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Racismo e conspiracionismo integraram discurso de candidatos às eleições legislativas francesass

08/07/2024 11h48

A ascensão da extrema direita na França liberou o verbo, principalmente entre candidatos do partido Reunião Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, à Assembleia Nacional. Muitos deles que foram reeleitos ou eleitos deram declarações ou tiveram atitudes racistas, se mostraram céticos em relação às mudanças climáticas, ou se aliaram a teses conspiracionistas.

Na semana passada, o candidato da extrema direita Daniel Grenon, de Yonne, a cerca de uma 1h30 de Paris, disse que um magrebino com dupla nacionalidade não deveria ter lugar "nos altos escalões".

Pressionado, o presidente do partido Reunião Nacional, Jordan Bardella, classificou as declarações como "abjetas". "Todos os que fizerem declarações que não estejam de acordo com minhas convicções serão expulsos", assegurou ele, mencionando "cinco ovelhas negras". Grenon foi reeleito no domingo (7).

Outra figura polêmica que manteve seu assento na casa foi Roger Chudeau, de Loir-et-Cher. Ele declarou que a nomeação da socialista Najat Vallaud-Belkacem, que tem nacionalidade francesa e marroquina, para o cargo de ministra da Educação sob a presidência de François Hollande, foi um "erro". O argumento utlizado foi o risco de "dupla lealdade" dos binacionais.

Marine Le Pen, líder do Reunião Nacional, repudiou as declarações, mas não especificou em que categoria ela colocava o deputado em questão. Há declarações que ela diz considerar "inadmissíveis" e que devem acarretar "certamente sanções" ou "deslizes".

A ex-candidata a presidência se referiu, por exemplo, a uma candidata em Mayenne que rejeitou qualquer racismo do partido ao mencionar que tinha um "oftalmologista, um judeu" e um "dentista, um muçulmano". Paule Veyre de Soras foi derrotada no segundo turno.

Le Pen admitiu a existência de "ovelhas negras" no Reunião Nacional, mas defendeu seus candidatos, dizendo que a Câmara dos deputados deve "ser uma imagem da França, e não da Sciences-Po ou da ENA", referindo-a faculdades de elite que formam muitos políticos franceses.

Lavagem cerebral

Entre as ovelhas negras que conseguiram se eleger estão Florence Joubert, da Dordonha, que afirmou no Twitter (X) que "o governo Macron" estava tentando "realizar uma verdadeira lavagem cerebral e apagar nossa resistência ao invasor" ao disseminar "a cultura islâmica".

Já René Lioret, novo deputado em uma zona eleitoral da Côte-d'Or, questionou a realidade do aquecimento global, afirmou que a vacina contra a Covid causava, entre outras coisas, câncer e "doenças autoimunes mortais" e estimou que "a África nos invade", fazendo uma ligação com percevejos.

Sébastien Humbert, da região de Vosges, recém-chegado à Assembleia, foi notório um promotor das teorias de Alexandra Henrion-Caude, figura conhecido do movimento antivax e conspiracionista.

Outra candidata, Ludivine Daoudi, do Calvados, desistiu de disputar o pleito após a publicação deuma foto antiga, em que ela aparece com um quépi nazista.

Diante dessa lista de novos deputados com declarações polêmicas, o partido de Le Pen deu como explicação a dificuldade de selecionar candidatos no curto prazo provocado pela dissolução da Assembleia.

A afirmação, no entanto, parece contrária à declaração repetida por Marine Le Pen nos últimos dois anos, em que ela afirmava estar "pronta" para isso em caso de vitória do RN.

O partido não especificou quais desses candidatos estavam sendo alvo de um processo diante de sua "comissão de conflitos" - a qual, segundo Marine Le Pen, "é rigorosa".

No entanto, o RN parece não estar em condições de se separar desses novos eleitos: com 124 a 128 cadeiras na nova assembleia, (138 a 145 com seus aliados), seu sonho de maioria, mesmo que relativa, foi frustrado pela frente de esquerda, relegando o partido ao terceiro lugar.

Deslize à esquerda 

Mas um deputado recém-eleito da Nova Frente Popular também foi destaque da imprensa francesa. Raphaël Arnault, de Vaucluse, tem ficha "S", categoria judicial em que uma pessoa é suspeita de atentar contra os interesses do Estado, incluindo  terrorismo.

A letra é em relação a "Segurança do Estado". O porta-voz da Jovem Guarda antifascismo foi convocado pela polícia judiciária por apologia do terrorismo, após uma postagem em uma rede social, que depois foi apagada, onde afirmava que "a resistência palestina lançou uma ofensiva sem precedentes sobre o Estado colonizador de Israel".  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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