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Seca no Pantanal será a mais grave dos últimos cinco anos, estima estudo

Macaco incinerado em meio a vegetação queimada no Pantanal  - Ueslei Marcelino/11 jun.2024/REUTERS
Macaco incinerado em meio a vegetação queimada no Pantanal Imagem: Ueslei Marcelino/11 jun.2024/REUTERS
do UOL

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa

03/07/2024 06h27

Uma seca histórica. Essa é a previsão que um estudo encomendado pela organização não-governamental WWF-Brasil faz para a região do Pantanal ainda neste ano.

O bioma, que consiste na maior área úmida continental do planeta e chegou a ser reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, deve ter em 2024 a seca mais grave registrada nos últimos cinco anos. A tendência é que, sem período de cheia neste ano, uma crise hídrica na região seja inevitável.

Para se ter uma ideia, nos quatro primeiros meses de 2024, época em que costuma ocorrer o ápice das inundações no Pantanal, a média de áreas alagadas foi menor do que a registrada durante a seca de 2023. O nível do rio Paraguai ficou 68% abaixo do esperado para o período, destaca a especialista em conservação do WWF-Brasil Helga Correa, que também é uma das autoras da nota técnica "Alerta precoce para mitigar impactos da seca no Pantanal".

Ela explica que a condição de seca é atingida quando o nível do rio Paraguai fica abaixo de 4 metros. Em 2024, o nível desse rio não passou de 1 metro de altura. E a temporada de estiagem ainda deve se intensificar no segundo semestre, até outubro.

A última grande cheia no Pantanal ocorreu em 2018. No ano seguinte, teve início o período mais seco já observado pelos pesquisadores desde 1985. Um levantamento do MapBiomas divulgado recentemente também apontou que o bioma brasileiro é o que mais sofreu com queimadas nos últimos quarenta anos.

"Essa seca não é um evento isolado, vem de um contexto histórico em que observamos a redução de áreas alagadas e em que o Pantanal fica mais seco a cada ano", assinala Helga, ao lembrar da seca extrema de 2020, que levou à perda de um terço do bioma. Na época, 45 mil quilômetros de área foram consumidos por queimadas e cerca de 17 milhões de animais vertebrados morreram.

O novo alerta de estiagem intensa chega em um momento em que o bioma ainda não teve condições de se recuperar do evento extremo anterior, diz Helga. "Para a biodiversidade, esses quatro anos são um tempo curto. O impacto do que foi perdido naquele momento ainda está presente. Esse será mais um golpe no conjunto de populações que ainda precisa se recuperar do que aconteceu em 2020", pontua.

Impacto em toda a região

A seca no Pantanal deve impactar a qualidade do ar, acentuando problemas respiratórios. Com mais possibilidade de queimadas nesse período, a qualidade da água também pode ser afetada devido à entrada de cinzas no sistema hídrico. Isso pode causar a morte de peixes e retirar o acesso à água das comunidades. A economia local também deve sofrer com a seca, uma vez que depende dos rios para navegabilidade.

O município de Corumbá, que ocupa 60% do bioma, foi a área do Pantanal que mais perdeu superfície de água neste ano - 20,4 mil hectares, quando comparado às condições observadas pelos pesquisadores em 2021. A situação, segundo Helga, resume o que ocorre em outras localidades da região, que também apresentaram redução nas áreas alagadas. A tendência é que a seca seja crítica para todos os municípios do Pantanal, mas que os efeitos sejam sentidos de forma diferente pela população devido ao curso dos rios.

O que ainda é possível fazer

Sem condições de reverter esse quadro, a especialista em conservação do WWF-Brasil pondera que ainda é possível agir para minimizar as implicações junto à biodiversidade e às comunidades que vivem na região. O primeiro passo é fazer uso da informação para desenvolver medidas de prevenção, argumenta. "São vários tipos de ações que dependem da informação, como ver onde há mais vulnerabilidades, risco de incêndio e maior importância para a biodiversidade", diz.

Ela elenca ainda ações emergenciais com construção de cisternas para evitar a falta de água junto às populações mais vulneráveis, formação de brigadas para controlar incêndios e iniciativas que busquem frear o desmatamento e fazer um melhor uso do território. É o caso da restauração de áreas de proteção permanente nas cabeceiras dos rios e o apoio à valorização das comunidades e setores que atuam com práticas sustentáveis na região.

Hoje, lembra Helga, há um acúmulo de processos de degradação no bioma. As cabeceiras dos rios estão muito afetadas pelo desmatamento, com risco de barramento. Essa situação diminui a capacidade natural de inundação do Pantanal e pode contribuir para se chegar ao chamado ponto de não retorno. "Não podemos fechar os olhos para as formas de alteração da paisagem que estão acontecendo. E globalmente, vemos que tudo isso está conectado com as mudanças climáticas", sustenta.

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