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Em busca de eutanásia, jovem 'com pior dor do mundo' se diz alvo de ofensas

do UOL

Do UOL e Colaboração para o UOL, em São Paulo

05/07/2024 13h47

A jovem com a ''pior dor do mundo'', que pretende sair do Brasil para realizar eutanásia ou suicídio assistido, contou que vem sofrendo ataques na internet após expressar desejo.

O que aconteceu

A estudante de veterinária Carolina Arruda, 27, relatou estar recebendo inúmeros ''comentários negativos''. As ofensas estariam ocorrendo após a jovem, que sofre de neuralgia do trigêmeo, criar uma vaquinha com o objetivo de ir para Suíça realizar o procedimento, que é crime no Brasil.

Carolina contou nesta quinta (5) que algumas pessoas estão ''atormentando'' seus amigos e familiares. ''Queria pedir para vocês respeitarem meus familiares e amigos, parem de enviar mensagens para eles. Eles estão lidando com a situação da forma que podem'' desabafou em vídeo no TikTok.

Parte dos seguidores ainda estariam dizendo que a dor causada pela doença é ''por falta de Deus''. ''Para aqueles que dizem que a minha doença é falta de Deus, por favor, respeitem minha jornada, não é falta de fé, não é falta de Deus e também não é falta de tentar todas as opções possíveis'', comentou.

Segundo Carolina, outros também teriam sugerido ''curas milagrosas e tratamentos revolucionários''. Para esses, a estudante agradeceu a preocupação e esperança, mas disse já ter tentado de tudo para aliviar. ''A verdade é que minha dor persiste'', afirmou.

O que é a neuralgia do trigêmeo

O nervo trigêmeo enerva toda a sensibilidade da face, uma parte da cabeça e também da cavidade bucal. "Normalmente, a dor ocorre de forma súbita e sem causa definida. O vento frio no rosto, escovar os dentes, mastigar ou bocejar podem ser gatilhos da dor", explica o neurologista Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. A neuralgia do trigêmeo é descrita como uma das piores dores do mundo.

A neuralgia do trigêmeo é mais comum em pessoas a partir dos 50 anos e acomete mais o sexo feminino, diz o neurologista. Segundo estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Faculdade de Medicina do Vale do Aço (Famevaço), a incidência de casos do distúrbio por ano no Brasil é de 4,5 a cada 100 mil pessoas.

A doença não tem cura e sua principal causa é o contato neurovascular. "A parede da artéria se desloca e acaba encostando no nervo trigêmeo, na parte de dentro do crânio. E quando essa artéria pulsa, ela toca o nervo, causando uma espécie de machucado", diz o médico.

O que é a eutanásia

A palavra eutanásia vem do grego "eu" (bem) e "thanásia" (morte). Significa "boa morte" ou "morte tranquila".

No procedimento, a morte de um paciente é induzida após o seu consentimento. Ocorre em geral com o auxílio de um médico e por meio de injeção letal e indolor.

Em países onde a eutanásia é permitida e regulamentada por lei (Bélgica, Canadá, Colômbia, Holanda e Luxemburgo), há condições específicas para a sua realização, como existência de doença incurável, sofrimento exacerbado e altos índices de dores, mediante comprovação médica.

A Holanda foi pioneira na aprovação de uma lei que torna a eutanásia um direito. A legislação entrou em vigor em 2002 e condiciona o procedimento a pacientes que estejam em sofrimento físico ou mental profundo.

No Brasil, a eutanásia e o suicídio assistido são proibidos. Aqui, quem colaborar com as práticas pode ser indiciado por homicídio doloso.

Eutanásia é diferente de suicídio assistido. No suicídio assistido (também permitido mediante uma série de normas em poucos países, como Holanda e Suíça), a pessoa que solicita o procedimento tem acesso a uma substância letal, que deve ser ingerida ou aplicada por ela própria.

O que diz a lei brasileira

No Brasil, a eutanásia e o suicídio assistido são proibidos. Os termos ou expressões referentes a esses procedimentos não constam no Código Penal, mas quem praticá-los pode ser acusado de homicídio doloso.

Pena de até 20 anos. De acordo com o Código Penal brasileiro, as penas para quem causa a morte de um doente podem variar de dois a seis anos, quando comprovado motivo de piedade, a até 20 anos de prisão.

Diferentemente da eutanásia e do suicídio assistido, a ortotanásia foi regulamentada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) em 2006. Segundo a resolução, o médico responsável deveria ministrar os cuidados necessários para aliviar sintomas que levem ao sofrimento do paciente.

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