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Três anos após volta ao poder dos talibãs, ONU defende retorno do Afeganistão ao cenário internacional

21/06/2024 12h55

Depois de três anos de isolamento, desde que os talibãs voltaram ao poder no Afeganistão, Cabul pode voltar ao cenário internacional. É o que será discutido em Doha no próximo dia 30. À frente de uma coalizão de 25 países, a ONU recebe chefes talibãs no Catar para selar uma nova era de cooperação.

"Hoje vemos claramente que a posição internacional estabelecida há três anos, que foi uma abordagem punitiva e de pressão sobre os talibãs para forçá-los a moderar sua forma de governar, especialmente em termos de direitos humanos e direitos das mulheres, e em termos de contraterrorismo, bem como do ponto de vista da inclusão, não funcionou. Portanto, há uma evolução sendo conduzida, especialmente pelos países da região", explica à RFI Romain Malejacq, da Universidade de Nijmegen, na Holanda. Ele é autor do livro "A sobrevivência dos senhores da guerra: a ilusão da construção de um Estado no Afeganistão", pela universidade de Cornell, nos EUA.

Malejacq explica que as posições mais firmes sobre a linha a seguir com os talibãs vem da França e Alemanha, "que consideram que não se deve normalizar as relações com os talibãs". Ele acrescenta que "há posições muito mais conciliadoras dos países da região, como o Paquistão, Irã, China, os países da Ásia Central e a Rússia, além do Oriente Médio em geral. Entre esses dois extremos, temos a posição americana, que tende cada vez mais a engajar conversações e discussões com os talibãs sobre pontos específicos, especialmente no campo do contraterrorismo".

Sobre os países da região, o especialista em Afeganistão explica que eles têm a intenção de continuar aumentando o comércio com o Afeganistão, com os talibãs, além de fazer investimentos privados. "O Paquistão, até mesmo a Índia, Uzbequistão e a China têm relações comerciais com os talibãs. Mas é muito difícil em um contexto de não reconhecimento internacional."

Poucos meios de pressão

Malejacq explica que a Rússia, como outros países, "tem poucos meios de pressão sobre os talibãs; mas há cooperação nas áreas de segurança, economia e luta contra o terrorismo".

A volta de Cabul às discussões internacionais ainda é uma incógnita, opina o pesquisador. "Por enquanto, não temos certeza absoluta de que eles vão a Doha. De fato, houve comunicações nesse sentido. Eles enviaram várias condições às Nações Unidas para irem a Doha. Isso já havia acontecido para Doha em 2022, mas no último momento, eles decidiram não ir. Vamos ver se realmente há uma mudança." Malejacq lembra que os pontos de discórdia foram que os talibãs recusaram a presença de um enviado especial das Nações Unidas no Afeganistão e que os grupos como os exilados fossem representados em pé de igualdade com os talibãs. 

O pesquisador acredita que haverá poucas concessões por parte das autoridades afegãs. "É importante para os líderes, especialmente para o líder supremo e para aqueles ao seu redor, mostrar unidade dentro do regime. Esta é uma mensagem repetida muitas vezes pelo líder supremo recentemente. Fazer concessões aos estrangeiros, particularmente aos ocidentais, é algo muito complicado para os talibãs."

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