Topo
Notícias

Abrigos para migrantes LGBTQIAPN+ no México aliviam o peso da discriminação

28/06/2024 11h39

Os migrantes LGBTQIAPN+, considerados entre os mais vulneráveis entre os que buscam uma vida melhor nos Estados Unidos, encontram alívio no México em abrigos especialmente criados para protegê-los da discriminação.

Da Cidade do México à cidade fronteiriça de Tijuana, no noroeste do país, ativistas mexicanos acolhem essas pessoas que fugiram de seus países devido à estigmatização e à pobreza, e que sofrem novas agressões de autoridades e criminosos ao longo do caminho.

"Migrar é decidir criar outra vida em outro lugar", diz Victoria Dávila, uma mulher trans de 23 anos que deixou sua Venezuela natal por causa das "situações de risco" que enfrentava diariamente.

"Por exemplo, transfobia, ataques na rua e rejeição de nossas identidades, e até mesmo que não nos dessem trabalho", explica Dávila na Casa Frida, um abrigo na Cidade do México criado em 2020 no auge da pandemia para lidar com o crescente fluxo de migrantes LGBTQIAPN+.

A jovem chegou ao México há cinco meses e, nos últimos dois meses, está morando no abrigo, que tem filiais em Tapachula - a porta de entrada para milhares de migrantes na fronteira sul com a Guatemala - e também na cidade de Monterrey, no norte do país.

Os responsáveis pelo albergue na capital dizem que os migrantes da diversidade são frequentemente vítimas de perseguição, racismo, xenofobia ou exploração sexual e trabalhista.

Victoria, uma artista drag, foi submetida a um empregador mexicano que lhe tirou os documentos e a forçou a fazer trabalho sexual não remunerado.

Por esse motivo, a chegada ao abrigo foi uma redenção, pois ela garante que encontrou "uma família" onde é "acolhida, abraçada, respeitada e validada".

"A Casa Frida é um lugar de paz. Um espaço de liberdade para certas pessoas, para que possam expressar quem realmente são", diz Angélica Guzmán, uma advogada de 24 anos e assistente social do abrigo.

- Morrendo "por ser gay" -

A abertura que ela encontrou na Cidade do México incentivou Victoria a ficar, ao contrário da maioria dos migrantes cujo objetivo são os Estados Unidos.

"A cena drag aqui na Cidade do México é muito boa e muito bem-vinda", ela comemora.

Outros migrantes, como Shirlei Vázquez, uma mulher trans guatemalteca de 27 anos, têm anos de mágoa. 

"Fui vítima de agressão em meu país, me disseram que iam me queimar por ser gay, que iam me bater (...). Eu tinha duas opções: ou morria em meu país ou saía para buscar refúgio", lembra.

Hoje ele está em Tijuana, a poucos passos dos Estados Unidos, na Casa Arcoíris, um espaço criado em 2019 que oferece abrigo, alimentação, atendimento médico e psicológico a migrantes LGBTQIAPN+.

Para Shirlei e outros membros da mesma comunidade, sua passagem pelo México foi marcada pelo medo de policiais e agentes de imigração que os extorquiam, ou pela ameaça de criminosos que abusavam sexualmente deles.

Andrea González, diretora da Casa Arcoíris, lembra que, durante as grandes caravanas de migrantes de 2018, as pessoas LGBTQIAPN+ preferiam se deslocar sozinhas em direção a Tijuana porque eram discriminadas dentro de seu próprio grupo.

"A discriminação também tem um impacto sobre as opções econômicas, sobre as possibilidades que você tem de educação, de acesso a um emprego. Geralmente, em nossa comunidade, a família é a primeira a expulsar você", explica ela.

Um grupo de especialistas da ONU concluiu em 2022 que as vulnerabilidades enfrentadas pelas pessoas LGBTQIAPN+ "são intensificadas por sua condição de migrantes, requerentes de asilo, refugiados ou pessoas deslocadas internamente".

- Construindo um futuro -

Sandy Montoya, uma mulher trans hondurenha de 23 anos, argumenta que a sociedade conservadora da América Central é um lugar de "muita discriminação" contra "meninos e meninas trans".

"Houve várias mortes, e o governo não faz nada para fazer justiça", diz Sandy, que chegou ao abrigo em maio e solicitará asilo humanitário às autoridades dos EUA.

O tempo de espera para receber um pedido de asilo passou de dois para nove meses, de modo que muitos optaram por conseguir empregos em Tijuana.

Enquanto isso, na Cidade do México, Victoria diz que tem "toda a coragem" para construir seu "próprio futuro". "Tenho que mostrar quem sou e que existo, e quem não gosta disso deve olhar para o outro lado".

str-eg/jla/axm/nn/dd

© Agence France-Presse

Notícias