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Anfavea quer imposto maior contra invasão de importados

São Paulo

05/07/2024 07h22

Depois de anunciar investimentos de R$ 130 bilhões no País nos próximos anos, as montadoras cobram agora do governo a elevação imediata da alíquota máxima do Imposto de Importação como forma de deter o que chamam de invasão de veículos elétricos chineses no mercado nacional. A Anfavea, entidade que representa as montadoras, fala em risco de fechamento de fábricas já neste segundo semestre caso o Brasil não adote a barreira tarifária contra o avanço, descrito como desenfreado, das importações.

Ao apresentar nesta quinta, 4, os números de produção e vendas do setor em junho e no primeiro semestre, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, afirmou que, enquanto países como Canadá e Estados Unidos têm alíquotas que passam de 100% sobre os carros elétricos importados, e na União Europeia as alíquotas variam de 27% a 48%, no Brasil o Imposto de Importação é de 18%. Segundo Leite, a invasão de carros elétricos da China em todo o mundo gera um desequilíbrio que atinge empregos, investimentos e produção.

"No momento de transição (energética), se o Brasil não rever isso imediatamente corremos o risco de impacto com fechamento de fábricas no segundo semestre", disse Leite, citando que a produção das montadoras brasileiras está estagnada, mesmo com o crescimento de 14,6% nas vendas de veículos no País registrado no primeiro semestre do ano.

Na semana passada, a Anfavea havia levado ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), um pedido para antecipar em dois anos a cobrança da alíquota de 35% do Imposto de Importação sobre carros híbridos e elétricos.

O imposto sobre as importações de eletrificados voltou a ser gradual em janeiro, com alíquotas que variam a depender da tecnologia. A previsão é de que elas convirjam para 35% apenas em julho de 2026.

‘Desastrosa’

Os dados do setor em junho indicam a perda de mercado para concorrentes de fora do Mercosul, não apenas no mercado doméstico, mas também em alguns dos principais destinos dos carros brasileiros no exterior. As montadoras do Brasil perderam participação para a China nas exportações a mercados como México, Chile e Uruguai. E ainda houve queda de 19% nas vendas a mercados do Mercosul.

O presidente da Anfavea classificou como "desastrosa" essa combinação de queda das exportações com avanço dos importados no mercado local. A expectativa da Anfavea é de que as compras de automóveis híbridos e elétricos, que vêm em boa parte da China, fiquem entre 130 mil e 150 mil unidades neste ano - em 2023, somaram 93,9 mil.

Leite ressaltou ainda que, pelo menos desde 2010, essa foi a primeira vez que as exportações das montadoras instaladas no Brasil (que somaram 165,3 mil veículos no primeiro semestre) ficaram abaixo das importações (que se aproximaram das 200 mil unidades no período, mordendo 17,3% do mercado). "Hoje, temos déficit comercial (no setor)."

A Anfavea defende uma agenda de "harmonização" de regras com mercados externos, diminuição do custo de produção e novos acordos comerciais para o Brasil reverter a tendência deficitária na balança comercial de veículos. Para viabilizar os investimentos de R$ 130 bilhões nos próximos anos, Leite ressaltou que exportar mais é fundamental.

Se as exportações e as importações tivessem mantido os níveis de 2023, a Anfavea calcula que a produção nacional de veículos, que cresceu apenas 0,5% no primeiro semestre, teria avançado 11%. "Seriam 200 mil unidades a mais. Isso é uma fábrica", comparou.

Novas projeções

Diante do impacto do avanço das importações e da perda de espaço em mercados externos, a Anfavea revisou suas previsões para o setor neste ano. A previsão para o crescimento da produção de veículos caiu de 6,2% para 4,9%.

Apesar disso, a Anfavea prevê melhora do nível de vendas em razão da volta das fábricas de carros e de autopeças no Rio Grande do Sul, após as enchentes de maio, e do crescimento dos negócios no mercado - cuja estimativa de alta passou de 6,1% para 10,9%. Já em relação às exportações, a previsão é de queda de 20,8%, ante a expectativa de alta de 0,7% feita no início do ano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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