupança e Tesouro Direto: para objetivos de reserva de emergência e médio. O Tesouro Direto já dá retornos variados dependendo do tipo de título, mas geralmente melhores que a poupança.

Ações e Fundos Imobiliários: para objetivos de longo prazo e tolerância ao risco. Potencial de retorno mais alto, porém com maior risco.

Dicas para quem está começando a investir em consórcios

Pesquisar e entender o funcionamento dos consórcios: verificar as taxas envolvidas e os prazos, conferir se tem lance embutido, avaliar o valor da parcela e da taxa, examinar o prazo;

Ler o contrato para entender as regras, como: eu posso antecipar? Não posso antecipar? Se acontece alguma coisa comigo, eu tenho algum tipo de seguro? Tem seguro para fazer?

Planejar e levar mudanças em consideração: quanto estou disposto a investir? E se acontecer alguma coisa com minha renda de trabalho, por quanto tempo vou conseguir pagar? Se eu não pagar, o que vai acontecer?;

Levar em consideração mudanças;

Em vias gerais, ao adquirir um consórcio, o vendedor assegura ao consumidor que o cancelamento das cotas será simples. Entretanto, a realidade diverge. No caso de cancelamento da cota de consórcio, é necessário conhecer os valores a serem ressarcidos. E quais são esses valores? O consumidor tem direito a resgatar o Fundo Comum ou Fundo de Aquisição de Bens, valores que compõem a parcela do consórcio referente ao bem objeto do consórcio. Na maioria dos consórcios, a parcela inclui o Fundo Comum, taxa de administração, fundo de reserva e, quando aplicável, seguro de vida.
Aline Oliveira, advogada especialista em direito do consumidor

Órgão de defesa do consumidor devem ser acionados. Por isso, os órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, desempenham um papel crucial no apoio aos cotistas de consórcios, oferecendo diversas formas de assistência e proteção e podem ser utilizados em casos necessários.

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