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Premiê indiano vai a Moscou pela primeira vez desde invasão russa na Ucrânia

08/07/2024 10h30

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a Moscou nesta segunda-feira (8) para sua primeira visita à Rússia desde o ataque à Ucrânia. A Índia busca manter sua aliança tradicional com Moscou e seguir sua estratégia de posicionamento autônomo. 

Reeleito premiê da Índia em junho, Modi deve se encontrar com Vladimir Putin de maneira "informal" à noite, de acordo com o Kremlin. Os dois homens também se encontrarão novamente na terça-feira, antes da viagem do líder indiano para Viena.

"Estou ansioso para rever nossa cooperação bilateral com meu amigo Vladimir Putin e compartilhar nossas opiniões sobre uma série de questões regionais e globais", disse Modi nesta segunda-feira, citado em um comunicado.

Armas e petróleo barato

A Rússia é um importante fornecedor de armas e petróleo barato para a Índia, mesmo que seu confronto com o Ocidente e sua aproximação com a China, no contexto do conflito na Ucrânia, tenham tido um impacto em suas relações com Nova Délhi.

O líder do gigante asiático discutirá com o presidente russo Vladimir Putin o "desenvolvimento das relações tradicionalmente amigáveis entre a Rússia e a Índia, bem como a agenda internacional", de acordo com o Kremlin.

Os Estados Unidos e seus aliados ocidentais cultivaram seus laços com a Índia nos últimos anos para combater a crescente influência da China na região da Ásia-Pacífico e, ao mesmo tempo, pressionaram a Índia a se distanciar de Moscou.

No entanto, Nova Délhi se recusou a tomar um lado ao não condenar explicitamente o ataque russo à Ucrânia, e ao se abster de votar nas resoluções da ONU contra Moscou.

Defensora de um mundo multipolar, a Índia continua a desenvolver suas relações de segurança com os Estados Unidos, um rival odiado pela Rússia, que se apresenta como defensor da multipolaridade com o objetivo principal de enfraquecer o Ocidente no cenário mundial.

O conflito na Ucrânia, no entanto, "transformou" suas relações com Moscou, explica o especialista Swasti Rao, do Manohar Parrikar Institute for Defence Studies and Analyses, observando que surgiram novos "desafios".   

Amigos desde a Guerra Fria

A visita anterior à Rússia de Narendra Modi, que conquistou um terceiro mandato como chefe do país mais populoso do mundo em junho, foi em 2019. Dois anos depois, no final de 2021, ele recebeu Vladimir Putin em Nova Délhi.

Os dois líderes se encontraram oficialmente pela última vez em setembro de 2022, no Uzbequistão, em uma cúpula da Organização de Cooperação de Xangai.

Moscou e Nova Délhi mantêm um relacionamento próximo desde a Guerra Fria. Durante muito tempo, a Rússia foi o principal fornecedor de armas da Índia, mas a participação das importações de armas russas caiu drasticamente nos últimos anos.

A intensidade do conflito com a Ucrânia acabou com os estoques de armas russas, levando seu parceiro indiano a procurar outros fornecedores e desenvolver seu próprio setor militar. Por exemplo, o país encomendou aeronaves francesas Rafale para sua força aérea.

Ao mesmo tempo, após o ataque russo, em fevereiro de 2022, a Índia comprou grandes quantidades de petróleo russo, que foi vendido com desconto e redirecionado para o mercado indiano por Moscou como resultado das sanções ocidentais.

Dessa forma, Nova Délhi economiza dinheiro enquanto alimenta a economia e a máquina de guerra do Kremlin, o que lhe rendeu diversas críticas dos governos ocidentais. 

"Tarde demais"

No entanto, há possíveis áreas de tensão. Em particular, a Índia não vê com bons olhos a forte aproximação em andamento entre sua grande rival, a China, e Moscou, temendo que ela se veja dominada por uma enorme entidade geográfica russo-chinesa, liderada por Pequim.

"Alguns acreditam que a Índia deve se aproximar da Rússia para evitar que ela caia no domínio chinês", diz o analista Swasti Rao. "Outros acham que é tarde demais."

O ataque russo à Ucrânia também teve um custo humano para a Índia. Em fevereiro, Nova Délhi disse que estava pressionando o Kremlin a enviar de volta cidadãos indianos que lutavam na frente de batalha.

Depois de Moscou, Narendra Modi deve viajar para Viena, para a primeira visita de um líder indiano à capital austríaca, desde 1983.

(Com informações da AFP)

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