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Premiê húngaro Viktor Orban visita Putin em Moscou e gera reprovação de lideranças europeias

05/07/2024 12h55

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, encontrou-se nesta sexta-feira (5) em Moscou com o presidente russo, Vladimir Putin, uma visita surpresa que levou lideranças da União Europeia (UE) a ressaltarem que o líder não tem qualquer poder de negociação com Moscou em nome do bloco. Orban, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE, alegou estar em "missão de paz" sobre a guerra na Ucrânia.

O primeiro-ministro húngaro foi a Kiev na terça-feira (2) e pediu para o presidente Volodymyr Zelensky considerar um acordo de cessar-fogo, a fim de promover uma solução para o conflito iniciado com a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

"A missão de paz continua. Segunda etapa: Moscou", declarou no X o líder do Fidesz -  União Cívica Húngara.

A viagem do líder húngaro à capital russa foi envolta de segredos, relata a correspondente da RFI em Moscou, Anissa El Jabri. Nenhuma imagem da chegada no aeroporto ou do trajeto da comitiva ao Kremlin foi revelada durante toda a manhã.

A encenação foi toda pensada: nas primeiras imagens divulgadas pela presidência russa, o porta-voz Dimitri Peskov anunciou que "negociações" ocorreriam entre Vladimir Putin e Viktor Orban. De repente, os dois líderes apareceram juntos e se apertaram calorosamente as mãos.

Depois das imagens, os discursos preliminares também dão a aparência de uma verdadeira negociação diplomática. Vladimir Putin disse que Viktor Orban "está aqui como presidente dos europeus", sem ser corrigido pelo premiê húngaro. "Em breve, a Hungria será o único país capaz de dialogar tanto com a Ucrânia e com a Rússia", comentou Putin.

Orban é aliado de Moscou na UE

Apesar das críticas e das sanções europeias contra Moscou, Viktor Orban, um nacionalista que se afirma "iliberal", mantém laços estreitos com a Rússia. Putin disse estar pronto para discutir as "nuances" das propostas de paz sobre a mesa, com vistas a pôr um fim à guerra.

Orban, por sua vez, afirmou que ainda há "muitos passos a tomar" para "acabar com a guerra" na Ucrânia e "estabelecer a paz". "Percebi que as posições estão muito distantes", acrescentou o premiê, ao lado de Putin. "Mas para o restabelecimento do diálogo, o primeiro passo importante foi dado hoje e vou continuar este trabalho", explicou.

Como condição para um cessar-fogo, Putin voltou a insistir sobre a retirada das tropas ucranianas dos territórios ocupados pelo exército russo. Para "resolver a crise", como o presidente russo prefere chamar o conflito, o líder exige que Kiev abra mão de partes das das regiões de Donetsk e Lugansk, Zaporíjia e Kherson - todas anexadas por Moscou em setembro de 2022, após a realização de referendos não reconhecidos pela comunidade internacional.

Em 14 de junho, Putin também estabeleceu como condições o abandono, pela Ucrânia, do seu plano de adesão à Otan, a "desmilitarização" do país e o fim das sanções ocidentais contra Moscou.

Reações europeias

Budapeste assumiu este mês a presidência rotativa da União Europeia, um papel essencialmente simbólico, que "não lhe dá autoridade para dialogar com a Rússia por parte da UE", segundo o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sublinhou na sexta-feira que só a unidade e a determinação dos europeus abririam o caminho para a paz justa e sustentável na Ucrânia.

"O apaziguamento não irá parar Putin", sublinhou ela na rede social X. "Com tal reunião, a presidência húngara (da UE) termina antes de realmente começar", comentou um diplomata europeu. "A Hungria não parece ter compreendido o seu papel (...) O ceticismo dos países membros da UE foi infelizmente justificado. É apenas uma questão de promover os interesses de Budapeste."

Também no X, Orban afirmou que a paz na Ucrânia não será construída "de uma poltrona confortável em Bruxelas". "Não podemos esperar que a guerra termine milagrosamente", disse ele.

Otan foi informada da visita a Moscou

A Hungria, membro da Otan, recusa-se a enviar armas para a Ucrânia e criticou as sanções da UE contra a Rússia pela sua ofensiva. O secretário-geral da aliança atlântica, Jens Stoltenberg, disse numa coletiva de imprensa que a organização militar foi informada da visita de Viktor Orban, mas que a viagem foi uma iniciativa pessoal do premiê.

"Cabe à Ucrânia decidir sobre condições aceitáveis ??para negociações de paz e uma solução negociada", ressaltou Stoltenberg.

O Ministério das Relações Exteriores ucraniano esclareceu que esta "missão" não foi de forma alguma coordenada com Kiev e que recusa "qualquer acordo sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".

Viktor Orban foi o único europeu a visitar em Moscou desde o início da ofensiva russa. Em setembro de 2022, esteve no país para participar do funeral de Mikhail Gorbachev. Posteriormente, o primeiro-ministro húngaro desafiou claramente os ocidentais com uma reunião calorosa com o chefe de Estado russo em Pequim, à margem de uma Cúpula da Rota da Seda, em outubro passado - sete meses depois de o Tribunal Penal Internacional (TPI) ter emitido um mandado de prisão por crimes de guerra contra Vladimir Putin.

O Kremlin também receberá a visita oficial do premiê Narendra Modi, nos dias 8 e 9 de julho. Será a primeira vez que o líder indiano irá à capital russa, desde o início da guerra na Ucrânia.

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