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"Só Biden pode desistir da candidatura, ninguém pode obrigá-lo a renunciar", diz especialista

04/07/2024 12h09

Após o vexame no debate televisivo há cerca de uma semana, o presidente americano, Joe Biden, recebeu na quarta-feira (03) os líderes do seu partido para tentar convencê-los de que ele é o único candidato capaz de vencer Donald Trump. O professor da Sciences Po e especialista em política americana, Jérôme Viala-Godefroy, conversou com a RFI sobre as perspectivas no cenário político dos Estados Unidos.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que é hora de virar a página. Ela negou que o presidente americano esteja enfrentando qualquer tipo de doença, demência ou senilidade e ainda afirmou que, na véspera do debate, Biden estava gripado e passou uma noite "ruim".

O próprio presidente gravou uma peça de campanha reafirmando que está apto para o trabalho. "Como muitos americanos, quando somos derrubados, nós nos levantamos".

No entanto, para o professor e especialista em política americana, Jérôme Viala-Godefroy, quando os eleitores testemunham um momento complexo como o do último debate, fica difícil acreditar que a situação possa melhorar. Até pelo peso e desgaste da função.

Além disso, pela primeira vez houve posicionamentos públicos pedindo que Biden retirasse sua candidatura. O representante democrata do Texas, Lloyd Doggett, fez um apelo ao presidente para que deixasse a disputa e foi seguido por outros representantes do partido.

"Os comentários ainda estão limitados, mas a partir do momento em que cada vez mais democratas começarem a contestar a capacidade de Biden, vai ser muito complicado continuar na disputa", diz o especialista francês.

"Ele poderia até se submeter a exames que comprovem que ele não está sofrendo de problemas mentais, (como sugeriu Nancy Pelosi tanto a Biden quanto a Trump), mas se o resultado for negativo, vai ser humilhante. O que pede Pelosi é que haja transparência. O que é claro é que para alguém de 81 anos, que está muito cansado, fica ainda mais difícil quando se é presidente da maior potência do mundo", completou Godefroy.

Pedidos da imprensa

O especialista explica que o desempenho errático de Biden não impactou as doações da campanha. No entanto, influenciou a posição da imprensa, que sempre se mostrou mais favorável a ele que a Trump, mas passou a questionar a candidatura do democrata. O próprio The New York Times publicou um artigo dizendo que para servir o país, Joe Biden deveria deixar a corrida presidencial.

"As condições de Biden ficaram tão evidentes durante o debate que não é possível fazer de uma outra forma. A imprensa não teria nenhuma credibilidade se não colocasse essa questão em foco, porque é algo que as pessoas se perguntam", sublinha o especialista francês.

"Isso já era uma questão antes, mas depois do debate se tornou mais importante. Nas pesquisas divulgadas, mesmo entre os democratas, há mais de 70% que pensam que a idade de Joe Biden é um problema. A questão é que o medo de Donald Trump faz com que eles aceitem certas coisas, o medo da divisão também e a ideia de ter alguém que possa sair vencedor, como foi o  caso de Biden", opina Godefroy.

O que acontece se Biden decidir renunciar?

"É importante destacar que somente Biden pode se retirar da campanha, ninguém pode impor isso a ele, somente a sua esposa, segundo a imprensa. Mas por ora, sua família e Jill Biden parecem apoiá-lo", destacou.

Se ele decidir deixar a disputa "em princípio, a pessoa mais provável para assumir a disputa é Kamala Harris, sua vice-presidente, que já foi eleita com ele nas primárias. Ela tem toda legitimidade. Não acredito que o partido possa escolher outro candidato porque existe o medo de Trump e vai haver a ideia de se unir para vencê-lo," disse.

Para o professor, a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza também pesa negativamente para a campanha de Biden. No caso de a candidata ser Kamala Harris, seria uma vantagem para os democratas, já que ela tem a imagem mais preservada em relação ao tema.

Imunidade de Trump

Sobre a situação de Donald Trump, Godefroy explica que diversos especialistas ainda estão analisando a decisão da Suprema Corte, que concede imunidade a todos os atos oficiais do presidente da República.

Este aspecto favorece o magnata, atolado em processos judiciais. Para ele, a decisão é polêmica e controversa, já que é difícil distinguir o que é totalmente de interesse público ou privado nas funções presidenciais.

"É a primeira vez que há uma decisão da Suprema Corte como essa, sobre imunidade do presidente, e que pode gerar grandes problemas já que, no caso de Trump, o próprio presidente não é tão claro sobre a legalidade do que pode fazer", opinou.

As eleições nos Estados Unidos acontecem no dia 05 de novembro. Até o momento, as pesquisas apontam que a maioria dos americanos não quer nem Joe Biden e nem Donald Trump à frente do país. 

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