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Renda passiva em ouro: Aura Minerals vai acelerar retorno ao acionista

Kleber Cardoso, CFO Aura Minerals - Foto: Divulgação
Kleber Cardoso, CFO Aura Minerals Imagem: Foto: Divulgação
do UOL

Colunista do UOL

20/06/2024 14h05

Com o preço do ouro e do cobre em alta, uma companhia tende a surfar com a valorização de ações e entregar dividendos robustos nos próximos meses. É a Aura Minerals (AURA33), que vai pagar no dia 9 de julho US$ 25,4 milhões aos acionistas, ou US$ 0,35 por ação. Em reais, são R$ 1,84 por recibo de ação (BDR).

Este dividendo é o maior patamar de remuneração da empresa desde 2021, quando o investidor recebeu US$ 0,83 por papel. Para ter direito ao provento é preciso ter participação acionária na Aura Minerals até o fechamento desta quinta-feira (20). O valor do dividendo é calculado com base nos resultados do 1° trimestre de 2024 e os esperados pela companhia para o 2° trimestre de 2024.

Presente na Bolsa de Valores brasileira desde 2020, a mineradora Aura Minerals tem participação relevante nas Américas com importantes ativos. Nos últimos anos, a companhia desenvolveu projetos e operações em ouro e cobre no Brasil, Honduras e México. Atualmente, cerca de 70% de receita da companhia vem do ouro e 30% do cobre. A receita da Aura Minerals é 100% dolarizada.

O CFO da empresa, Kleber Cardoso, conversou com a coluna e falou dos planos de crescimento e pagamento aos acionistas.

Quanto a empresa cresceu?

No ano, os BDRs AURA33 já subiram 39,06%, enquanto o Ibovespa recuou 11,21%. O dividend yield (retorno em dividendos) nos últimos 12 meses é de 5,49%. Os dados são da Elos Ayta Consultoria. Mas de acordo com a empresa, se consideradas também as recompras de ações, o dividend yield chega a 8,9%.

No ano, a valorização do ouro é de 12,41%. Observando o ouro, por exemplo, o contrato da onça troy para agosto é de US$ 2.344,65 até 19 de junho. Já no cobre, o preço do contrato para julho era de US$ 4,5122 a libra-peso na Comex, divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex).

O dividendo por ação é atrativo. Veja abaixo o histórico de remuneração da empresa:

  • 2021: Dividend yield 10,79%; dividendo por ação R$ 6,55
  • 2022: Dividend yield 3,18%; dividendo por ação R$ 1,46
  • 2023: Dividend yield 6,34%; dividendo por ação R$ 1,92
  • 2024 até junho: Dividend yield 5,49%; dividendo por ação R$ 1,84

Fonte: Elos Ayta Consultoria

A dúvida do mercado é até quando dura esta bonança. A companhia tem um forte plano de investimentos até 2026, e o preço das commodities pode variar.

"Estamos com um crescimento acelerado", diz CFO

Em entrevista à coluna, o CFO conta o que esperar da geração de caixa e remuneração dos acionistas nos próximos anos. Veja a seguir.

Katherine Rivas: O dividendo de US$ 0,35 foi não recorrente ou ainda há espaço para pagamentos elevados nos próximos meses?

Kleber Cardoso, CFO: Se a gente continuar dentro do desempenho esperado e os preços das commodities seguirem ajudando, podemos ter espaço para retornar mais caixa ao acionista. Sempre que tiver geração de caixa em excesso, vamos analisar o retorno ao investidor seja via dividendos extraordinários ou por meio de recompra de ações. Também temos como filosofia não trabalhar com excesso de caixa.

Agora, estamos com um crescimento até bastante acelerado de produção, por meio de novos projetos e esse ciclo vai continuar pelo menos até 2026.

Nós temos três compromissos. O primeiro é com crescimento. O segundo é pagar pelo menos o mínimo de dividendos estabelecido na política em todos os períodos. E o terceiro é que a gente busca não estressar financeiramente a companhia.

Se fala muito de empresas que crescem e companhias que pagam dividendos. Nossa proposta tem sido fazer os dois. Queremos gerar valor para o acionista, crescendo e pagando proventos. Só que precisamos fazer isso de maneira responsável, sem alavancar a companhia.

Nós temos um objetivo de manter a nossa dívida líquida sobre ebitda entre 0 e 1,5 vezes. Atualmente está no patamar de 0,7 vezes. Então apesar de pagar dividendo e estar crescendo, estamos confortáveis.

Você já declarou que o preço do cobre e do ouro caminham para um cenário interessante no 2° semestre. Isso pode se traduzir em pagamento de dividendos robustos?

Então, o preço atual do ouro está a níveis acima do que o primeiro semestre. Então, muito provavelmente, o preço vai ficar acima da média desse período.

Isso, somado a continuidade da produção consistente, os custos no patamar que a gente espera, faz com que a expectativa seja de um segundo semestre forte. E isso pode se traduzir em dividendos ou recompras adicionais.

Como funciona a política e frequência de pagamentos da Aura Minerals?

Estabelecemos a distribuição mínima de 20% do ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) menos o investimento corrente, que gastamos para explorar as minas. Neste investimento (capex) não estão inclusos os novos projetos, que vêm contribuindo com o crescimento da empresa.

Buscamos que esses novos projetos sejam rentáveis, ou seja com taxa interna de retorno bom. Desta forma, não preciso deixar de pagar dividendo, os projetos se pagam sozinhos.

Nossa frequência de pagamento é de duas vezes ao ano, anunciamos e pagamos proventos em junho e dezembro. Os investidores no Brasil recebem alguns dias depois por conta do câmbio.

A Aura Minerals conseguiria sustentar um dividendo elevado se o preço do ouro e o cobre recuarem ou é muito dependente da commodity?

Nós temos aqueles três fatores que te comentei - custo de produção, commodities e alavancagem - então sim podemos ser impactados de forma importante pelo preço do ouro e do cobre.

Mas um ponto importante é que não precisamos do preço do ouro elevado para pagar o mínimo obrigatório. O valor do dividendo cai acompanhando o preço das commodities.

Eu diria que temos um espaço bastante confortável diante do nosso custo de produção e o preço do ouro. Para produzir uma onça de ouro, nós gastamos US$ 1.300 e o preço do ouro está perto dos US$ 2.300. Então o preço teria que cair muito para ter um efeito negativo na companhia. Apesar disso, não teve nenhum semestre em que deixamos de pagar dividendos.

O que podemos esperar da geração de caixa da Aura Minerals nos próximos meses?

Para este ano, seguimos com o negócio recorrente das quatro minas que temos em operação: Aranzazu, San Andres, EPP e Almas. A produção e custos estão muito de acordo com a projeção que passamos para o mercado, nossa expectativa é de consistência. Então deve ser um ano bom para manter os preços dos metais onde estão e o desempenho continuar conforme nossas expectativas.

Em paralelo temos alguns projetos, como Borborema, no Rio Grande do Norte, no qual estamos investindo US$ 188 milhões na construção e a maior parte do investimento está ocorrendo neste ano. As nossas quatro minas existentes estão gerando caixa e parte desta está sendo usada para este projeto.

Quando formos para 2025, o projeto Borborema será finalizado no primeiro trimestre e eu deixarei de gastar dinheiro com ele e será um dos nossos maiores negócios entrando em operação. Então vou passar a ter cinco negócios e a nossa expectativa é que a geração de caixa acelere bastante, em consequência pode se traduzir em dividendos.

Cada novo projeto finalizado fica mais simples, porque tenho mais um ativo gerando caixa.

Isso significa que até 2026 a companhia irá crescer ainda mais e pagar mais do que o dividendo mínimo?

No nosso plano de negócios, a gente teria Aranzazu, San Andres, EPP, Almas, Borborema e Matupá em produção até 2025. E não tenho dúvidas que se o ouro e o cobre permanecerem nesse patamar geraremos caixa em excesso.

A grande questão é se tudo esse caixa vai se traduzir em dividendos, porque temos olhado potenciais alternativas de aquisição para continuar com o crescimento da companhia. Mas estamos fazendo isso com calma, porque não queremos crescer a qualquer custo.

O que eu posso dizer é que quando chegar 2025 e 2026, vamos acelerar o retorno de valor ao acionista. E esse retorno de valor pode ser com novos projetos para crescimento, ou pagando dividendos ou recompras. Mas caso não houver crescimento, esse recurso teria que ir para o acionista.

Como Aura Minerals quer ser posicionar no mercado? Como uma empresa de crescimento ou de dividendos?

Antes de fazer o IPO (abertura de capital), a nossa proposta era de crescer e pagar dividendos. Tínhamos um plano agressivo de crescimento da Aura Minerals, mas não precisávamos esperar este finalizar para poder pagar dividendos aos investidores.

Acho que é legal olhar para o passado e ver como isso vem acontecendo. Se pegar e comparar com outras empresas mineradoras de ouro, nós estamos entre as maiores pagadoras de proventos do mundo. Então eu diria que o objetivo é crescer pagando dividendos, gerando valor para o acionista nestas duas frentes.

É importante ver essa questão da consistência também. O dividendo sempre foi próximo do mínimo, em algumas vezes acima do mínimo, mas nunca veio abaixo do mínimo nestes quatro anos. Mas como que a gente consegue crescer, pagar dividendos e sem se endividar? O segredo é projeto bons que tenham um retorno rápido. Essa é a nossa filosofia financeira.

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