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Conheça os cenários possíveis para as eleições legislativas na França, a 48 horas do 2° turno

05/07/2024 15h43

Da meia-noite (hora local) desta sexta-feira (5) até as 20h (17h em Brasília) de domingo (7), a imprensa francesa não se pode mais falar de política: o país entra no período de "reserva eleitoral" antes do segundo turno das eleições legislativas. Antes disso, saiba mais sobre o equilíbrio de poder depois dos resultados do primeiro turno, que aconteceu no dia 30 de junho, e o que está em jogo nessa eleição histórica para o país, a segunda maior economia do bloco europeu.

Por Raphaël Delvolve, da RFI

Maioria relativa ou absoluta para a extrema direita?

Considerando o equilíbrio de poder depois do primeiro turno, e analisando as intenções de voto na França, o partido Reunião Nacional (RN), de extrema direita, é o único capaz de conseguir uma maioria de deputados na Assembleia Nacional.

Mesmo que uma grande reviravolta não possa ser descartada - a coligação de esquerda, Nova Frente Popular, está presente em um número suficiente de distritos eleitorais, assim como os partidos que apoiam o presidente Emmanuel Macron -, a sigla de Marine Le Pen deve ganhar, com seus aliados do partido de direita Os Republicanos (liderado pelo polêmico Éric Ciotti), pelo menos quase 200 cadeiras. O resultado já seria um terremoto poderoso no cenário político francês.

Seria uma vitória extraordinária se o RN conquistasse 289 deputados, o que significaria uma maioria absoluta da Casa e a entrada da extrema direita no governo francês pela primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial

Entretanto, esse cenário não é o mais provável. Essa perspectiva se tornou menos possível após as inúmeras desistências de candidatos envolvidos em mais de 300 disputas conhecidas como "triangulares" (quando restam três nomes disputando a mesma vaga em um distrito eleitoral). 

Os acordos entre a coligação de Macron e a esquerda, pelos quais mais de 200 candidatos se retiraram entre si do pleito para fortalecer o bloqueio contra a extrema direita, podem privar o partido de Le Pen de cerca de 30 assentos decisivos. Mas  surpresas não podem ser descartadas em algumas zonas nas quais o cenário é incerto.

O RN obteve avanços históricos no primeiro turno, principalmente na Bretanha - onde, pela primeira vez, a extrema direita qualificou candidatos para o segundo turno em uma eleição de peso como esta.

Surpresas na hora do voto

Entre os fatores que são difíceis de prever, estão a possibilidade de transferências de votos. Os eleitores de esquerda, principalmente os da França Insubmissa (LFI, da esquerda radical) migrariam para um candidato macronista?

Em alguns casos, como na região francesa de Calvados, a ex-primeira-ministra Elisabeth Borne se beneficia da retirada de um candidato da LFI na esperança de vencer o RN. Mas não há nada que sugira que os votos serão transferidos automaticamente para Borne, que foi bastante criticada pela LFI na época da reforma previdenciária, adotada por Macron por meio do dispositivo constitucional conhecido como "49-3" - espécie de decreto que ajudou o presidente a aprovar reformas capitais sem o voto dos deputados, em especial neste atual e último mandato.

No caso oposto, a mesma incerteza se aplica. Em Seine-Maritime, um candidato do partido de direita Horizontes se retirou em favor da candidata da esquerda radical, Alma Dufour. O presidente do partido, o ex-chefe de governo Edouard Philippe, havia solicitado, no entanto, que as pessoas não votassem nem na extrema direita, nem na esquerda radical. Mesmo assim, alguns candidatos parecem continuar firme no pacto nacional para barrar uma possível chegada da extrema direita ao poder na França.

Além disso, o comparecimento às urnas ainda é incerto. A natureza excepcional da situação motivou os eleitores na semana passada, para o primeiro turno, com uma votação histórica que beirou os 70%. As previsões das pesquisas de opinião apresentam um cenário semelhante, com 68% dos eleitores esperados no domingo.

Projeções de assentos na Assembleia oscilam

Um grande número de pesquisas foi publicado esta semana na França, levando em conta a retirada de candidatos entre os dois turnos. Entretanto, elas se baseiam apenas em transferências hipotéticas de votos, portanto dificilmente aferiram os dados com precisão: há 501 pesquisas diferentes e 90 delas são apresentadas como incertas.

Por fim, há uma jurisprudência recente no país que exige um máximo de cautela. Durante as eleições legislativas de 2022, as últimas pesquisas publicadas dois dias antes da votação previam menos de 50 assentos para a extrema direita. No final, o RN de Le Pen e Jordan Bardella conquistou 89 assentos nas urnas - um grande choque para os franceses.

O que está em jogo agora é saber se a chamada Frente Republicana (macronistas e coligação de esquerda) será eficaz ou será esmagada pela onda da extrema direita, que obteve um desempenho inédito na semana passada. 

Se o RN conquistar uma maioria relativa, essa maioria ficará longe ou perto dos 289 assentos necessários para a maioria absoluta? Se chegar perto, existiria espaço para uma coalizão da extrema direita com parlamentares de direita para liderar o governo. Se ocorrer o oposto, com poucos parlamentares do RN, quem governará? Como forjar uma coalizão de perdedores?

Nesta sexta-feira, as perguntas são uma incógnita na França, que se pode se tornar "ingovernável", segundo expressão repetidamente publicada na imprensa francesa, a partir dos resultados deste segundo turno.

O cenário atual nunca aconteceu na chamada Quinta República francesa, que possui uma Constituição projetada para garantir que a regra da maioria prevalecesse. Esta "névoa de verão" não deve se dissipar até domingo à noite.

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