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Pesquisa mostra relação entre poluição e risco cardíaco em moradores de SP

Redução das emissões de veículos é uma das medidas para mitigar o impacto da poluição na saúde pública - Apu Gomes/Folhapress - 27/02/2014
Redução das emissões de veículos é uma das medidas para mitigar o impacto da poluição na saúde pública Imagem: Apu Gomes/Folhapress - 27/02/2014
do UOL

Emilio Sant'anna

Da Agência Fapesp

25/04/2024 11h22

A relação entre viver em uma cidade poluída como São Paulo e doenças pulmonares ou câncer é bem conhecida. Os problemas, no entanto, vão além.

Uma pesquisa inédita aponta que a exposição de longo prazo à poluição atmosférica está diretamente ligada ao aumento dos riscos cardíacos em moradores da capital paulista. Para indivíduos hipertensos, o perigo é maior.

Publicado na revista Environmental Research, o estudo foi realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) com o apoio da Fapesp (projetos 13/21728-2, 16/23129-7 e 19/06435-5).

A investigação mostra que a fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração, está relacionada ao tempo de exposição às partículas de carbono negro, um indicador de poluição atmosférica.

Como o estudo foi feito

Os pesquisadores fizeram a análise das autópsias de 238 pessoas e de dados epidemiológicos para mensurar essa relação.

Eles também entrevistaram familiares das vítimas para recolher informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão.

A partir da observação macroscópica do tecido pulmonar estabeleceram a presença e quantidade da fração de carbono negro nos pulmões.

Amostras de miocárdio revelaram a fração de fibrose cardíaca.

Resultados

Os resultados revelaram associação significativa entre a fração de carbono negro nos pulmões e a fibrose cardíaca nos indivíduos estudados.

Isso significa que, quanto mais tempo uma pessoa é exposta à poluição, maior a probabilidade de desenvolver a fibrose.

"Esse dado ressalta o papel crucial da autópsia na investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças", afirma um dos autores da pesquisa, o patologista e professor da USP Paulo Saldiva.

Além disso, foi constatado que o risco é aumentado para indivíduos hipertensos. Entre eles, a presença do marcador de doenças cardíacas cresce com o aumento da presença do indicador de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes.

Entre os não hipertensos, os maiores riscos foram observados principalmente nos tabagistas.

A hipertensão, ou pressão alta, é uma doença que pode ser silenciosa e não apresentar sintomas. De acordo com o Ministério da Saúde, em dez anos a taxa de mortalidade passou de 11,8 óbitos para 100 mil habitantes, em 2011, para 18,7 em 2021. Cerca de 60% dos idosos que vivem no Brasil têm hipertensão.

Se a hipertensão é silenciosa, a poluição nem sempre está tão à vista de todos. Em alguns casos, no entanto, é possível saber onde ela é mais prejudicial. A exposição à poluição dentro da mesma cidade depende de fatores como hábitos e deslocamentos das pessoas.

"Podemos dizer que existem dois indicadores de poluição, um medido pela rede da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], que é objetivo. E outro relacionado a quanto cada indivíduo é exposto a ela", afirma.

"Ou seja, o nível de concentração de poluição ambiental não significa a mesma dose recebida por todos. Se você está em um corredor de tráfego por horas, recebe uma dose maior porque a concentração daquele ambiente é particularmente mais elevada."

Saldiva explica que diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca e que, agora, fica provado que a poluição é um deles.

"A pergunta era 'a poluição tem tamanho suficiente para aparecer nessa foto?' Ela tem e foi a primeira vez que foi demonstrado no mundo em humanos. Essa é a diferença do trabalho", pontua.

Segundo o médico, o estudo só foi possível graças ao trabalho realizado pelo SVO (Serviço de Verificação de Óbito) na cidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano.

Ele afirma que o apoio da Faculdade de Medicina da USP e da Fapesp, em convênios estabelecidos no passado com o SVO, construiu um vasto conjunto de processos e informações que resultam hoje em novas possibilidades científicas.

A pesquisa da USP fornece evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular e destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal.

A implementação de medidas como a redução das emissões de veículos, o incentivo ao transporte público sustentável na cidade e o incentivo de fontes de energia limpa são estratégias eficazes na mitigação dos impactos da poluição atmosférica na saúde pública.

O artigo Association of pulmonary black carbon accumulation with cardiac fibrosis in residents of Sao Paulo, Brazil pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0013935124002846.

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