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Franceses sofrem com "síndrome de estresse eleitoral" em semana decisiva de eleições legislativas

03/07/2024 09h16

O anúncio da dissolução da Assembleia Nacional, no dia 9 de junho, pegou os franceses de surpresa. Desta forma, as eleições legislativas antecipadas, cujo segundo turno acontece no próximo domingo (7), podem ter um impacto significativo na sua saúde mental dos eleitores. É o chamado estresse ou ansiedade eleitoral.

A "síndrome do estresse eleitoral" pode parecer engraçada, mas não é. O termo foi criado pelo especialista em terapia de casais, Steven Stosny, em 2016, durante a eleição para presidente dos Estados Unidos, vencida por Donald Trump.

Sintomas variados

Os sintomas são variados: acesso constante às redes sociais e às notícias, insônia, cansaço, raiva e ansiedade que se transmitem às pessoas próximas. E, em alguns casos, a procura de um lugar para se exilar em caso de um resultado indesejado.

No seu blog no jornal francês Le Monde, o médico Marc Gozlan salienta que, desde o anúncio surpresa da dissolução da Assembleia Nacional na França, "psicólogos e psiquiatras notaram um aumento no número de consultas, e alguns pacientes apresentam sinais de estresse, ansiedade e até angústia. Há também aqueles que relatam enjoos, desânimo e que sofrem de insônia. Para outros, a situação reavivou ou agravou uma dor física. Episódios depressivos foram registrados".

Na França, a tensão aumenta à medida que se aproxima o segundo turno das eleições legislativas, no domingo. Tanto as forças políticas como os meios de comunicação falam de eleições decisivas para o futuro do país com vocabulário catastrófico: "caos", "abismo", "terremoto político", "golpe de estado psicológico", "psicose política", "salto para o desconhecido".

"Risco de sobrecarga mental"

Sobre a situação na França, o jornal espanhol La Vanguardia, cita Gladys Mondière, presidente da Federação Francesa de Psicólogos e Psicologia, que afirma que a perspectiva de uma vitória do Reunião Nacional (RN), partido de extrema direita, e "o efeito surpresa da percepção de perigo" tiveram impacto no estado mental de muitas pessoas, com consequências psicológicas.

Além disso, segundo a psicanalista Ysabelle Delmas, entrevistada pela rádio France Bleu, as notícias negativas assumem um papel predominante no cérebro.

"São necessárias cinco informações positivas para anular uma negativa", explica a especialista, sublinhando que "a duração e a intensidade do período eleitoral, com todas as exigências colocadas aos eleitores, podem levar ao cansaço geral, até ao esgotamento psicológico. Com risco de sobrecarga mental".

Segundo a psicoterapeuta e especialista em ansiedade Eloise Skinner, entrevistada pela revista britânica Grazia UK, sobre as eleições de 4 de julho no Reino Unido, essas emoções podem ser acompanhadas por aumento da frequência cardíaca e da adrenalina ou tensão física ao falar. Diante desse estresse, "pode-se adotar o comportamento de evitar conteúdos relacionados a eleições, sentindo vontade de encerrar qualquer debate ou evitar qualquer campanha política", afirma Skinner.

E se estas eleições provocam ansiedade, é também devido ao "contexto de grande incerteza e insegurança global", no qual "enfrentamos as pressões de diferentes processos eleitorais globais e uma mudança geral na opinião pública para pontos de vista mais extremos", enfatiza a psicoterapeuta britânica. Uma análise que se reflete também na França.

Hormônio do estresse e como amenizar os efeitos

Em seu blog no Le Monde, o médico Marc Gozlan relembra os resultados de um estudo realizado por pesquisadores israelenses da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Haifa, publicado em 2011 na revista European Neuropsychoendocrinology. A pesquisa apresenta resultados que mostram uma ligação entre emoções, níveis de cortisol - o principal hormônio do estresse - e eleições nacionais.

Ao medir os níveis de cortisol ao longo do dia da votação nos eleitores de uma localidade, perceberam que os índices se tornaram extremamente elevados.

"Nosso estudo demonstra que votar é psicológica e fisiologicamente emocionante, mas um evento estressante", resumiram os autores.

Gozlan retoma também uma série de estudos publicados nos Estados Unidos, em particular sobre as eleições presidenciais de 2016 e 2020, cujas conclusões são semelhantes: o clima político é considerado uma fonte de estresse e as eleições presidenciais têm um impacto negativo na saúde mental dos cidadãos, principalmente dos jovens.

Para lidar com essa ansiedade, os psicólogos recomendam reduzir o acesso a notícias e às redes sociais, principalmente à noite; além de conversar com pessoas próximas e não negar a importância do momento vivenciado.

Uma outra forma de combater esses efeitos colaterais seria engajar-se, de acordo com o psiquiatra Georges Brousse, entrevistado pela rádio France Info. Segundo ele, "o engajamento é também, obviamente, uma forma de não ter que suportar os acontecimentos e de combater a ansiedade. É uma forma de recuperar o controle sobre os acontecimentos aos quais estamos submetidos".

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