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França: quem será o próximo primeiro-ministro após as eleições legislativas?

08/07/2024 06h10

A aliança de esquerda formada pela Nova Frente Popular (NFP) venceu o segundo turno das eleições legislativas antecipadas na França, neste domingo (7). A NFP obteve mais deputados que a coalizão do partido do presidente Emmanuel Macron e do Reunião Nacional (RN), de extrema-direita, tido como favorito nas pesquisas de opinião. A Nova Frente Popular agora exige que um membro da coligação seja nomeado primeiro-ministro e poderá indicar um nome para o cargo ainda nesta semana.

Segundo os resultados definitivos, divulgados pelo Ministério do Interior francês, a NFP conquistou 182 assentos, sem obter a maioria absoluta de 289 cadeiras, mas tornou-se a principal força política na Assembleia  Nacional

A coalizão do governo, "Juntos pela República", conquistou 168 cadeiras. Já o Reunião Nacional, de Marine Le Pen, e seus aliados do Partido Republicanos, ficaram em terceiro lugar, obtendo 143 cadeiras. A nova legislatura toma posse em 18 de julho.

O contexto político é inédito na França e as negociações agora se concentrarão na nomeação do próximo primeiro-ministro e na criação da futura base parlamentar, que será necessária para governar o país.

O primeiro-ministro Gabriel Attal entrega sua renúncia a Emmanuel Macron na manhã desta segunda-feira (8), mas disse que ficaria no cargo o "tempo que fosse necessário".

De acordo com o Palácio do Eliseu, Macron, que viaja nesta terça-feira (9) para Washington, onde acontece a cúpula da Otan, deverá aguardar a "estruturação" da nova Assembleia "para tomar as decisões necessárias".

"Devemos nos mostrar capazes de apresentar uma candidatura para Matignon (sede do gabinete do primeiro-ministro em Paris) em uma semana", disse o primeiro secretário do PS, Olivier Faure, à rádio francesa Franceinfo. "Não podemos dar a impressão de que não somos capazes de governar", declarou.

"Temos que mudar completamente o método atual", declarou Faure, acrescentando que o futuro premiê não poderia ser considerado apenas como um "transmissor" na execução das decisões do Presidente da República.

"Pelo contrário, o Executivo deve considerar que a realidade do poder está no Parlamento e buscar a obtenção da maioria em cada texto". Macron vem sendo criticado pelo excesso de decretos para aprovar leis propostas pelo governo que não obtinham consenso na Assembleia Nacional.

Escolha por consenso

Para o coordenador do partido A França Insubmissa (LFI), Manuel Bompard, a escolha do primeiro-ministro pode ser feita "por consenso" e não necessariamente por voto dentro da Nova Frente Popular.

"É o primeiro partido político na Assembleia Nacional que deve governar. O presidente da República tem o dever de ter um primeiro-ministro da nova Frente Popular", explicou Bompard no canal France 2.

Segundo Bompard, "a tradição republicana" requer que o primeiro-ministro pertença "ao partido político da coalizão que tem o maior número de deputados". Essas questões serão discutidas internamente nos próximos dias, completou.

"Hoje, há reuniões entre os líderes dos diferentes partidos políticos da nossa aliança. Amanhã, na Assembleia Nacional, os diferentes grupos serão formados. Temos que decidir aos poucos, passo a passo", enfatizou.

"A discussão deve ocorrer primeiro hoje, entre os diferentes partidos políticos de nossa coalizão, e teremos uma proposta. E, claro, espero que ela seja objeto de um acordo entre todos os deputados. Não necessariamente por votação, pode ser um consenso", insistiu.  

Para ele, há necessidade de "uma proposta com um governo da Nova Frente Popular que permita a representatividade de todos os componentes dessa coalizão", frisou. "Devemos respeitar a promessa aos eleitores", dizendo que "não haverá negociações" com outras forças políticas.

Ele prometeu "aplicar o programa em uma situação, não contesto, de maioria relativa", julgando que "cada um dos grupos na Assembleia Nacional terá que assumir suas responsabilidades".   

Reforma da Previdência

"Vamos propor, por exemplo, revogar a reforma da Previdência e acho que poderemos ter uma maioria nesta votação", disse ele. Ele também repetiu que a aliança de esquerda ira propor "aumentar o salário mínimo e restabelecer o imposto de solidariedade sobre a riqueza".  

"São os partidos políticos de Macron "que devem dizer se, nos vários pontos que indiquei, desejam se opor a ele na Assembleia", insistiu. Emmanuel Macron até agora não revelou suas intenções em relação à nomeação do primeiro-ministro.

"A lógica institucional dita que o Presidente da República solicite à Nova Frente Popular que proponha um primeiro-ministro. Não vejo como isso pode acontecer de outra forma", disse a líder dos Ecologistas, Marine Tondelier, à rádio France Inter.

"O melhor método é o consenso, encontrando soluções inteligentes coletivamente (...) Pode ser alguém da LFI, do Partido Socialista, do Partido Comunista, dos Verdes. Pode até ser alguém que está além de tudo isso", acrescenta Marine Tondelier, não excluindo uma personalidade da sociedade civil.

As discussões dentro do NFP, que começaram na noite de domingo, continuarão nesta segunda-feira. "Já nos vimos duas vezes ontem à noite e nos veremos novamente hoje para voltar ao trabalho."

França não é ingovernável

"Não acredito que a França seja ingovernável, acho que existem caminhos", disse o prefeito de Pau, no sul do país, e presidente do MoDem, o partido do centro, François Bayrou, à rádio France Inter. "O caminho, acredito, pode ser encontrado", acrescentou, prevendo, no entanto, que será "extremamente difícil".

"No momento, não há sinais de uma reunião, mas eles virão", disse Bayrou. "O primeiro passo é aceitar a ideia de que podemos ser parceiros", diz ele, defendendo uma aliança entre a esquerda e a direita, fora dos extremos.

Extrema direita denuncia "bloqueio"

"Hoje, há uma grande frustração", admite Louis Aliot, vice-presidente do RN, à rádio RTL, ao considerar que a formação de extrema-direita "continua sendo o principal partido e na Assembleia Nacional, o primeiro grupo político", disse ele.

"Há pessoas que se candidataram e que não deveriam", acrescentou Louis Aliot. "Não estamos aqui para atrapalhar nos bastidores, para negociar nas costas do povo francês algum tipo de aliança", acrescentou Sébastien Chenu, porta-voz do RN.

A ex-presidente da Assembleia Nacional Yaël Braun-Pivet, do partido centrista Renascimento, defende uma grande coalizão sem o RN ou o LFI, como propôs o ex-primeiro-ministro e presidente do partido Horizontes, Édouard Philippe. "Acredito mais do que nunca na coalizão", disse. "Os franceses estão mais uma vez nos pedindo para trabalharmos juntos."

"De qualquer forma, todos terão que fazer um esforço, sentar-se ao redor de uma mesa para conseguir encontrar um programa de governo que nos permita seguir em frente", acrescentou. 

Questionado sobre seu interesse ocupar o cargo de premiê ou a presidência da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet declarou que é "muito cedo para discutir isso".

"A parte mais difícil para nós começa esta manhã para nós", disse o senador verde Yannick Jadot à Franceinfo. "Sem dúvida, vamos propor um governo esta semana", acrescentou. 

 "Vamos reconhecer que teremos que dar à Assembleia Nacional alguns dias para se organizar e tentar governar o país", disse Jadot ao ser questionado sobre como o NFP designaria seu candidato para Matignon.

(Com informações da AFP e Reuters)

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