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Análise: Fala de Lula sobre câmbio passa do ponto e não ajuda governo

do UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/07/2024 11h22

As declarações de Lula sobre a alta do dólar atingem o próprio governo e favorecem especulações no mercado financeiro, analisou o economista André Roncaglia no UOL News desta terça (2).

O presidente afirmou que a alta do dólar preocupa, atribuiu a escalada à especulação e disse que pretende convocar uma reunião para discutir o assunto. Ontem, a moeda americana fechou o dia a R$ 5,652, maior valor no governo Lula.

As falas de Lula já não estão mais ajudando nem a ele próprio e nem ao governo. Realmente, agora passou um pouco do ponto, ainda que compreendamos o direito de o presidente demarcar seu espaço de poder e de tentar apresentar e defender sua agenda. É um ruído que não ajuda o governo e dá ao mercado exatamente aquilo que ele precisa para justificar uma especulação.

A culpa por toda a desvalorização do câmbio não é do presidente Lula. Está longe disso. O que temos hoje é um cenário onde a economia brasileira, que é periférica, tem uma moeda muito líquida. O mercado internacional chama de 'moeda commodity', que é usada pelos especuladores para montar posições, defender-se de incertezas e proteger seus patrimônios. André Roncaglia, economista

Roncaglia explicou que o cenário de incertezas econômicas nos Estados Unidos tem influência decisiva para a desvalorização cambial em todo o mundo. Porém, embora tenham relevância menor dentro deste quadro, as declarações de Lula ajudam a catalisar esse processo no Brasil.

O que acontece em um cenário incerto, como vemos lá fora? Os Estados Unidos estão mantendo sua taxa de juros muito elevada e as de longo prazo, que não são diretamente controladas pelo Banco Central americano, estão subindo de maneira sistemática. O efeito da incerteza fiscal nos EUA faz com que o mundo inteiro perca dólares.

Historicamente, a América Latina é um lugar para o qual os dólares vêm com muita facilidade e saem com uma facilidade ainda maior. Em cenários de incerteza, a volatilidade cambial é mais intensa aqui na nossa região.

O Brasil, particularmente, tem uma comporta mais aberta. No topo de todos esses elementos básicos, as falas de Lula acabam gerando um fator adicional que acaba justificando esse ataque especulativo contra a moeda. México, Colômbia, Chile e Argentina vêm sofrendo esse processo de desvalorização cambial, mas a nossa tem sido mais intensa por conta dessas declarações. André Roncaglia, economista

Sakamoto: Milei xinga Lula pra disfarçar a fome que impôs aos argentinos

Ao chamar Lula de "perfeito dinossauro idiota", o presidente argentino Javier Milei adota uma prática comum ao bolsonarismo e desvia a atenção dos efeitos negativos de seu pacote econômico às camadas mais pobres da população, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto.

Resumidamente, Milei xinga Lula para disfarçar a fome que impôs aos argentinos. O ajuste argentino está vindo em cima da depreciação da qualidade de vida dos trabalhadores. Do jeito como está colocado, o pacote aumenta a taxação sobre classes trabalhadoras e reduz a sobre os ricos. Houve aumento da fome, e os institutos de pesquisa mostram isso.

Esse pacote do Milei pode dar certo e, no final das contas, haver o ajuste das contas públicas. Para que ele funcione, Milei está fazendo algo muito comum do bolsonarismo: fazer macaquices internacionais enquanto ganha tempo para o pacote fazer efeito e para as eleições de meio de termo na Argentina, que podem mudar a relação de forças no Congresso Nacional. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

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