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Angela Rayner, a vice-primeira-ministra britânica com um 'doutorado na vida real'

06/07/2024 11h41

Após a vitória do Partido Trabalhista nas eleições legislativas britânicas de quinta-feira (4), Angela Rayner, uma mulher sem formação acadêmica, autodenominada "doutora na vida real", foi nomeada vice-primeira-ministra.

Nada indicava que esta mulher, que deixou a escola na adolescência sem diploma algum, se tornaria a número dois do Partido Trabalhista.

A falta de títulos não a impediu de ser nomeada na sexta-feira (5) como vice-primeira-ministra do novo governo trabalhista e ministra de Nivelamento, Habitação e Comunidades.

Em um país onde a elite britânica frequentou predominantemente as prestigiosas universidades de Oxford e Cambridge, Rayner, de 44 anos, parece uma exceção.

Ela cresceu em Stockport, no norte da Inglaterra, em uma habitação social.

Desde jovem, cuidou de sua mãe, que sofria de transtorno bipolar, era analfabeta e não trabalhava.

Seu pai estava frequentemente ausente. Durante a infância, Rayner só tomava banho quente aos domingos e para ter refeições fartas, dependia de convites para jantar na casa de amigos.

"Angie", como é conhecida por muitos, deixou a escola sem diploma e aos 16 anos se tornou mãe solteira. Alguns anos depois, teve outro filho, prematuro e quase cego.

"Tenho um doutorado na vida real", resumiu uma vez. "Os desafios não me derrubaram. Conheço meus pontos fortes", acrescentou.

Angela Rayner é instantaneamente reconhecida por seu longo cabelo ruivo e franja, que se tornaram sua marca registrada, assim como seu marcante sotaque do norte da Inglaterra.

É a número dois do Partido Trabalhista desde 2020 e agora será o braço direito do novo primeiro-ministro, Keir Starmer, no governo britânico.

Rayner, conhecida por ser muito mais à esquerda, poderá divergir em certas ocasiões do premiê, que tem aproximado o partido de posições mais ao centro.

- "Consertar carros" -

Ela nunca sonhou com a política. "Meu único sonho quando adolescente era aprender a dirigir legalmente", disse no podcast The Rest is Politics.

"Sei consertar carros", acrescentou naquela ocasião.

Depois de deixar a escola, trabalhou com temas sociais, quando descobriu o sindicalismo e depois a política.

Em 2015, foi eleita deputada pelo distrito eleitoral de Ashton-under-Lyne, próximo a Manchester.

Nos assentos trabalhistas, devido à sua franqueza, experimentou um rápido avanço, primeiro com Jeremy Corbyn, líder do partido com uma posição mais à esquerda, até 2020, e depois com Keir Starmer, mais ao centro.

Rayner está ciente de que contrasta com seu novo chefe, um ex-advogado considerado por muitos como pouco carismático.

"De certa forma, nós nos complementamos", disse ela ao The Guardian. "Suaviza minhas asperezas. Eu lhe tiro de sua concha", acrescentou.

Para este jornal de esquerda, Angela Rayner "é áspera, direta e aterroriza os conservadores".

"Eles não sabem como interagir (comigo) porque geralmente não conhecem pessoas como eu", disse a número dois trabalhista.

Em 2020, um tabloide informou que parlamentares conservadores compararam Rayner a Sharon Stone no filme "Instinto Selvagem", dizendo que ela gostava de distrair a atenção do então primeiro-ministro Boris Johnson, cruzando e descruzando as pernas durante as perguntas ao chefe de governo no Parlamento.

Esses ataques misóginos provocaram um escândalo.

Os conservadores recentemente trouxeram à tona o passado de Rayner, acusando-a de ter fornecido informações falsas ao vender sua casa em Manchester em 2015 para evitar o pagamento de impostos.

Mas a polícia, após investigação, não encontrou evidências para apresentar acusações contra ela.

Rayner está particularmente entusiasmada com seu novo trabalho no governo.

Entre suas promessas estão acabar com os "contratos de zero horas", que não garantem um mínimo de horas remuneradas, restaurar o poder dos sindicatos e construir 1,5 milhão de casas em cinco anos.

A vice-primeira-ministra do Reino Unido deseja que as novas moradias sociais sejam "bonitas, verdes" e onde as pessoas "sintam prazer em viver".

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© Agence France-Presse

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