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Dólar cai no Brasil mas se mantém acima de R$5,50, enquanto BC descarta intervir

27/06/2024 17h07

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - Após ter atingido na véspera o maior valor em dois anos e meio, o dólar à vista fechou a quinta-feira em leve baixa ante o real, mas acima dos 5,50 reais, com as cotações ainda refletindo a percepção de aumento do risco fiscal, em um dia em que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou que a instituição não vai intervir no câmbio em função do nível das cotações.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,5083 reais na venda, em baixa de 0,20%, após ter atingido na quarta-feira o maior valor de fechamento desde janeiro de 2022. No mês, a divisa acumula alta de 4,90%.

Às 17h05, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,44%, a 5,5045 reais na venda.

No início do dia o BC divulgou seu Relatório de Inflação, que atualizou algumas projeções econômicas e abordou assuntos específicos ligados à política monetária. Entre os destaques, o BC elevou de 1,9% para 2,3% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 -- ainda abaixo dos 2,5% estimados pelo Ministério da Fazenda.

Além disso, alterou de 48 bilhões para 53 bilhões de dólares o déficit em transações correntes estimado para 2024 e reduziu de 70 bilhões para 65 bilhões de dólares a projeção de Investimentos Diretos no País (IDP).

No fim da manhã, Campos Neto e o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, concederam entrevista coletiva em São Paulo. Nela, Campos Neto pontuou que a alta da Selic, atualmente em 10,50% ao ano, não está no cenário base do BC.

Campos Neto também afirmou que a desvalorização recente do real está em linha com os prêmios de risco do Brasil. Ele também descartou a possibilidade de o BC atuar no mercado em função do nível do dólar.

“Como a gente trata o câmbio como flutuante, entendemos que a atuação tem que ser causada por alguma disfuncionalidade pontual, não fazemos intervenção mirando nenhum tipo de nível”, disse. "A gente acredita no princípio da separação entre política monetária e câmbio", acrescentou Campos Neto.

O viés negativo do dólar no exterior favoreceu algum ajuste de baixa também no Brasil, embora a moeda norte-americana tenha oscilado no território positivo em boa parte da sessão, em meio à percepção de aumento do risco fiscal.

“Há um nítido movimento defensivo do investidor estrangeiro preocupado com o destino das contas públicas. Mesmo com movimentos pontuais de realização, a cotação não está cedendo”, comentou o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo.

Após registrar a cotação mínima de 5,4862 reais (-0,60%) às 9h42, o dólar atingiu a máxima de 5,5401 reais (+0,38%) às 12h32.

O pico do dólar ocorreu enquanto Campos Neto ainda concedia coletiva em São Paulo e pouco antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciar um discurso em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o "Conselhão", em Brasília

Em sua fala, Lula negou que sua entrevista na quarta-feira ao portal UOL tenha estressado os ativos, em especial o dólar.

“Quem apostar no fortalecimento do dólar ante o real vai quebrar a cara", disse o presidente. "Quem apostar em derivativo vai perder dinheiro nesse país."

Na reta final, o dólar retornou para o terreno negativo, favorecido pelo exterior e com investidores se preparando para a disputa em torno da Ptax de fim de mês, na sexta-feira.

Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

Às 17h06, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,12%, a 105,920.

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