Ele acaba com 26 Big Macs em 50 minutos: comer muito e rápido faz mal?
Aos 37 anos, Ricardo Corbucci conta com mais de 4 milhões de inscritos em seu canal no YouTube, no qual, diferente de tantos outros influenciadores, não traz dicas sobre uma rotina fitness. Pelo contrário: ele constantemente impressiona com a quantidade de comida que consegue ingerir em pouquíssimo tempo.
Os chamados "desafios", publicados quase semanalmente no "Corbucci Eats", chocam também pelas calorias. Já foram muitos quilos de rodízio de comida de uma só vez, pratos de feijoada, pizzas, coxinhas de 1 kg em menos de 3 minutos, hot dogs e até hambúrgueres.
Em um dos vídeos, o influenciador come 26 Big Macs (que totalizam cerca de 6 kg de sanduíche) em pouco mais de 50 minutos.
O que também pode ser surpreendente para quem não o conhece, é o fato de Corbucci ter um shape nada obeso e até fazer propaganda de lojas de suplementos.
Por participar de competições de comida pelo menos desde 2017, é claro que o influenciador tem o seus "truques" e preparações: segundo o que já comentou em suas redes, vai à academia cinco vezes por semana, realiza treinos de musculação, mantém seus exames médicos em dia e come muitos vegetais e frutas aquosas horas antes dos desafios para "alargar o estômago".
"Hoje eu estou com fome!", costuma dizer ele ao chegar no restaurante escolhido para o dia do conteúdo, enquanto muitos dos que o assistem se questionam sobre como aquilo é possível e se há riscos.
O que acontece com o corpo de Corbucci durante os "desafios"?
O estômago é um tecido acostumado conforme os estímulos que são dados ao longo da vida, de acordo com Ricardo Rosenfeld, coordenador da Terapia Nutricional Médica da Casa de Saúde São José (SP), o que explica um pouco sobre o costume de quem não consegue comer muito.
Isso porque, embora o metabolismo de cada pessoa não varie muito em seu estado basal, podem haver algumas diferenças entre si, como um ser mais acelerado do que o outro. Isso resultaria em mais disposição, transpiração, maior frequência cardíaca e absorção intestinal, por exemplo.
"É como acontece no caso de atletas que consomem 10 mil calorias por dia. O organismo vai se adaptando a uma alimentação mais intensa. Conteúdos como esses são sensacionalistas e impressionam, mas se tiver um exercício junto, um gasto para o que está sendo ingerido, não muda nada", garante Rosenfeld.
Já no campo mental, Alex Olegário, psiquiatra pelo HUCFF (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), complementa que liberamos dopamina, serotonina, ocitocina e endorfinas em maior ou menor grau durante uma refeição, dependendo do que nos alimentamos.
Por isso o assunto "comer" é satisfatório e chama tanto a atenção, inclusive através de vídeos como os de Corbucci.
"No caso do influenciador, quando come de forma exagerada, principalmente alimentos com grande aporte de carboidratos e gorduras, ele tende a liberar neuroreceptores que são responsáveis por prazer, bem-estar, redução do estresse e sensação de felicidade", explica o psiquiatra.
Para Olegário, é justamente o que pode estar relacionado às compulsões alimentares, visto que o prazer de comer equilibra momentaneamente essa balança para quem possui traumas não resolvidos.
"A mente usa desse mecanismo para buscar o refúgio de alguma dor. Mas, além da saciedade, depois pode gerar culpa e sensação de perda do autocontrole, além de sobrepeso e obesidade", afirma.
Quais os malefícios a longo prazo?
Por mais que Corbucci garanta ir frequentemente a consultas médicas e compensar o hábito com atividades físicas diversas, a situação ainda é uma espécie de corda bamba para o seu corpo.
E para Érico Higino de Carvalho, endocrinologista do Hospital Santa Joana de Recife e presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) de Pernambuco, o costume está bem longe de ser saudável.
"Comer rápido e em grande quantidade nunca é saudável. Até porque a absorção ideal para o corpo, com a sensação correta de saciedade, acontece quando você come e mastiga devagar", diz o profissional.
Por isso, nada de repetir os "desafios" em casa. "O impacto será totalmente negativo para quem não está acostumado ou não faz o necessário para contrapor o exagero. A dilatação gástrica que Corbucci pratica não é possível de início para uma pessoa comum", alerta o nutrólogo Rosenfeld.
É importante ter atenção não somente pelas consequências imediatas —que podem ser diarreia, vômito e outras questões digestivas—, mas também pelas cardiovasculares e metabólicas que existem a longo prazo.
"Muita comida em um corpo altera os níveis de diabetes e colesterol, especialmente devido aos depósitos de gordura. Além disso, também é possível que a libido seja diminuída com o passar do tempo, assim como o testosterona", conclui Carvalho.