Por que o coração de D. Pedro 1º foi separado do corpo e fica em Portugal?
O coração de D. Pedro 1º, o primeiro imperador do Brasil, chegou à Base Aérea de Brasília nesta segunda-feira (22). Durante os próximos quinze dias, ficará em terras brasileiras, em comemoração ao bicentenário da Independência, proclamada pelo antigo imperador. No dia 8 de setembro, retornará para Portugal.
Morto em 24 de setembro de 1834, em Portugal, vítima de uma tuberculose, os restos mortais do imperador brasileiro e do rei português se espalharam entre os dois países que governou.
Coração em Portugal
Antes de morrer, D. Pedro 1º, na época Dom Pedro 4º, em Portugal, redigiu um testamento com um pedido: que seu coração ficasse guardado em Porto, uma das mais importantes cidades portuguesas.
Durante 13 meses, entre agosto de 1832 e setembro de 1833, D. Pedro viveu em Porto, em meio às batalhas da Guerra Civil Portuguesa, que colocou o antigo imperador brasileiro contra o irmão D. Miguel. A história conta que Pedro ficou encantado com a cidade e, portanto, pediu que seu coração ficasse por lá.
O desejo do monarca foi atendido e, desde 1837, seu coração está guardado na capela-mor da Igreja Nossa Senhora da Lapa, em Portugal.
O órgão fica embebido em formol. Para preservar sua estrutura, de 10 em 10 anos é feita uma troca do líquido. São necessárias cinco chaves para abrir o recipiente que o guarda.
A primeira é usada para retirar a placa de metal cravada na porta do monumento, a segunda e a terceira abrem a rede por trás da placa, a quarta abre uma urna e a quinta, uma caixa de madeira, onde há uma espécie de guarda-jóias de prata que guarda o recipiente de vidro com o coração. É tanto cuidado que seis pessoas participam deste procedimento.
Corpo no Brasil
Após morrer em Portugal, vítima de uma tuberculose, Dom Pedro foi enterrado no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Esse é o local em que estão enterrados todos os reis portugueses da linhagem Bragança, que comandou o país entre 1641 e 1910.
O corpo de D. Pedro retornou ao Brasil em 1972, em meio às comemorações dos 150 anos da Independência brasileira. No entanto, uma longa negociação ocorreu para que o desfecho fosse positivo.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a primeira tentativa de trazer o corpo do imperador brasileiro para o país se deu em 1908, quando a recém República tentava estreitar laços diplomáticos com a antiga metrópole. O corpo viria junto com D. Carlos, rei de Portugal, em uma visita oficial. No entanto, o monarca foi assassinado antes da viagem. Os planos do governo brasileiro, então, frustraram.
A segunda tentativa ocorreu em 1922, no centenário da Independência. Entretanto, o governo português não liberou a vinda do corpo do imperador.
Em 1971, um ano antes das comemorações do sesquicentenário, o governo brasileiro, à época em uma ditadura militar, começou a negociar com o governo português, também comandado por um regime militar. Depois de uma extensa negociação, em 1972, o corpo de D. Pedro voltou ao país que proclamou independente.
Atualmente, o corpo do monarca, assim como o de suas duas esposas, está no Monumento da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, às margens do rio Ipiranga. Antes de chegar ao local, que conta com uma Capela Imperial, o corpo de D. Pedro passou por todas as capitais brasileiras.
Túmulo em Lisboa
Após a morte, em 1834, D. Pedro foi enterrado ao lado de outros familiares da dinastia Bragança no Mosteiro de São Vicente de Fora. Mesmo com a vinda da ossada para o Brasil, o túmulo ainda está presente no Mosteiro.
No local, encontram-se os corpos e os corações de outros reis e rainhas portuguesas. Outro túmulo que está vazio é o de D. Pedro 2º, filho de D. Pedro, nascido no Brasil e proclamado imperador com a volta do pai para Portugal. Os restos mortais do segundo imperador estão na Igreja São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.