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"Há um forte desejo de alternância", diz cientista político sobre vitória da extrema direita na França

02/07/2024 14h05

A vitória do partido Reunião Nacional no primeiro turno das eleições legislativas com 33% dos votos, bem à frente da aliança de esquerda Nova Frente Popular, que obteve 28%, reflete o forte desejo de mudança de governo na França. Os resultados mostram o profundo descontentamento da maior parte dos eleitores com o presidente Emmanuel Macron e com outros partidos que já ocuparam o poder, segundo análise do cientista político Gaspard Estrada, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po). 

O Reunião Nacional (RN), partido da líder Marine Le Pen, e aliados conquistaram 10,7 milhões de votos no primeiro turno, mais do que o dobro da votação das eleições legislativas de 2022, quando a legenda obteve cerca de 4,2 milhões de votos.  

Por outro lado, o Juntos, coalizão de partidos que apoiam o presidente Macron, saiu como o grande perdedor da votação de domingo (30), chegando em terceiro com 20% dos votos. O resultado mostrou a sanção contra o presidente Macron, que surpreendeu até seus colaboradores mais próximos com a decisão, no dia 9 de junho, de dissolver a Assembleia Nacional após a vitória da extrema direita nas eleições europeias.  

"Há um grande descontentamento com a gestão do presidente Emmanuel Macron, uma vontade de expressar esse descontentamento. Portanto, não só perante o governo, mas de modo geral, com os partidos políticos que já governaram a França, seja a esquerda, o centro, a direita", contextualiza Estrada. 

As urnas confirmaram uma tendência captada durante a curta campanha eleitoral por diferentes institutos de pesquisas. Mas a votação expressiva no RN trouxe como novidade, segundo Estrada, a motivação dos eleitores para entregar o comando do governo para o partido de Marine Le Pen.  

"Os resultados da extrema direita estão na média. No entanto, há uma intensidade do desejo dos eleitores de ter uma alternância, e eu acho que isso é um fato novo que as pesquisas mostraram", afirma o cientista político.

Desde o anúncio dos resultados do primeiro turno, os líderes do partido, Marine Le Pen e Jordan Bardella, escolhido pela legenda para o eventual cargo de primeiro-ministro, insistem para a mobilização dos eleitores para garantir a maioria absoluta na Assembleia, ou seja, mais de 289 cadeiras, para o partido assumir o governo.  

"Essa é realmente a grande pergunta que nós temos hoje, antes do segundo turno, saber se a extrema direita será capaz, por si só, de ter essa maioria absoluta nas urnas e, portanto, formar um governo, ou se será preciso fazer aliança com a direita chamada republicana. Eu acho que hoje é o ponto principal do debate que está acontecendo nos bastidores", afirma Estrada. 

Para evitar a conquista da maioria absoluta pela extrema direita, candidatos dos partidos de esquerda que compõem a Nova Frente Popular decidiram renunciar à corrida eleitoral em zonas eleitorais a favor de candidatos da coalizão macronista com mais chances de derrotar candidaturas do Reunião Nacional. "Há uma dinâmica eleitoral favorável à extrema direita, mas tudo vai depender realmente se os outros partidos seja do centro, seja de esquerda, terão coragem de desistir nos pleitos onde os seus candidatos chegarem em terceiro lugar para fazer uma frente, uma barragem, para evitar que os candidatos de extrema direita vençam os pleitos no nível local, e que haja uma maioria política para a extrema direita", diz Estrada. 

"Discurso irresponsável" de Macron 

Grande derrotado no 1° turno das eleições legislativas francesas, o presidente Emmanuel Macron se posicionou a favor de apoiar candidatos adversários no segundo turno para barrar a vitória do RN. Uma mensagem tardia, segundo o cientista político da Sciences-Po.   

"Nesses últimos anos, há por parte do presidente Macron e da base aliada dele, um discurso muito irresponsável de tentar demonstrar que a única barragem à extrema direita seriam eles. Só que, na verdade, essa barragem tem que contemplar todos os candidatos, que, enfim, não sejam de extrema direita. Essa mensagem que Emmanuel Macron está tentando passar agora, acho que é um pouquinho tarde", opina. 

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